Bartleby, o escrivão

Bartleby, o escrivão Herman Melville




Resenhas - Bartleby, o escrivão


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Flávia Menezes 11/02/2024

O LOUCO DE WALL STREET.
?Bartleby ? O Escrivão? é um conto do escritor norte-americano Herman Melville, publicado primeiramente de forma anônima na revista americana Putmam´s Magazine em duas partes, tendo a primeira parte sido divulgada em novembro de 1853, e a sua conclusão em dezembro do mesmo ano.

Neste conto, que apesar de curto é capaz de nos despertar para uma infinidade de reflexões, acompanhamos a história através dos olhos de um narrador cujo nome desconhecemos, mas de quem sabemos se tratar de um advogado sem muitas ambições, que comanda um negócio confortável no qual auxilia homens ricos a lidar com hipotecas e títulos de propriedade, em um escritório localizado no coração do Distrito Financeiro (Wall Street) da cidade que nunca dorme (Nova York).

Para auxiliá-lo em seus trabalhos, esse advogado conta com três funcionários, sendo dois escrivães, um apelidado por Nippers, que sofre de indigestão crônica, e o outro por Turkey, que vive por se embriagar no horário do almoço, e além deles, ainda há o office boy menor de idade chamado por eles por Ginger Nut.

Devido às constantes falhas cometidas por seus empregados, o narrador-advogado se vê pressionado a contratar um terceiro escrivão, e é aí que somos apresentados a Bartleby, um homem reservado e introvertido, que com a sua aparente calma traz a esperança de se tornar o exemplo para os seus indisciplinados Nippers e Turkey.

Porém, toda a fé que o advogado possuía em Bartleby começa a se converter em desilusão, quando, ao precisar do seu novo empregado em atividades que faziam parte da sua rotina de trabalho, recebe a resposta deste de um mero: ?eu prefiro não?.

A indignação era tamanha que seu assombro lhe impediu de sequer tomar qualquer atitude precipitada em relação a insubordinação deste empregado, causando-lhe um efeito inesperado de ao ouvir a sua negativa constante, a cada ordem sua com um apático e direto ?eu prefiro não?, o narrador-advogado sentia até mesmo um certo fascínio, mesclado a confusão. Afinal, como ele podia se negar a fazer algo, quando era pago exatamente para isso? Quando cada pedido do seu chefe era meramente parte das atividades que sua descrição de cargo previa?

Antes de seguir essa linha de raciocínio, gostaria de contextualizar a época em que essa história se passa.

Esse era um período em que Wall Street significava o avanço que os Estados Unidos vivenciavam, com a sua industrialização acelerando o processo de crescimento de um país com seus trens, carros e da eletricidade, em contraponto com o cenário rural, onde os dias pareciam seguir sem grandes alterações, e as famílias, para fugir desta estagnação e ter perspectivas melhores de futuro, deixavam suas raízes simples para ir com suas numerosas famílias tentar a vida nas indústrias do Norte, onde dedicariam cada gota de suor do seu rosto para trazer o sustento para a casa. Já que enriquecer mesmo, isso era algo que permaneceria nas mãos (e nos bolsos!) dos homens de negócio.

Tendo em vista o enredo da história contada por Melville, e esse contexto sócio-histórico, já podemos perceber o conjunto de disfunções aqui contadas, que são exatamente os elementos que concedem a esta trama curta todo o brilhantismo que reside por trás dessas poucas páginas, que com uma narrativa simples, que flui com muita facilidade, nos basta uma única tarde tranquila para fazer essa leitura.

Um advogado sem grandes ambições, com um escritório em Wall Street, que continua insistindo em fechar os olhos para os erros e temperamentos de seus empregados, lembrando que um sofre com sérios problemas de alcoolismo, e o outro com distúrbios gástricos que o deixam sempre de péssimo humor por um período do dia, e ainda um office boy que o pai insistiu para que trabalhasse em seu escritório, embora nem sequer tivesse idade o suficiente, e que acaba por contratar um homem que revela possuir algum tipo de transtorno psicológico (que não há como diagnosticarmos precisamente, por se tratar de um personagem ficcional), nos mostra o tamanho da desestruturação que existe nesse ambiente organizacional.

