rekizone 11/10/2023
Como (não) escrever um friends to lovers (ou um romance em geral)
Em linhas gerais, Táticas do Amor traz a história de Bree Camden e Nathan Donelson, melhores amigos há bons seis anos. Bree é uma professora de ballet enquanto Nathan é uma estrela do futebol americano, e tudo estaria perfeito na amizade entre os dois se não fosse pelo pequeno fato de que, secretamente, Bree passou os últimos seis anos apaixonada pelo seu melhor amigo. Mais tarde, devido a certos acontecimentos, os dois são forçados a fingir estarem namorando, o que de fato engata o enredo do livro.
Quando eu descobri a premissa de Táticas do Amor, eu pensei que esse livro seria uma leitura divertida. Interessante. Permeada com um pouquinho de angústia e aquele leve sentimento de amor não correspondido que nos deixa em aflição, mas que no final nos recompensa ao mostrar que os sentimentos não eram unilaterais. Mas não; fui decepcionada do começo ao fim, e a leitura se mostrou ser a mais arrastada de toda a minha vida.
Isso porque, primeiramente, Sarah Adams não é boa escritora. Nos Estados Unidos esse livro é classificado como PG-13, o que talvez explique porque a escrita é tão simplista, mas não é apenas da escrita em si que estou falando: Sarah Adams faz longos monólogos no meio de pensamentos de personagens para explicitamente nos contar o que cada um está pensando, como se não tivesse confiança de que seus leitores fossem notar as nuances pelo mero comportamento dos personagens e precisasse soletrar tudo para nós; ao invés de termos explicações sobre o passado em momentos oportunos, logo nos primeiros capítulos temos um "infodumping" de tudo o que aconteceu na vida dos personagens, o que, além de tornar a leitura tediosa, faz com que a pessoa se perca entre o que estava acontecendo antes e o que ela está falando agora sobre o passado; perto do final do livro, a autora simplesmente ficou cortando as cenas em uma tentativa de talvez apressar o final, o que foi... definitivamente uma escolha, apenas não boa.
Cito, ainda, que: acontecimentos que poderiam ter sido revelados mais para o meio/final do livro foram estapeados na cara do leitor logo no começo do livro por causa do POV dual; a "briga" que eles deveriam ter sobre um ponto BASTANTE IMPORTANTE NO COMEÇO DO LIVRO (!!) foi resolvida rapidamente, de maneira insatisfatória e anticlimática; chegou a um ponto em que nem mesmo a autora parecia mais saber qual era a história que estava escrevendo e deixou a falta de comunicação irritante entre os personagens se prolongar muito mais do que seria necessário apenas para deixar o livro mais longo (e, sério, eu AMO falta de comunicação, pois acho um recurso interessante de ser utilizado quando o autor sabe fazer isso bem, em especial quando quer torturar um pouquinho os leitores e os personagens antes do final feliz, mas aqui foi simplesmente pavoroso).
Já no que diz respeito aos personagens... céus, como é possível odiar tanto duas pessoas que sequer existem?
Comecemos por Bree: Bree é uma mulher de quase 30 anos que se comporta de maneira imatura, como se tivesse, na verdade, 13. Ela é a personificação do termo "Pick me" e eu não apreciei nem um pouco quando, no começo do livro, ela aparece na casa do Nathan de manhã quando ele estava com a sua namorada. Não importa que eles não tinham nada sério ou que a garota foi claramente escrita como chata/mimada para fazer Bree parecer melhor em comparação; ela ainda assim estava ultrapassando todos os limites ao se colocar no meio do casal.
Existe uma diferença gritante entre ter uma amizade saudável/platônica com uma pessoa de outro gênero e praticamente agir como se fosse a sua namorada. Digo e repito: se a história fosse contada do ponto de vista da outra menina, todos nós viríamos Bree como inconveniente e odiaríamos o modo como Nathan parecia ligar apenas para ela e não para a sua PRÓPRIA NAMORADA. Mas, como essa é a história dela, creio que devemos achar isso fofo ou algo do tipo.
Assumo que também não consegui gostar de Nathan e da maneira como foi escrito. Primeiro porque os POV's dele parecem exatamente iguais aos de Bree, com a autora se mostrando ser incapaz de estabelecer uma diferença entre a voz dos dois e definir suas personalidades; segundo, porque eu ODEIO o modo como ele parecia microgerenciar a vida da Bree em todos os aspectos. Explico.
Logo no começo do livro, descobrimos que o Nathan estava pagando metade do valor do aluguel do estúdio de dança da Bree (sem ela saber), mesmo com ela dizendo repetidas vezes que não queria que ele fizesse isso. Depois, quando o aluguel dela aumenta novamente, ele vai lá e compra o local sorrateiramente (de novo: sem ela saber ou querer), o que só é revelado por acidente, pois ele não tinha qualquer intenção de assumir o que fez.
E a Bree até que fica irritada no começo, e eu pensei, "Ótimo, ela ao menos está enxergando que o que ele está fazendo reflete de maneira negativa na sua própria autonomia. Nathan está agindo pelas suas costas fazendo algo que seria supostamente romântico, mas na verdade é apenas invasivo já que Bree falou diversas vezes que não queria o dinheiro dele". É nesse momento em que ela também percebe que Nathan interferia em várias outras áreas da vida dela para tornar tudo "melhor" sem ela saber.
Mas o que eu esperava ser uma boa discussão sobre limites se tornou uma série de risadagens com ela perdoando ele facilmente e até chegando a falar, algumas páginas depois, que "Vou ser sincera, é difícil sentir que estou certa em castigá-lo por ser gentil demais. Sei que foi dissimulado, manipulador e mentiroso da parte dele, mas, caramba, também foi tão fofo que quero chorar."
Ah, certo, então apesar de ser DISSIMULADO, MANIPULADOR e MENTIROSO, como você mesma colocou, ainda assim devemos relevar tudo isso e achar fofo. Ok. Claro. Normal.
Enfim. Tenho mais reclamações a fazer, mas esse livro me deu uma dor de cabeça tão grande que eu vou apenas parar por aqui. Francamente, eu deveria ter ganhado um prêmio apenas de conseguir terminá-lo.