Douglas | @estacaoimaginaria 27/12/2023
Stephen King é genial!
Pelo menos para mim, essa é uma história bem diferente das que já li do mestre Stephen King. Contudo, é uma aventura espetacular e emocionante, que revela, ainda mais, a incrível capacidade inventiva de King e sua versatilidade.
Nunca pensei que Stephen King seria capaz de escrever uma história fantástica (no sentido fantasiosa mesmo) com toques de suspense, mas ele conseguiu. É uma história encantadora, sobre um jovem que decide ajudar um senhor e, com isso, cai em um mundo de conto de fadas – literalmente. Contudo, de início, tudo aparenta ser uma história de suspense “comum” para King, algo que vai sendo construído aos poucos. Ou seja, as coisas demoram a se desenrolar.
Primeiro, conhecemos Charlie e seu encontro com o sr. Bowditch e a cadela Radar. Óbvio que atendendo as expectativas do leitor, logo se torna uma bela amizade entre os três. Mas é tudo envolto em muito mistérios, principalmente em relação a Bowditch. Até que, junto de Charlie, começamos a entender do que se trata esse conto de fadas. Esse desenvolvimento que acontece junto ao protagonista é uma estratégia interessante e que dá certo.
Mesmo com as coisas se desenrolando devagar, o autor nos envolve na história logo de início, não no aspecto suspense, mas nessa amizade que se forma entre Charlie, Bowditch e Radar. Essa relação entre os três se torna linda aos poucos, mesmo com os mistérios rondando aos poucos eles. É assustadora a capacidade de King em atrair o leitor de maneira tão intensa, de não permitir que ele largue o livro (o que eventualmente se torna quase um martírio).
Ou seja, ele nos envolve numa história, de início, sobre amor e amizade – entre pessoas e animais, claro. É bem emocionante essa primeira parte. Depois, as coisas começam a tomar um outro ritmo, agora mais fantasioso e mais tenso também, com características típicas de King, claro, mas de uma forma mais sutil, eu diria. Aliás, creio que isso seja uma forma de o autor se reinventar – e que deu muito certo.
Os três pontos de vista – encantar, assustar e emocionar – funcionam muito bem juntos nesse livro. Esse misto de sentimentos é o que movimenta a história e torna ela ainda mais viciante. Por exemplo, o amor de Charlie pelo pai é palpável. Eles já sofreram muitas coisas juntos, e Charlie em especial já precisou lidar com muita coisa em relação ao pai. Mas seu amor incondicional é tocante.
Da mesma forma, o amor de Charlie por Radar. É o tipo de sentimento que não apenas emociona, como inspira. E nos mostra como os animais são importantes nas nossas vidas. Charlie só entra de fato nesse conto de fadas por conta de Radar – e isso o impacta de várias formas. Claro que ele também tem curiosidade, assim como o leitor. Mas aquilo que o impulsiona a enfrentar as mais diferentes criaturas e provações é seu amor por Radar.
Já a parte que assusta é presente, mas não tem o protagonismo nessa história. Funciona mais como uma coadjuvante. Óbvio que há momentos tensos e que realmente demonstram a essência de Stephen King. Mas eu vejo esse livro mais como uma aventura, uma fantasia rica, cheia de detalhes, com personagens inspiradores e instigantes e que o transformam numa história plural e representativa.
Mesmo sendo uma história longa, acho que é um romance perfeito para novos leitores de Stephen King. Tem toda a versatilidade do autor, não só do ponto de vista da escrita, mas da criatividade e da sagacidade em criar histórias tão incríveis. Um livro de arrepiar e de emocionar. Acho que é uma justa homenagem aos contos de fadas e às histórias da nossa infância e sobre a importância delas para o desenvolvimento nessa fase.
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