Márcia 04/05/2024
Amanhã, Amanhã E Ainda Outro Amanhã: mais do que jogos.
Nada me traz tanta euforia do que a possibilidade de um livro novo. Foi assim com ?Amanhã, Amanhã E Ainda Outro Amanhã?. Alguém na internet deu a dica, não me lembro quem, fui pega pelo título e o livro chegou, sem grandes pesquisas da minha parte. Confesso que me decepcionei quando vi que a trama girava em torno de jogos de vídeo games. Nunca gostei de vídeo games, por isso, até a metade do livro, tive dificuldade de me engajar. A trama é lenta, já que acompanha o processo criativo dos personagens, há discussões mais técnicas sobre programação e a passagem do tempo é bem gradual e isso contribuiu para o meu não-engajamento.
Porém, leitor que é leitor insiste, ainda mais em se tratando de um livro que é best-seller do New York Times e está em processo de adaptação para o cinema: insistindo mais um pouco, somos recompensados com um livro profundo sobre relações humanas e sentimentos intensos. Na história tem de tudo: deficiência física, tema abordado de modo ambientado e contextualizado; relações abusivas por meio da personagem Sadie e sua dependência emocional em relação a um professor mais velho; atentados e o perigo do acesso às armas e as consequências letais dessa política; relacionamentos homoafetivos e a injustiça envolvendo a impossibilidade de casamentos na Califórnia entre casais do mesmo sexo; depressão e saúde mental, entre outras questões, todas elas enleadas no enredo ou como características dos personagens e, ainda, sendo colocadas de forma verossímil e séria.
Bom, a leitura começa como um livro que eu mal tinha vontade de pegar pra ler, mas, aos poucos, fui me apaixonando pela relação de amizade entre Sadie e Sam por aproximadamente 30 anos, desde o primeiro contato na infância, quando um jogo de videogame selou a amizade entre ambos, em um ambiente inesperado de um hospital, até eles se reencontram e iniciarem o processo de criação de um game que os levaria a uma jornada de sucesso: Ichigo.
No final, levei mais em consideração que o livro usa o universo dos jogos pra levantar questões sobre a imprevisibilidade da vida, sobre as mudanças de percurso e sobre a força de recomeçar. E valeu a pena a insistência em lê-lo.