lgcorporativo 18/11/2022
A Síria de tom amarelo e o Brasil esverdeado; a amizade e o romance; o real e o mítico são alguns dos lugares físicos e emocionais paralelos no romance de Diego Bercito.
Yacub, o personagem principal, orbita entre esses universos. Um pé no aconchego e na segurança e outro na angústia e nas incertezas.
Uma Síria rural, que vivia a transição de um passado recente sob o domínio francês, é o lugar e o contexto onde se situam Yacub e Brutus, dois amigos de infância.
Brutus, o rosto forte de pele queimada, faz planos de ir ao Brasil, enquanto o jovem sonhador Yacub rejeita o êxodo que esvaziava o vilarejo onde nasceram.
”As casas de pedra eram agora o lar de um vento quente e aprisionado. De um cheiro de terra apodrecida.”
Havia um Yacub motivado por rechaçar os franceses e enaltecer a Síria, que tentava imaginar um futuro promissor, mas também um outro que não conseguia se livrar totalmente da sensação de medo e solidão. “O vazio do futuro o envenenava.”
Num contexto em que o pai era distante e a mãe estava presa a supertições, Brutus representava para Yacub “uma impronunciável certeza de que habitava um mundo mais feliz do que o dos outros”. Lia a tristeza nos olhos do pai e não a queria para si.
Apesar do medo, Yacub sentia-se tentado a mergulhar no improvável em busca de autoconhecimento, dos desejos e de respostas. Queria alcançar o “o ponto do céu em que o sol queimava mais alto”.
E assim, numa virada na narrativa, o protagonista ousa explorar o desconhecido: o Brasil. Movido por um impulso, Yacub apenas foi e se lançou a viver ambições que não eram suas. Tinha a esperança de que a nostalgia do que poderia ser lhe preencheria vazios.
O jovem sírio também reencontrar jinni, o homem-fogo que lhe aparece em sonhos e a quem culpa pelo abismo de uma tristeza insana. Persegui-lo virou uma obsessão enquanto das feridas escorrem melancolia.
“Vejo você chorar de noite, cobrindo a boca com a mão. Vejo você chorar mesmo quando não está chorando. E você não vê que eu também choro.”
O fogo, retratado na capa, para além do ser quimérico, poderia ser a metáfora que queima a paz, os afetos, a ternura e os sonhos de Yacub.
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