Por que esse narrador-advogado nunca demitiu seu empregado que bebia durante o horário de expediente (Turkey)? Por que ele ainda insistia em continuar com um empregado de temperamento colérico, que em suas crises entregava um trabalho desleixado (Nippers)? Por que ele aceitou a oferta de um pai para contratar um garoto de apenas doze anos para trabalhar em seu escritório, mesmo não tendo esse garoto qualquer interesse em aprender?

O perfil desse empregador, um homem sem atitudes, sem aquele famoso ?pulso firme?, se contrapõe com o perfil Bartleby, uma vez que com suas constantes recusas insubordinadas, ele é o único que escolhe e se posiciona. Mesmo que essa escolha seja um ?não fazer?.

Em um país onde a competitividade é acirrada, e desde cedo as crianças são condicionadas de que existe apenas um único lugar a se alcançar (o primeiro!), o trabalho se tornou uma obsessão, em que é preciso trabalhar cada vez mais para se ter cada vez mais, e perder o trabalho é o mesmo que perder o significado da vida, como o que ocorreu durante a Grande Depressão, onde o desespero levou a tantos americanos a cometer suicídio.

E é exatamente essa competição desenfreada que causa tantos problemas à saúde mental de uma população, que Melville vem brilhantemente denunciar, colocando exatamente um homem com distúrbios psicológicos para se rebelar contra todo um sistema e decidir pelo seu ?não-fazer?, ao invés do ?dar o sangue? (ou até mesmo a vida!) pelo seu trabalho até a exaustão emocional/psicológica que tantos males causam.

Não tenho como esconder o quanto Bartleby me tocou nesta história. Seu comportamento apático, que escolhe se isolar socialmente (e consequentemente, afetivamente!), para se perder em um mundo estático, que um dia chegará ao fim e lhe proporcionará um fim, é de tocar o coração.

Especialmente quando vemos o quanto seus modos causam tamanho estranhamento no narrador-advogado, por desconhecer o que acontece com ele, e do quanto isso acaba por se tornar mais um atraso na vida de Bartleby do que uma ajuda!

Cada ação tomada por seu chefe, na tentativa de ajudá-lo, no fundo mais o prejudicava do que servia como um estímulo. E isso só mostra o quanto somos despreparados para reconhecer e saber lidar com alguém com qualquer tipo de distúrbio ou até uma deficiência.

Não somos preparados para entender o que nos é diferente. E muito embora hoje em dia seja tão abominado o termo ?normal? ou ?normalidade?, ainda assim, o estranhamento nos faz buscar a semelhança.

Melville, neste conto, é uma resposta a essa nossa ignorância em como lidar com as diversidades da vida, e com o diferente. É uma resposta à nossa negligência à saúde mental. É um grito de objeção a essa competição desenfreada que ainda hoje adoece a população o mundo todo.

Especialmente em ambientes organizacionais (embora particularmente, eu ainda sinta o mesmo no ambiente escolar), percebo que ainda hoje não existe muito preparo para a ocorrência das famosas ?inclusões?, que no final são apenas cumpridas porque as metas que podem até ser obrigatórias, mas que também são revertidas em benefícios às empresas. Ou seja, no final, ao tentar incluir?excluímos cada vez mais.

O quanto temos ainda que aprender!

E sabe quando isso vai acontecer (na minha humilde opinião!)? Quando os estigmas à psicologia reduzir (ou até acabar), e esses profissionais possam de fato realizar os seus trabalhos, e colocar em prática seus conhecimentos, treinando mais e mais pessoas para saber lidar com a inclusão, e com todas as outras doenças emocionais que tanto nos assolam. Porque esses profissionais estão presentes nos quadros de empregados de escolas e empresas. Só não são lhes dado o devido espaço para que façam os seus trabalhos.

Em sua resistência ficcional repleta de simbolismos, Bartleby representa esse real da exclusão que não cessa de denunciar a nossa necessidade de renunciar a semelhança para começar a aceitar as diferenças.
AndrAa58 11/02/2024minha estante
?????? Amiga, suas resenhas são prefácios. Já pensou em escrever prefácios, paratextos, releases, sinopses...?


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Amiga, você é muito boazinha! Que nada! Esse negócio de sinopse é minha maior dificuldade. Ser sucinta não é da minha natureza. ???
Mas resenhar é um exercício gostoso pra pensar no que acabamos de ler, e de poder dizer o que sentimos. Não resisto mais em não fazer.
Mas você é que é boa nas resenhas! Você busca e vai a fundo na história, amiga. Tenho aprendido muito com você!


