Mari Siqueira
24/04/2023Brutal como a guerra que a inspirou, A Guerra da Papoula mistura fantasia e uma parte importante da história chinesa - a Segunda Guerra Sino-Japonesa.
Tendo como base esse conflito que culminou em um massacre histórico, R. F. Kuang constrói uma narrativa única para que essa guerra nunca seja esquecida. Os eventos e elementos que compõem a trama são referências claras ao que aconteceu.
Rin é uma jovem destemida que quer fugir do destino cruel que a aguardava. Para evitar um casamento por conveniência e uma vida miserável, ela estuda arduamente para entrar para o exército Nikara. Enquanto se prepara na Academia, existem rumores de que uma grande guerra está prestes a eclodir.
Acompanhando a estratégia militar chinesa e o treinamento da protagonista, somos inseridos num momento de tensão política. E a fantasia entra justamente para acrescentar a tensão religiosa, as crenças divergentes e o poder que cada uma delas teria.
No entanto, entre a descoberta de um misterioso poder e o medo de perder o controle, ela começa a questionar seus limites. Até onde deveríamos ir numa guerra? Quanto da nossa humanidade deixaremos ir para proteger os nossos? Existe algum senso de justiça na guerra?
O ritmo da narrativa é extremamente lento e as suas primeiras partes do livro podem ser bem maçantes, confesso. O final, no entanto, é espetacular e nos deixa ansiosos pelos próximos volumes dessa trilogia. Algumas cenas são brutais e, infelizmente, aconteceram exatamente assim no passado. É quase como se a autora tivesse envolvido magia no livro para tentar reverter o que aconteceu, uma vez que isso não é possível.
Curiosamente, a papoula que dá título ao livro é a planta de onde se derivam algumas das mais fortes drogas que temos - opiácios como a heroína e a morfina. Uma guerra nada distante e que se encontra hoje além de qualquer domínio. Não estamos em guerra contra outras nações, mas estamos em guerra contra nós mesmos.
R. F. Kuang tem o dom de contar histórias, em especial a do seu próprio povo. É triste, cruel e realista e precisa ser lido para que a História não se repita.
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