spoiler visualizarDu Boffo 02/08/2022
?Você é uma escrava no nome, mas nunca na sua cabeça?
Um livro extremamente forte e poderoso, que acompanha a trajetória da jovem Pheby, escrava no nome mas nunca em sua cabeça, e suas dores e suas angústias.
Logo no início descobrimos que Pheby é filha do mestre Jacob, que mesmo não a considerando filha devido a sua cor, ainda têm um cuidado especial para com a progenitora de Ruth. Ruth, almejando a liberdade de Pheby, realiza todos os desejos de seu mestre, causando um grande desconforto com a esposa, sra. Delphina. A prometida carta de alforria viria assim que Pheby completasse 18 anos, mas uma grande trajetória culminou na perda de sua mãe e, consequentemente, na desesperança de um futuro liberto. Ao se ver nas mãos de sua senhora Delphina, Pheby arquitetou a fuga de seu amado Essex para livrá-lo de um provável açoitamento.
A sra. Delphina carregava tanto ódio de Pheby que, ao saber do acidente do mestre Jacob, utilizou de sua influência para vendê-la como uma mera mercadoria. Ao chegar na cadeia do mestre Rubin Lapier, o mesmo se impressionou com a sua beleza e a sua genialidade que a adquiriu para servi-lo pessoalmente. Nesse meio tempo, Pheby descobre a gravidez de seu primeiro filho, o pequeno Monroe.
Pheby, para proteger o seu primogênito, aceita todas as ordens de seu mestre, o Carcereiro. Após anos de convívio na cadeia, Pheby acaba gerando outras crianças oriundas do mestre, mas acaba perdendo o único bebê homem que poderia a vir conquistar o poder do carcereiro num futuro próximo.
Em meio às reviravoltas, o fugitivo mais procurado pelos mestres escravistas é encontrado e levado para a cadeia do Carcereiro. Esse fugitivo, milagrosamente é nada mais nada menos que o amor de Pheby, pai de Monroe, Essex o cuidador do estábulo da antiga fazenda. A sequência de chibatadas foi uma das cenas mais delicadas que já pude ler. A dor transbordava pelas páginas. ?
O reencontro dos dois trouxe uma pitada de esperança em meio a tanto sofrimento. Pheby cuidou de seu amado como pôde, aplicando soníferos no Carcereiro, se escondendo na calada da noite e utilizando dos dons de sua falecida mãe com as ervas medicinais. Após tanta luta e dor, Essex encontrou forças para viver.
As páginas finais, com Pheby arquitetando novamente a fuga de Essex, agora com a companheira de seu filho Monroe, foi de tirar o fôlego. Eu não sei de onde essa mulher tirou tanta força e destreza. Quando eles alcançaram o barco, eu esperava que Pheby também aproveitaria para fugir com a sua família. Mas ela recuou e retornou para as suas filhas, afinal elas também apresentavam um futuro incerto devido às suas condições raciais. Essa escolha de Pheby me incomodou um pouquinho na hora, mas depois eu super entendi que ela fez o correto: salvou o seu filho e retornou para salvar suas filhas. Instinto materno. Colocou a maternidade acima de tudo. Uma atitude 100% correta. ????
Ler essa ficção, baseada em uma história real, é tão chocante. Como as pessoas tiveram coragem de tratar os seus iguais como animais? Isso parece coisa de outro mundo. Eu não consigo entender esse passado, e mesmo o nosso presente repleto de situações racistas, xenofóbicas, homofóbicas e transfóbicas. Somos todos seres humanos, quando iremos aprender isso? O respeito e o amor são as chaves para a mudança.