Regis 11/02/2024minha estante
De Melville só li Moby Dick, gostei muito da resenha e adorei tomar conhecimento desse livro. Parabéns, Flávia! ??


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Regis, vindo de resenhista como você, isso é um elogio pra ganhar o dia! ?
Mas leia sim! É um conto curtinho mas rico demais em reflexões. Eu quero muito ler Moby Dick, Regis. Fico com um pouquinho de receio, pela temática não ser algo que me encante tanto, mas preciso conhecer! Vou até já dar uma ollhadinba na sua resenha. ?


AndrAa58 11/02/2024minha estante
E eu tenho aprendido muito com você ?. Se já gosto das resenhas, imagine como desejo ler mais coisas suas. Em breve será ?.


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Amiga, quero mesmo te mostrar! Será uma honra! ??


Regis 11/02/2024minha estante
Já li "Moby Dick" fãz um bom tempo, Flávia, acho que só escrevi uma breve reflexão sobre o livro, mas pretendo ler ele novamente em uma edição diferente, adoro aventuras marítimas e imagino que lê-lo agora, que acabei de ler "No Coração do Mar" (a verdadeira história da cachalote enfurecida), será uma leitura bem melhor e poderei compreender ou tentar entender de forma mais abrangente a loucura assassina do capitão Ahab.
Ah, e vou ler sim "O Escrivão", já está anotado em minha, pequena, lista interminável. Rsrsrs


Fabio.Nunes 11/02/2024minha estante
Já pensou em escrever livros? Parece até uma escritora pronta... ??
Alou folha de são Paulo, Piauí, globo, bora contratar essa mulher pra fazer colunas literárias.


Craotchky 11/02/2024minha estante
Muito bom saber das discussões que o livro propõe e como elas se inserem no contexto atual.


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Regis, então fazer essa releitura vai ser incrível. Porque se esse é um tema que você gosta?vou ficar de olho esperando, até pra poder ver sua resenha.
E sobre o ?Bartleby?, vai ser bem interessante pra você sentir a diferença da narrativa do Melville nesse para o Moby Dick. Espero que goste! ?


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Ai, Fábio!!! Só você mesmo!!! ?? Estou rindo aqui com isso do ?Piauí?!! ??????
Mas olha quem fala! O dono das resenhas incríveis e que me fazem querer ler tudo! Aliás?esse eu só adiantei de tão instigada que fiquei!! ?
Obrigada, meu querido, pelas palavras gentis de sempre! ?


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Filipe, esse livro me surpreendeu! Não imaginava essas discussões, especialmente essas questões organizacionais, que tanto nos faz refletir sobre o que Melville queria deixar com essa história. Agora até me inspiro a tentar ?Moby Dick?!


Cleber 12/02/2024minha estante
Concordo com os amigos leitores, sua resenha ficou incrível, deveria ser colocada juntamente com o livro. Adorei como contextualizou com a época em que o livro foi escrito. Obrigado pelo conhecimento.????????


Flávia Menezes 12/02/2024minha estante
Cleber, muito obrigada! Fiquei até sem palavras agora! ?
Já fazia tempos que eu queria ler esse livro, e ver o efeito que o livro teve em um amigo, me aguçou ainda mais. E valeu muito a pena, até porque é uma leitura bem rápida. E se me permite , super recomendo a leitura, Cleber. ?


Débora 13/02/2024minha estante
Uau!!!????


Flávia Menezes 13/02/2024minha estante
Débora, obrigada! ??


Vênus_Alice 13/02/2024minha estante
que resenha maravilhosa Flávia, como sempre, vou ter que ler suas indicações. Obrigadaa ?


Flávia Menezes 13/02/2024minha estante
Alice, muito obrigada por essas palavras tão carinhosas. Fizeram meu dia! ?
Mas esses últimos que eu li, e ess aqui do Melville, foram ótimas descobertas. E valeram muito a leitura. Então, tenho certeza de que vai gostar. ?


Talys 17/02/2024minha estante
Amo esse livrinho do Melville!


Flávia Menezes 17/02/2024minha estante
Muito bom mesmo, Talys! ?


Núbia Cortinhas 17/02/2024minha estante
Uauuu!! Que resenha maravilhosa! Um aulão de história e contextualização com a leitura. Amei!! ?????


