Finotti 06/07/2022
Qual é o seu luto?
"... a imprevisibilidade do que virá depois de perder algo ou alguém é assustadora, e por isso, não existe apenas uma ferramenta para lidar com a tristeza causada pela perda". (p.189)
Através de ensaios, Noguera nos apresenta 12 culturas diferentes e suas diversas formas de encarar a dor da perda. Entre rituais de dança ao levar o caixão em Gana (vide o meme que ficou famoso em 2020), povos originários que enterram seus mortos se alimentando de suas cinzas, o culto aos mortos da cultura mexicana e a aceitação da realidade segundo a ótica chinesa, somos levados a conhecer outras maneiras, que não a nossa, de dizer adeus a quem amamos.
Mas, afinal, o que é o luto? Se muito prolongada, a dor da perda, hoje, pode ser encarada como doença psiquiátrica, mas o autor não concorda com esse diagnóstico:
"O luto não é uma doença, tampouco uma síndrome. É um afeto que envolve emoções, sentimentos e pensamentos". (p.189)
Não vivemos todos em luto, de certa forma? O luto de um emprego perdido, de um amigo que foi morar longe, de um relacionamento que acabou, o luto da infância que passou, da juventude que se esvaiu... Seja qual for o luto, no final das contas, todos nós o vivenciamos em diferentes fases da vida.
Embora haja formas e formas de lidar com a perda, nenhuma cultura normaliza a solidão no momento de dor. Amigos e familiares estão sempre presentes nas tradições e celebrações.
"Para celebrar a fraqueza, devemos compreender que só podemos nutrir amizade com as pessoas com quem podemos dizer que 'não está tudo bem' sem medo. A amizade deve ser baseada na capacidade de compartilhar defeitos e derrotas (...) Na arena do luto, precisamos estar disponíveis, seja no papel de acolher ou receber acolhimento, para nomear a nossa insegurança afetiva".
Qual o seu luto?
Com quem e de que maneira você vivencia sua dor?
É importante não fugir da dor, e igualmente importante é desenvolver a capacidade de não perder-se de si após a perda de algo ou alguém. É desejável que saibamos "...visitar o sentimento de gratidão por cada momento que convivemos com alguém ou algo que perdemos, sem a ilusão de fantasiar uma volta ao passado". (p.195)
Que saibamos, pois, encerrar ciclos e enterrar nossos mortos.