Tay ð· 04/04/2024
"É só dizer que está procurando Jane."
Ao ler a última página de 'Procurando Jane', fui inundada por uma avalanche de emoções e reflexões que desafiaram minhas convicções mais profundas. Este livro não é apenas uma ficção; é uma jornada intensa que mudou fundamentalmente minha perspectiva sobre questões complexas como a maternidade e o direito de escolha.
Ao longo das páginas, somos confrontados com várias experiências maternas, algumas desejadas e outras impostas, algumas celebradas e outras lamentadas. Marshall habilmente nos leva a questionar nossas próprias convicções e preconceitos. Uma citação do livro ecoa em minha mente:
"Todo filho tem que ser desejado, toda mãe tem que querer ser mãe".
Essas palavras mexeram comigo, fazendo-me entender melhor como a maternidade é complexa e reforçando a importância de respeitar as escolhas de cada mulher. Elas destacaram a necessidade de reconhecer a profundidade das experiências individuais na maternidade e a importância de apoiar as mulheres em suas decisões, independentemente das expectativas sociais ou pressões externas.
Para que você possa ter uma visão mais profundamente da história, posso dizer que acompanharemos a jornada de três mulheres extraordinárias - Evelyn, Nancy e Angela - em diferentes momentos da trama. À medida que mergulhamos em suas vidas, somos confrontados com uma tapeçaria de experiências maternas, desde o ardente desejo de ser mãe até as dolorosas batalhas da gravidez indesejada e da adoção.
Queria poder dizer mais sobre a vida delas, mas acredito que qualquer palavra mal colocada poderia se revelar um grande spoiler, o que estragaria a experiência individual do leitor. Mas posso dizer que no ano de 2017, Angela Creighton descobre uma carta que foi posta na caixa postal errada do seu trabalho e decide fazer o possível para encontrar a destinatária após abrir a carta e descobrir a revelação do segredo da família da pessoa a quem a carta se destinava. Sua busca a leva para a Toronto dos anos 1970, quando mulheres destemidas operavam uma rede ilegal de abortos conhecida apenas pelo codinome Jane.
Nesta década, em 1971, vamos conhecer mais da história da médica Evelyn Taylor que, quando adolescente, foi enviada para um abrigo para mulheres “arruinadas” e forçada a entregar seu bebê para adoção. Na vida adulta, ela se junta à Rede Jane, determinada a oferecer a outras mulheres a escolha que nunca teve.
Já nos anos 1980, Nancy Mitchell descobre um segredo chocante sobre sua família e começa a questionar a própria história. Quando engravida sem querer, ela localiza a Rede Jane e se junta à dra. Taylor na organização. Seus segredos, no entanto, nunca deixam de assombrá-la.
A história é narrada em primeira pessoa, contando os pontos de vista de cada uma dessas mulheres, e essas idas e vindas no tempo nos fazem compreender e nos apegar cada vez mais à vida de cada uma dessas personagens e à forma como a vida delas está ligada de forma dolorosamente trágica.
Durante a leitura, vi-me refletindo sobre as intersecções entre saúde pública, religião e autonomia feminina. Vi-me questionando até que ponto a sociedade tem o direito de legislar sobre o corpo das mulheres. Vi-me reconhecendo a importância vital de apoiar as escolhas individuais das mulheres, independentemente de concordarmos com elas ou não.
Eu chorei, eu sorri, eu me arrepiei e poucos livros me causam essa sensação. Poucos livros me fazem soltar um palavrão quando algo inacreditável acontece, me fazem revoltar, me fazem questionar, me fazem falar sozinha e fazer perguntas para ninguém além dos meus próprios pensamentos e mesmo tendo lugar de fala muitas vezes eu não sabia o que falar. Eu não queria me pôr no lugar delas, não queria questionar suas escolhas, eu só queria abraçá-las e dizer que tudo ia ficar bem, que aquela dor ia passar.
Eu me perguntei quantas e quantas mulheres não passam ou passaram por isso. Quantas e quantas não tiveram escolhas. Quantas não foram sequer ouvidas e quantas foram desacreditadas e ridicularizadas mesmo depois de tanto abuso. 'Procurando Jane' me desafiou a questionar minhas próprias crenças e preconceitos, levando-me a uma jornada de autodescoberta e reflexão. Encontrei-me reavaliando minhas opiniões sobre o direito de escolha de outras mulheres e reconhecendo a importância crítica de respeitar suas decisões.
Por fim, é um livro que recomendo fortemente, independente de suas crenças ou convicções. Um dos melhores livros que eu já li, o primeiro favorito de 2024. É uma obra que toca profundamente o coração e desafia as mentes, uma história que vai ficar com você muito tempo depois que a última página for virada.