Flávia Menezes 17/02/2024minha estante
Núbia querida, muito obrigada pelas palavras! Esse é um livro tão curtinho, mas que nos faz refletir tanto? Fico feliz que tenha gostado. Obrigada por sempre vir aqui. Suas palavras sempre me deixam emocionada. ??


Ana Sá 27/03/2024minha estante
Que grata surpresa uma resenha sua bem agora!

Acabei de pegar este livro pra releitura, pois em seguida quero reler "Bartleby e cia", do Vila-Matas... Seu texto foi a melhor forma de entrar no clima! Como sempre, excelente!


Flávia Menezes 27/03/2024minha estante
Amiga, jura? Gostou mesmo?
Puxa que releitura boa. E vou ficar de olho nessa outra leitura que você falou, porque conhecia!
Obrigada, amiga! Pelas palavras! Fizeram a minha noite! ???




Ana Sá 22/04/2024

A dor e a delícia de testemunhar alguém dizendo "não"
Em "Bartleby, o escrivão - uma história de Wall Street" (1853), de Herman Melville, somos apresentados a um copista que, diante de um serviço de escritório bastante mecânico, começa a responder repetida e negativamente às demandas de seu novo patrão: "Prefiro não".

Bartleby levará o "Prefiro não" até as últimas consequências, sem maiores explicações. A partir disso, na leitura e na releitura, experimentei um sentimento ambíguo: até certo ponto da narrativa, senti um prazer em ver Bartleby distribuindo um "não" ao trabalho que até hoje é tão difícil de ser dito; por outro lado, conforme a história se desenrolava, me vi partilhando da angústia do narrador-patrão, pelo estranhamento que essa postura de negação radical à ação (ou essa "potência do não") nos causa. Ou seja, na leitura e na releitura, não fiquei nem um pouco indiferente à provocação de Melville.

O conto é curto, mas esta edição da Antofágica enriquece a obra com textos de apoio excelentes, deixando ainda mais evidente sua atualidade. Bartleby pode nos levar a pensar sobre a melancolia/depressão. Bartleby pode nos levar a pensar sobre a alienação pelo trabalho. Bartleby pode nos assustar, como afirma um desses textos, por sua "resignação pessoal" e "desmobilização política"... Ou seja: breve e dolor, o texto de Melville se revela um palimpsesto de inquietações, mais de um século depois.

Obs.: li o e-book, mas tenho visto elogios aos detalhes da edição da versão impressa também.
Carla.Floores 22/04/2024minha estante
Acabei de ler sobre ele no livro 'Sociedade do Cansaço'. Uau! Coincidência!


Flávia Menezes 22/04/2024minha estante
Leitura fantástica, não é amiga? E muito enriquecedora! Fiquei bem curiosa pra ver essa edição depois dessa sua resenha. ?


Ana Sá 22/04/2024minha estante
Carla, faz todo sentido ele ser citado neste livro! rs


Ana Sá 22/04/2024minha estante
Flávia, os textos são legais... Está liberado no Prime Reading no momento, se vc tiver prime...




