edu basílio
28/04/2022literatura como transcendência
cinco protagonistas, em três épocas, locais e circunstâncias bem diferentes: anna e omeir (na constantinopla do século XV sob o cerco de invasores), seymour e zeno (em 2020, em uma biblioteca pública nos estados unidos prestes a sofrer um atentado), e konstance (num futuro próximo, após a hecatombe ecológica na terra, em uma nave rumo a um exoplaneta habitável por humanos, e que se vê com a tripulação subitamente acometida por uma doença inexplicável).
o que eles têm em comum? estão todos com os rostos espremidos contra as vidraças de sua própria finitude.
e o que os conecta? a princípio, os resquícios danificados, embora em grande parte ainda legíveis, de uma narrativa ficcional (uma peça? um conto? um proto-romance?) produzida na grécia antiga. adiante, desvelam-se elos novos, alguns dos quais surpreendentes.
com estrutura e ritmo sólidos, o romance presta uma linda homenagem ao poder de transcendência que a literatura possui (felizmente não é necessário explicar isso aos skoobers, que sentem esse poder em suas próprias peles, vísceras e almas). para mim, a leitura foi um gostoso entretenimento. e como tal, acho grandes as chances de que a obra agrade a pessoas de várias faixas etárias -- desde que os mais jovens não pensem estar embarcando em alguma distopia fantástica cheia de magia, e os menos jovens se entreguem à leitura com serenidade e sem pretensões intelectualóides.
sobre o livro físico: se o tamanho da fonte e o espaçamento entre as linhas fossem adequados, e se não houvesse CERCA DE UMA CENTENA DE PÁGINAS total ou quase totalmente em branco, a apresentação do livro seria "normal", e não a de um (falso) calhamaço medonho. e já que tocamos no assunto "edição", registre-se que o papel é de qualidade bem inferior à habitual mesmo para a própria editora. e assim, em minha avaliação pessoal, a edição da intrínseca consegue a façanha de apagar uma estrelinha na nota global de um livro que facilmente faturaria de mim as 5 estrelas -- pela sua qualidade como entretenimento, e sobretudo pela declaração de amor à escrita e à leitura que ele traz.
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