Franci 02/11/2023
Três livros em um, mas só um é bom
Comecei a ler esse livro ainda em 2018.
Temos o primeiro livro, que é uma jornada de herói básica, a gente fica empolgado e investido em ver a Rin fugir de um casamento arranjado para ir estudar na famosa academia do mundo dele. Há parcimônia na construção de mundo, algum apelo na personagem tudo soa promissor.
Depois... Depois a Rin está na academia, fazendo inimizades sem motivo. Eu gosto de rinha de adolescente, que revela a estratificação daquele mundo. Cheios de estereótipos, mas já estivemos aqui antes. O nome do vento fez isso, e muito melhor.
Sim, todo esse cenario escolar lembra muito o Nome do Vento, porque temos até um Elodin, na caracterização do mestre com metodologias excêntricas. E a protagonista segue naquela jornada de ser humilhada e dar a volta por cima, mas tudo feito com tanta pressa, que ninguém consegue mais se conectar a ela.
O que eu senti é que a autora quis tanto ser levada serio, mostrar que Rin era protagonista que não era como todas as outras, que atropelou todas as construção de mundo e de personagem que ela poderia ter aproveitado pra dar mais substância a história.
Há um momento em que Rin tem a menarca, em que além de estranhar ela estudar tanto e não fazer ideia do que estava acontecendo, nós somos convidados a testemunhar ela destruindo o útero com uma cházinho pq nossa atrapalha muito os estudos aff... Sim, haja determinação. Como disse o médico, seria ótimo se todas as mulheres fossem como ela, afinal o que é apego ridículo a um órgão que só serve para dar bebês,ou doença, né? Eu poderia falar de como na ficção as mulheres têm que sempre se despir de algo associado ao seu sexo para ser levada sério, mas a real? É que foi nesse exato momento que percebi que o livro foi escrito por uma adolescente.
Dito e certo, fui na wiki e ela tinha escrito com uns 17 anos.
Daí pra frente, é só pra trás. A guerra chega, horrores acontecem, e em nenhum momento eu consigo respeitar a Rin como a tal™ que ela se propõe a ser e tudo soa mais como uma fanfic histórica, que utiliza todos acontecimentos reais que se inspirou do modo mais desajeitado possível.
Desajeitado não só pelo péssimo gosto de colocar relatos que podem ser encontrados em documentários e matérias sobre o estupro nanquim do modo mais direto possível, como pela audácia de fazer isso através de uma personagem que sumiu por quase toda a trama, e o único momento em que ela foi humanizada, foi pra relatar o abuso que sofreu. Percebam, são pequenas falhas, que juntas deixam o contexto horrível, mal pensado. Eu poderia relevar meu desconforto em como todas as personagens femininas são vilanizadas, e Rin não interage de modo decente com nenhuma delas, a imperatriz caricata cujo poder tem como fonte a sedução, a cuidadora má, ou as interações com a própria Venka, que foi apresentada como uma patricinha mimada, se fosse fatos isolados, mas juntando tudo... Não desce.
Tudo pra não falar das alegorias que a autora usa, visto que todos os países do mundo fictício dela foram inspirados em países reais. Houve uma falta de cuidado, de sensibilidade, que me incomodou, não pela dureza, mas por ser malfeito mesmo.
É a finalidade da história nos mostrar o que seria os horrores reais do massacre nanquim e do experimento da unidade 731, mas todo o meio é sacrificado.
Quando fechei o livro, pensei que com toda certeza ela teria ela teria feito algo muito melhor se tivesse feito esse livro dali a alguns anos. Agora que vi que ela acredita que a Rin é uma representação do Mao... Eu duvido um pouco.
O fato é que voltei a ler, tentando entender meu incomodo, porque a Kuang tem muito potencial, mas a execução nesse livro do que poderiam ser ótimas ideias ficou com deus.
Vamos ver se o segundo livro me dá alguma perspectiva.