Reccanello 07/03/2024

Entre a Alienação e a Liberdade
“Eu preferiria não...” Mesmo escrita há quase 200 anos, a frase dita pelo enigmático Bartleby é um verdadeiro mergulho num universo de ambiguidades e reflexões sobre a tão multifacetada vida moderna. Conquanto não seja o narrador, Bartleby é o personagem principal desta história e, nessa qualidade, torna-se um verdadeiro símbolo representativo de diferentes aspectos da sociedade e do ser humano; em especial, sua recusa em realizar tarefas pode ser vista como uma crítica à mecanização do trabalho e à perda de autonomia do indivíduo, bem como sua insistência em "preferir não" pode ser interpretada como um desejo de romper com as normas sociais opressivas e buscar a própria individualidade através de uma resistência passiva e, aparentemente, pacífica e inócua. Noutro giro, sua figura solitária, recluso em seu canto do escritório, evoca a sensação de isolamento e desconexão que permeia tanto a sociedade moderna quanto a daquela época de início de industrialização.
Por outro lado, ao se analisar a recusa de Bartleby em deixar o escritório, mesmo após a venda do local, surge uma questão importantíssima acerca da sobreposição da liberdade individual ao direito individual de propriedade, pois, embora Bartleby não interfira diretamente no trabalho dos demais, sua presença constante se configura como uma óbvia e indesculpável invasão do espaço privado do novo proprietário, criando uma situação que nos leva a questionar: 1) até que ponto a liberdade individual de Bartleby se sobrepõe ao direito de propriedade do novo dono do escritório?; 2) qual a responsabilidade de Bartleby em respeitar o espaço e os direitos do próximo?; e 3) é possível conciliar o desejo de liberdade com a necessidade de reconhecer e respeitar os direitos dos outros?
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Permeada por um tom melancólico e irônico, a narrativa do autor tece uma espécie de labirinto sem centro onde as certezas se dissolvem e as interpretações se multiplicam. O estilo preciso e elegante esconde uma teia de simbolismos e ambiguidades, convidando-nos a uma leitura atenta e crítica, com a divisão em capítulos curtos e fragmentados refletindo a própria fragmentação do personagem e, talvez, da sociedade em que ele vive.
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Enfim, publicado em 1853, "Bartleby, o Escrivão" se mantém como um clássico atemporal, uma obra complexa e instigante capaz de dialogar com as inquietações do homem contemporâneo sobre o trabalho, a liberdade, a alienação e o sentido da vida; o livro nos leva a questionar o sentido do trabalho, a busca pela liberdade individual e o papel do indivíduo em uma sociedade cada vez mais massificada, e a análise do "propalado desejo de liberdade" de Bartleby e suas implicações na esfera da propriedade privada enriquece ainda mais a leitura, fazendo com que questionemos nossas próprias e mais arraigadas convicções.
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Carla Maria 27/04/2023

Um livro que toca o coração
Deixa eu aproveitar enquanto minha mente está fresquíssima, porque o que acabei de ler, é algo que não se pode deixar para depois. E aí está, o mais que real, Bartleby. Um cara que vai despertar todo tipo de sentimento. Raiva, incredulidade, pena, tristeza, e por aí vai. Mas o que temos nessa história, não é apenas o fato de um escrivão se recusar a realizar seus afazeres de funcionário, mas sim algo muito maior, que vem crescendo cada vez mais com o passar do tempo. A depressão. Sim, esse mal que vem atropelando sem dó e nem piedade. Independentemente da classe social ou da vida que se leva, ela chega e te consome até o fim. E não é diferente em Bartleby, O Escrivão. O personagem principal, que também leva o nome do livro, Bartleby, no início da história se mostra uma pessoa totalmente dinâmica, mas com o passar dos dias, um lado quieto e apático vem a tona. Com isso, todos a sua volta se sentem incomodados, mas não conseguem enxergar o tamanho do problema enfrentado por aquele que fora destroçado por dentro. O fato é que, Bartleby existe e pode ser um familiar ou até mesmo aquele colega de trabalho, ou pior, pode ser você.
Um livro que toca o coração.
Mas não pense que essa obra foi feita para todos os tipos de leitores, porque não foi. Nem todos entenderão a grandiosidade dessa obra.
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Helly 18/03/2023

Desperta uma verdade que está maquiada, abre nossos olhos. A última vez que senti isso foi quando ouvi Construção do Chico Buarque e Eleanor Rigby dos Beatles. Acho que eles estavam sentindo a mesma coisa que eu agora, quando escreveram essas. O autor narra bem demais, é prazeroso, dá sempre um gosto de quero mais. Acho que Melville e Machado têm isso em comum.
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lariramon 09/03/2023

Belo, desconcertante e triste
Confrontado por um sistema que não pode derrotar, mas ao qual não deseja servir, Bartleby exerce a liberdade corajosa e profunda de dizer não, ele opta por negar-se a qualquer tipo de compromisso.
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Fabio.Nunes 11/02/2024

Prefiro não
Bartleby, o escrivão - Herman Melville
Editora: Antofágica, 2023


Sabe aquele livro curtinho, que você lê bem rápido, com uma escrita fluida mas que não causa grande impacto à primeira vista? Sabe aquela obra que somente após finalizada vai se agigantando e mostrando que um texto curto pode gerar reflexões muito maiores? Isto é o que Herman Melville nos oferece com Bartleby, o escrivão ? uma história de Wall Street.
Um livro narrado por um advogado nova-iorquino, com escritório em Wall Street, em meados do século XIX, necessitado de contratar um novo copista para consecução de seus negócios em expansão.
Nesse instante somos apresentados a Bartleby, descrito como:

?palidamente limpo, tristemente respeitável, incuravelmente desamparado! Era Bartleby.?

