Resenhas - Dor Fantasma

V_______ 26/04/2023

O zelo exige rigor
Rômulo Castelo é um pianista, um dos maiores intérpretes de Franz Liszt, preste a se tornar o maior com a apresentação de Rondeau Fantastique, a obra de Liszt ao qual vem se dedicando sua vida toda, de forma obcecada, nada menos que a excelência é o que pode aceitar, o que exige extremo rigor. Rômulo vive para a música, que negligência tudo mais ao seu redor, filho, esposa, pai, alunos e companheiros de trabalho, sua arrogância é também que nada é ninguém estão a sua altura, mas um acidente está prestes a pôr seu mundo em xeque.
De forma magistral Rafael Gallo, autor paulista, entrega um dos personagens mais marcante que li na literatura contemporânea, não a toa foi agraciado com o Prêmio José Saramago. O livro não perde seu ritmo em momento algum, dê forma a prender e chocar o leitor até suas últimas páginas.
Dor Fantasma já se tornou minha melhor leitura do ano até aqui, e não tenho medo em afirmar que é uma das melhores do ano.

ElisaCazorla 21/04/2023

Primeira decepção com um prêmio José Saramago
Uma vez fiz uma resenha aqui e o autor leu a resenha. A resenha era positiva então fiquei feliz. Agora, me deparo com um certo medo de escrever o que senti lendo este livro porque corro o risco de ser lida pelo autor e o que tenho pra falar não é positivo. Se o autor estiver lendo isso aqui, quero dizer que tenho muito respeito por sua obra e estou ansiosa por sua visita ao clube de leitura que pertenço, mas infelizmente preciso apontar o que considero pontos fracos do livro. Sei que é mais fácil criticar do que criar. Mas esse é um dos prazeres de ser leitora e obrigada a você por escrever!
Enfim, espero estar segura. Vamos lá!
Primeira coisa que me chamou a atenção é o narrador. Eu gosto, até mesmo prefiro, narradores em terceira pessoa. Eles são oniscientes e confiáveis. Gosto desse narrador porque, geralmente, ele joga luz em vários personagens a partir de diferentes perspectivas. Aqui nós temos um narrador em terceira pessoa que divide espaço com um fluxo de consciência do protagonista. Gostei disso! O interessante é que este narrador não tem nada de onisciente e nem de confiável. Ele parece descrever apenas a perspectiva do protagonista. Só explicita o que o protagonista sente e apenas apresenta o ponto de vista do personagem principal, o que é bastante limitador. É como ter um livro narrado em terceira pessoa mas com todas as "limitações" do narrador-personagem. Acho que pela primeira vez me deparo com um narrador universal que de universal não tem nada. Um narrador onisciente que só tem consciência da mente do protagonista. Um narrador em terceira pessoa nada confiável. Isso é bom pra pensar. O narrador foi algo bizarro mas não necessariamente ruim. Gostei desse estranhamento.
Dito isso, vamos para a história em si, que começa bem! Eu fiquei presa no livro do começo ao fim. A narrativa nos faz entrar no livro e queremos saber o que vai acontecer a seguir. O problema da obra está na construção dos personagens, da mente dos personagens.
Tive muita dificuldade para acreditar em todos os personagens principais. Eles agem de uma forma tão esdrúxula que o que o autor narra como trágico é risível. Beira o ridículo. O pior de todos é o protagonista.
Rômulo Castelo é detestável. Isso não se discute. Mas suas atitudes são tão exageradamente violentas e tão intransigentes que são incoerentes com tudo o que ele vive ou diz acreditar. Mas não estou falando de uma incoerência que todos sofremos. Não! É algo tão absurdo que impede qualquer tipo de conexão com o personagem. Em determinado momento, ler o personagem é um completo enfado. Para exemplificar, um personagem obcecado pela perfeição, extremamente controlador e absolutamente regido pelas regras mas que desrespeita todas as regras. Alguém tão obcecado por procedimentos, pela aparência e excelência não teria rompantes públicos de total falta de controle. Mas se, por outro lado, toda essa obceção pela perfeição é só superficial, então a vida pessoal e íntima do personagem é incoerente. Enfim, não é passível de qualquer empatia por ser muito desconectado da realidade.
Realidade essa que o autor quer nos convencer mas que não nos dá qualquer pista da história desse personagem. Achei isso um outro problema sério na obra. Um protagonista tão exageradamente polêmico e difícil exige contextualização, história. Não sabemos praticamente nada desse personagem, seus traumas, sua infância. O narrador onisciente deveria ter feito isso, mas ele só repete o que é real e verdade para o personagem. É repetitivo e cansativo.
Rômulo Castelo é um personagem muito enfadonho que não consegue a rendenção. Sabemos nada sobre sua vida e tudo o que poderia ter acontecido para explicar sua personalidade e suas atitudes.
Essas lacunas vêm num crescente durante a leitura que culmina num ápice sofrível e nada crível, de uma violência tão absurda e descontrolada totalmente desvinculada de qualquer coerência.
Talvez a única coisa coerente nos personagens sejam essa total incoerência.
A cena de violência contra o próprio filho é tão absurda que não senti nada, exceto frustração. O diálogo dele com a mulher sobre a violência é risível! Como é possível uma mãe assitir o filho ser esmurrado pelo pai a ponto de ter dentes sendo despedaçados e seu rosto desfigurado e ainda perguntar para o agressor, chamando de PAI, "diga se você ama o seu filho ou não, eu preciso ouvir isso de você." Risível.
O desfecho é sem graça e deixa diversas lacunas.
Enfim, poderia ter sido mas não foi. Achei que o livro iria focar no relacionamento do pai amputado com o filho deficiente e seria permeado de lembranças da infância e dos traumas com o próprio pai, mas nada disso. Perdeu-se em salas de universidade, agressões contra alunos e o destilar do ódio e desdém por muitos personagens figurantes.
Muito tempo foi gasto com personagens secundários e nada foi focado nos principais. Faltou muita coisa. Lacunas e mais lacunas. Nada se conecta e a leitora aqui se frustra. Uma pena.
É a primeira vez que me decepciono com uma obra vencedora do prêmio José Saramago.

