Cris 22/08/2022
Delinquentes? Detentos? Não! Não consigo vê-los dessa forma.
" - Só quem conhece o próprio inferno consegue entender o valor do paraíso."
'Jovens Delinquentes' é um romance dark nacional sendo o primeiro de uma duologia escrita por Luciana Lima. A história se passa dentro de um reformatório para menores infratores chamado Dozier. Antes de começar essa resenha me recuso a chamar os protagonistas de detentos, para mim, todos ali deveriam ser chamados de pacientes pois estão doentes ( muito doentes!!) e os maiores causadores dos traumas, demônios internos e todo e qualquer distúrbio psicológico causados, são aqueles que mais deveriam amá-los e protegê-los. Foi triste e acima de tudo cruel ver tanto adolescente quebrado e sem nenhuma perspectiva de vida com tão pouca idade.
A história acontece num período de aproximados 30 dias, porém desde o 1? capítulo é notório a avalanche de coisa ruim a se seguir. Ao conhecer a Laura, a Breana, a Delilah, o Ethan e o Dylan pude perceber que cada um ali lida com dores que mais parecem lesões seríssimas esguichando sangue estancadas por simples band-aids. É difícil escolher quem mais sofre uma vez que o ser humano lida com a dor de forma diferente, no entanto, o arco da história se concentra em Laura, Dylan e Ethan.
Digo que o reformatório Dozier é um pesadelo para não chamá-lo de inferno na terra, lá, todos os "detentos" são tratados sem nenhuma humanidade. Diariamente são surrados e altamente medicados a troco de nada, digo até que tudo ali mais se parece com um grande circo de horrores. Laura, Dylan e Ethan são personagens repletos de camadas, Dylan então excede qualquer explicação que eu possa fazer e o caminho pelo qual a autora trilhou me impede de entrar em detalhes pois tudo o que resenha Dylan Bradley é um spoiler, ele não é apenas o estereótipo do bad boy que usa jaqueta de couro e que carrega um passado sombrio nas costas ... é muito mais complexo que isso, assumo que nunca li algo parecido em um livro juvenil. Nunca!
Por se tratar de um romance dark tenha em mente que os gatilhos muito bem expostos podem mexer com pessoas mais sensíveis, eles vão desde maus-tratos a pedofilia. Tendo em vista os avisos de gatilhos, o enredo não fica atrás, praticamente todos os personagens não são narradores confiáveis de suas histórias, de qualquer maneira, é impossível não se envolver, chorar ou no mínimo sentir empatia por eles. Disse aí em cima que me recuso a chamá-los de detentos porque por mais que eles estejam presos naquele lugar, não mereciam estar ali. Eles não são bandidos ou delinquentes como o título diz, esses jovens em sua essência só precisavam de amor, atenção e de terapia para o resto da vida. Esse é o X da questão e o fator predominante que me fez não sentir raiva de suas atitudes e ações.
Embora tenha me envolvido com o enredo e seus personagens, descobri muita coisa antes do plot twist e isso, infelizmente, me atrapalhou um pouco. O que era para me deixar aturdida acabou não deixando, porém, mesmo descobrindo parte das revelações, ainda assim fiquei surpresa com a história do Dylan e Ethan, ainda mais quando a autora decidiu ir por uma vertente completamente diferente do que já vi em livros com essa mesma temática. O arco romântico não me pegou do jeito que queria, achei tudo rápido demais impossibilitando meu coração de amar o casal, claro que isso pode mudar na continuação já que a autora encerra 'Jovens Delinquentes' de uma maneira que, praticamente, te obriga a ler a sequência.
Ainda não sei o que esperar da conclusão da duologia e nem sei quando ela será publicada, entretanto, tenho duas vontades absolutas: a demolição daquele lugar e a prisão dos verdadeiros bandidos. Ao longo dos capítulos fui me encantando por um personagem e ele traz dentro de si a esperança de dias melhores para aqueles jovens. O psiquiatra do lugar é o único que se importa com a saúde mental e física de todos ali, Dr. Willian, a bola tá com você, hein?
Enfim, sem mais delongas indico a leitura àqueles que já estão acostumados a ler livros pesados, obscuros e com conteúdo 18+. Apenas estejam preparados para ler e se esbarrar em pessoas quebradas e que não vão ligar para o tal do politicamente correto, eles perderam tudo para se importar com o certo e o errado, entendem? E não tenham medo da quantidade de páginas, suas quase 700 passam despercebidas quando vão de encontro com a narrativa fluida e envolvente de Luciana Lima.
Leiam e se coloquem na pele dos jovens que aqui descrevi, vocês vão se envolver e se surpreender, podem acreditar.
" - Afinal, no mundo das aparências, posso muito bem ser quem eu quiser. Nele, o passado nunca importa."