Erika 16/01/2024
Impactante e indigesto.
Primeira leitura de 2024. O livro é mais indigesto do que eu esperava.
Temos Chrissie, uma menina rebelde, desajustada que é claramente negligenciada por sua mãe, Eleanor. Ela não tem amor, não tem cuidados, não recebe abraços, não há comida, não há conforto. Para ela, não há nada! O pai é omisso, quase não a vê e não participa em nada do cotidiano dela. Chrissie vive nas redondezas brincando com outras crianças da mesma idade. Até que um dia, ela mata Steven, a criança mais nova do grupo. E depois fica assistindo a mãe e a irmã do menino padecer de dor enquanto a polícia busca o culpado. O que jamais imaginariam é que o responsável pela morte precoce do garoto seria UMA CRIANÇA.
O livro transita entre a Chrissie na infância e ela já adulta sendo chamada de Júlia, depois de ter passado por um reformatório e vivendo com sua filha, Molly. Cada capitulo conta uma parte de sua vida. Ela criança é a parte mais indigesta. Por ela não conhecer o que é carinho, o que é amor e cuidados maternos ela vai sendo tomada pelo ódio, criando uma couraça difícil de ser quebrada. É tomada pela inveja, por não ser como as outras crianças,por não ter o que elas tem. Aqui vemos o quanto amor materno faz falta na vida de uma pessoa. Mas acho que não justifica alguém tornar-se rebelde a ponto de matar. E Chrissie tinha consciência das coisas, mesmo sendo tão nova. Era arredia, briguenta, maldosa, ardilosa. A parte conflitante é que, já adulta, conhecemos uma Chrissie (agora Júlia) tentando um recomeço e tentando não perder o que é mais precioso para ela: Sua filha. Para ela o maior de todos os castigos foi ter uma filha e temer perdê-la. E sentir que o que tirou de outras mães é algo imperdoável e desumano. Por fim, ela vai tentando quebrar o ciclo que teve com sua mãe, e tenta tornar-se uma boa mãe para sua filha. Dar a Molly todo carinho e compreensão que ela jamaisrecebeu da mãe dela. ´
Linda, a amiga desde a infância merece uma medalha. Amiga incondicional. Uma amizade que nem Chrissie merecia. Mas que estava lá sempre compreensiva, acolhedora.
O livro foi inspirado na história real de Mary Bell. Uma leitura que mexe com nosso senso de justiça, de certo e errado e com as consequência das escolhas e dos relacionamentos familiares mal resolvidos. Ficamos caminhando na linha tênue entre compreender ou condenar a personagem o tempo todo. Saber que foi real, torna tudo ainda mais obscuro.
E vocês? Leriam?
Recomendo.