henriqueeeex 27/03/2024

Amor, perfeição & coisas da vida
É um excelente livro, com uma leitura bastante gostosa, envolvente e emocionante.
A história é conduzida de uma forma incrível que nos faz emocionar em certos momentos da história.

Uma busca incansável pela perfeição mas, a vida é inconstante e volúvel que muda o tempo todo que faz com que essa perfeição as vezes nunca exista.

Recomendo bastante o livro.

Leila 30/04/2023

Vamos lá para mais um texto difícil de fazer, rs. Dor fantasma tem sido o livro sensação do momento e pelo menos 11 de 10 resenhas pela internet estão elogiando a obra. Vários amigos queridos leram o livro e amaram também, mass....Eu, Leilinha, sou chatinha e encontrei vários furos na narrativa e isso prejudicou eu comprar a história como a maioria. Não me entendam mal, até gostei do livro, não achei de todo ruim, mas também não achei essa coca-cola toda não. Porém, contudo entretanto, tiro o chapéu para o autor que soube criar um personagem dos mais odiosos dos últimos tempos (com algumas incongruências também na construção do personagem, mas tá valendo!). Senhor! esse Rômulo pode ganhar a medalha de ouro de crápula honrosamente, rsrsrs. Pior de tudo é saber que existem andando por aí algumas pessoas tão odiosas quanto...triste realidade. Legal a sacada da "música intocável de Liszt" e gostei também de conhecer toda a rotina e sacrifício de músicos de excelência, afinal é algo totalmente fora do meu entorno e conhecimento. No mais, deixarei vocês descobrirem por si mesmos, inclusive os sustos que eu tive ao ler a obra, os atos absurdos desse personagem execrável. Enfim, agora que já fui excomungada por quem se dignou a ler esse breve texto quase difamatório sobre um queridinho da maioria, vou me retirar antes das pedradas me atingirem.

Fabi 14/11/2023

Completo! Tem muita descrição e o autor trabalhou duro caso não tenha formação em música. Tem suspense, amor, raiva, b.os.
Justifica o prêmio que recebeu.
Às vezes sentia dó, outras, raiva do Romulo. Quando eu esperava uma redenção, ele ia lá e estragava tudo. Doente. Triste.

Gilmara 23/09/2023

Simplesmente incrível
Sabia que seria bom pela capa, a leitura foi rápida, pode se arrastar um pouco as vezes, mas sempre termina com uma bomba gigante o que te faz querer continuar.
É incrível como (particularmente) sempre penso na redenção, na salvação, no ?ele vai mudar?, acho que somos de certa forma levados a pensar que esse livro vai entregar uma coisa diferente, mas não vai. Isso que foi incrível, você apenas aceita.
Honestamente não esperava tanta reação a leitura, aconteceram momentos que eu quase joguei esse livro fora de tanta raiva. São muitas camadas, quanto mais entrei na história pude entender o motivo para tanto rigor e exigência.
Sinceramente, leitura maravilhosa!