O trabalho, como se pode imaginar, era comparável ao de uma máquina ? meramente copiar e revisar textos, sem quaisquer necessidades de intervenções criativas. Uma prisão de insipidez. Um trabalho anódino pelo qual inicialmente Bartleby passa a ser elogiado e exaltado. Não pode passar despercebido pelo leitor que aqui nosso personagem possui uma débil vitalidade, porém sem presença.

A história avança e de repente nosso copista passa a expressar o porquê de ser tão conhecido na literatura ao replicar ?prefiro não? para toda e qualquer solicitação apresentada por seu chefe.
Recusando-se à ação, apresentando-se cada vez mais inerte, passa a ficar imóvel, silencioso, contemplando um muro externo próximo à sua mesa de trabalho (?dead wall reveries?).
Assim, acompanhamos a perda de vitalidade de nosso protagonista, exaurido pela pura alienação de um trabalho insignificante e de uma vida sem propósitos.
Paro aqui a descrição da história para não apresentar spoilers, mas sigo com algumas considerações:

- Melville apresenta uma crítica ao trabalho no capitalismo especulativo em forte ascensão, e o faz com um personagem em total abatimento, imóvel diante de um muro ? não à toa a trama se desenrola em Wall Street.
- A alienação pelo trabalho, como hoje se sabe, é fonte de adoecimentos mentais, como depressão, burnout, ansiedade? Nosso protagonista claramente sofre do primeiro, de forma que sua apatia gera empatia no leitor.
- Seus dois colegas de trabalho (também copistas) diferenciam-se de Bartleby por apresentarem personalidades idiossincráticas, provavelmente estratégias psicológicas de sobrevivência diante da mediocridade da própria vida. Entretanto, neles vejo uma característica conformista - apesar de expressarem certa vitalidade, o fazem para perpetuar a banalidade de suas próprias vidas. Enquanto Bartleby, ainda que desvitalizado, decide expressar sua potência por meio da negativa à ação. Resistência por meio da negativa, expressão da pura potência da vontade, ainda que de forma trágica.
- Seria aceitável viver numa sociedade do desempenho, de trabalho precarizado, que gera uma epidemia de enfermidades psíquicas? É adequado se conformar com uma realidade que, em nome de uma torta filosofia do trabalho, aliena e retira dos indivíduos o que há neles de mais humano?

?Ah, a alegria corteja a luz, e pensamos que o mundo é feliz; mas a tristeza se esconde, distante, e achamos que não há infelicidade.?
AndrAa58 11/02/2024minha estante
Sabe aquela curiosidade que faz você ler a resenha do amigo, sem pretensão, apenas para saber o que anda lendo e o que achou do livro? Sabe aquela resenha que te aguça a curiosidade e faz você aumentar ainda mais a sua lista interminável de livros? Isso é o efeito que Fábio Nunes tem sobre os leitores de suas resenhas - não somos capazes de resistir à tentação. ??


Fabio.Nunes 11/02/2024minha estante
Andrea!!! Sabe qnd pessoas de sensibilidade diferenciada fazem comentários que enrubecem os amigos? Obrigado minha querida.


Flávia Menezes 11/02/2024minha estante
Aaaah que resenha incrível! Você escreve de uma forma tão mais erudita, mas que não peca em nada na emoção. Essa história é tanta curta, mas você tem razão: causa impacto até porque, de certa forma, ela faz parte da vida de todos nós. Basta ser adulto e iniciar sua vida profissional.
Parabéns pela resenha, Fábio! Deu aula agora! ??
Obs.: só li a sua depois de ter acabado a minha! Senão não conseguiria fazer não! Que fantástica ficou a sua resenha!!


Fabio.Nunes 11/02/2024minha estante
Ah Flávia, vc tb viu! Rsrs. Eu é que nem ia esperar vc publicar a sua antes da minha. Obrigado pelo carinho de sempre.


Regis 11/02/2024minha estante
Acabei de conhecer esse livro através da ótima resenha da Flávia e agora venho aqui e encontro outra preciosidade. Parabéns, Fábio, sua resenha está maravilhosa! ??????


