Alessandro232 20/09/2022
Um livro que começa bem, mas se perde no meio da trama
"Advogado do diabo" é um livro adaptado do famoso filme protagonizado por um elenco de estrelas, entre eles, Al Pacino. No entanto, a produção cinematográfica e a obra que lhe deu origem são bem diferentes.
O romance de Newman começa bem com um evento sinistro que dá um clima de mistério e suspense a sua trama. Posteriormente, somos apresentados ao protagonista da obra, Kevin Taylor, um ambicioso advogado, que já em início de carreira, demonstra ser hábil em sua profissão. Ele logo é convidado para trabalhar como estagiário em um imenso escritório de advocacia comandado pelo misterioso e carismático John Milton.
É interessante como o autor descreve o ambiente jurídico, com suas várias divisões em uma sofisticada hierarquia de poder. Também chama a atenção o edifício de luxo, no qual o protagonista e sua esposa vão morar, cuja ambientação sobrenatural evoca um clássico do horror: "O Bebê de Rosemary".
Sendo advogado de formação, Newman conhece bem há nas "entrelinhas" dos casos jurídicos. Dentro desse aspecto, ele consegue criar situações bastante verossímeis. No entanto, por outro lado, demonstra inabilidade na caracterização de personagens. Todos eles são bastante planos até mesmo o protagonista é bastante ingênuo e não consegue perceber os perigos que o cercam.
Estes defeitos poderiam ser até desculpados, senão fosse o desfecho, muito diferente do filme que é abrupto e não convence, parecendo um tanto apressado e até mesmo inverossímil.
Talvez, se o autor tivesse elaborado melhor algumas situações, a trama poderia ter ficado mais consistente. Neste aspecto, acho que o filme se sai melhor que o livro, uma vez que desenvolve melhor alguns personagens, a exemplo de Miriam a esposa de Kevin, e, principalmente, John Milton, que tem maior destaque. No livro, Milton é uma figura apagada, um coadjuvante que somente tem alguma relevância na parte final, mas isso é pouco para torna-lo interessante.
"Advogado do diabo" funciona como uma metáfora de como o conceito de "Justiça" pode ser reflexível e ambíguo, de modo a beneficiar aqueles que literalmente estão do lado do Mal. Neste aspecto, a obra propõe uma reflexão, embora um tanto rasa sobre o assunto, o que torna o filme até mesmo mais interessante, uma vez que isso é melhor desenvolvido em seu roteiro. Mesmo assim, acho que vale a leitura, mas sem grandes expectativas.
Sobre a edição: segue o padrão de qualidade da Darkside. Capa dura, folha de guarda chamativa, folhas amarelas e ilustrações em abertura de capítulo.