Fabio.Nunes 11/02/2024minha estante
Regis querida, grande abraço e obrigado pelo exagero! Rsrs


Craotchky 11/02/2024minha estante
As críticas e as reflexões fomentadas por elas parecem ser muito pertinentes até hoje. Soa como um alerta....


Max 12/02/2024minha estante
Fábio, ótima resenha, como sempre! Colocando na lista... beep?


Fabio 13/02/2024minha estante
Fabão, meu brother!
Que resenha!???
Com toda certeza, vou le-lô!




VivianRayna 25/03/2024

Ah, humanidade!
Acabei de ler esse livro, não faz nem 1 minuto. Não sei se estou muito sensível, mas ele me tocou profundamente. Bartleby é o fiel retrato de um mundo vazio em sentido, em propósito. Onde se perde a individualidade e o prazer nas coisas pela busca da subsistência. Tentando conquistar os meios para viver e deixando escapar a própria vida. Uma sociedade não só cansada fisicamente, mas exausta emocionalmente. Vazia. E como podemos nos ajudar? Como podemos salvar a humanidade, as centenas de Bartleby? Creio que existe um bom e verdadeiro Alvo; encontrei Propósito e Descanso em Jesus.
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moacircaetano 01/04/2024

A leitura deste conto é estranha, intrigante e desconfortável, como o é a figura de Bartleby.
Escrito no inicio do século 19, a estória é assustadoramente atual, com as "ruas de paredes" de Wall Street dando lugar aos "espelhos negros" das.nossas telas de computadores, celulares e que tais.
O preferir não fazer se veste da nossa moderna e triste procrastinação depressiva, e no entanto, ao contrário de Bartleby, não temos escolha.
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Bru 29/03/2024

Bartleby é um homem conhecido por seus colegas de serviço por ser um homem excêntrico e estranho, e lendo as resenhas aqui do skoob, pude ver que a história é um pouco aberta a diversas interpretações, e a minha é a seguinte:

Quando vi a recusa e o comportamento do Bartleby, a primeira coisa que pensei foi "imagina alguém falando assim com um chefe, com certeza seria demitido" e isso é um reflexo da nossa sociedade, em que quem está na base do serviço deve apenas abaixar a cabeça e seguir as ordens cegamente.

Outro ponto que percebi foi o desamparo que pessoas "apáticas" vivem. Apesar de tentarmos cada vez mais debater doenças psicológicas, ainda vivemos uma realidade em que as pessoas que precisam de um suporte encontram apenas muito julgamento e pouca ajuda.

Acredito que essa edição da intrínseca deixou a experiência ainda melhor, que livro lindo e fácil de ler.
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Fraoliveira180 13/03/2023

Um livro que vai tratar, em minha opinião, sobre a depressão em seu estágio desconhecido psicologicamente no século passado.
O protagonista é uma pessoa complexa com hábitos estranhos que remete a um estado um entanto quanto Avançado de depressão.
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Dango Yoshio 12/02/2023

Prefiro não
Existem muitos Bartlebys por aí.

Podemos ficar tão mergulhados na lógica de produção e produtividade que acabamos nos tornando máquinas repetindo a mesma ação, assim como Bartleby datilografando os documentos incessantemente. E a não-ação, preferir não fazer, pode ser um ato de rebeldia, mas também estagnação, tudo perde o sentido e nos tornamos a janela que dá vista pra uma parede.

Li em ebook, então não pude ver como ficou o texto datilografado manualmente. E como sempre, os textos de apoio das edições da Antofágica agregam demais!
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eliabxanca 04/02/2024

A obra de Herman Melville destaca-se pela potência do ato de dizer não. O enredo, narrado por um advogado que emprega Bartleby como escrivão, instigou minha reflexão profunda sobre a recusa e o impacto desconcertante de um simples "prefiro não", principalmente em um contexto social que valoriza a proatividade como o nosso. Além disso, Melville explora a alienação, a resistência passiva no ambiente de trabalho e a natureza da obediência. A narrativa é, sem dúvida, provocativa e enigmática.
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Cesar Garcia 07/03/2024

Uma leitura impactante
Bartleby é um personagem enigmático e que nos faz refletir sobre os nossos tempos modernos e a importância do auto cuidado.
Trabalhando e vivendo de forma mecânica, sem ter a compreensão dos seus colegas de trabalho, a história do protagonista é impactante e nos faz refletir sobre trabalho, solidão e saúde mental.
Um livro muito atual.
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