Juliana1577 21/08/2023

"E a vida, esse contínuo exílio forçado"
Rafael escreve muito bem! Escrita fluída e leve.
Partindo ao desfecho, fui tomada por muita apreensão e curiosidade pelo ato final de Rômulo, por assim dizer... afinal, veríamos a sua redenção? Sem spoilers, digo que me emocionei.
De modo geral, achei uma leitura interessante e agradável devido a boa escrita.

Ju Harue 07/05/2024

Com certeza a escrita é excelente, porque para capturar atenção e nos fazer ler até o fim a história de um personagem odiável, somente sendo um grande escritor. A escolha do final, mexeu comigo e ainda estou refletindo, mas o percurso até lá foi incrível.

N.ZAMPIETRO 09/04/2023

Livro fluido com muitos castilhos, te faz refletir sobre sua infância e a relação com os pais principalmente com o pai.
Essa Questão não debatida que os pais colocam sobre os ombros dos filhos espectativas e sonhos deles sem se dar contam que estão subjugando um outro ser humano não uma propriedade sua.
Até onde e amor, dedicação e educação e passa a ser abuso?
Até que ponto a pressão imposta por seus pais podem ajudar ou destruir sua vida ?

Natalia.Eiras 15/04/2023

Um dos melhores livros de 2023, com certeza.
"Dor Fantasma" é um livro fora da caixinha e você vai entender por quê.
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Neste livro nós vamos acompanhar a história de Rômulo Castelo, um pianista que passou a vida inteira se preparando para o grande momento de sua vida, quando ele apresentaria uma peça conhecida como intocável: Rondo Fantastique de F. Liszt.
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Porém, um grave acidente tira abruptamente esse sonho de Rômulo.
Neste momento, poderíamos ter mais um livro com um arco de superação, com o personagem mudando aspectos da sua personalidade, se tornando uma pessoa melhor e blá blá blá. #SQN
🎼
Esse não é um livro de Nelson Rodrigues, mas é bem "a vida como ela é", e assim como na vida real, existem pessoas que ao sofrerem um acidente irão passar por um processo de negação e que não vão superar isso.
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Assim como existem pessoas que são execráveis durante toda a vida, e é isso. Nem todo mundo terá um arco de superação, ou um arco de redenção. Porque nem todo mundo é bom, existem pessoas malvadas neste mundo.
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E justamente por esfregar isso na sua cara é que esse livro ganhou o Prêmio José Saramago em 2022.
🎼
Merecidíssimo e recomendadíssimo.
⭐⭐⭐⭐⭐

site: https://youtu.be/ecvixx4ufF8

Valentina208 26/04/2023

O livro é brilhante, a leitura cativa e faz com que queira ler mais e mais. Rômulo é a mais fiel ilustração de um cabeça dura, é preciso mudar de ideia, mesmo quando isso não parece conveniente.

Mateus 26/04/2023

Nauseabundo.
A obra se inicia com uma grande seção chamada ?coda? - que denota a fração final de uma música; talvez para demonstrar que presenciamos, já no início, as últimas apresentações do protagonista. Rômulo Castelo se imagina superior diante da sociedade contemporânea viciada, como bem descreve, na autocondescendência. Permitir-se não ser perfeito.

Ironicamente, CODA também pode remeter à expressão do inglês ?Children of Deaf Adults? - algo, se me permitem, análogo à imagem do maestro: que se vê como ouvinte num mundo de surdos à perfeição de sua música.

Tenho uma grande paixão por Franz Liszt. Hungarian Rhapsody no. 2 em dó sustenido menor sempre foi uma de minhas composições clássicas favoritas para o piano. Já conhecia a Rondeau Fantastique pelas mãos da incrível Valentina Lisitsa (vídeo citado no meio do livro). Entretanto, lamentavelmente, esse foi um dos fatores que me afastaram um pouco da obra, fazendo-me achar um tanto forçada a assimilação que o protagonista faz do compositor húngaro a uma perfeição, quase compulsiva, que beira a autoflagelação.

O desenvolvimento dos desastres nos arcos climáticos me trouxe náuseas e, por vezes, tive que afastar os olhos da leitura para não digerir tanta coisa ruim de uma vez só. Foi como assistir a esses programas policiais de hora de almoço e perder a fome ao ver alguma cena deplorável.

Por fim, sem dar spoiler, creio que a finalização do arco foi algo merecido e digno de Rômulo, que é muito bem desenvolvido. Fiel à sua barbárie do início ao fim do livro, perde a sanidade aos trancos e caminha ladeira abaixo rumo à perdição.?

Victor.Almeida 27/05/2023

Um dos melhores, se nao o melhor, livro que li este ano. Uma historia fantastica e uma escrita fluida. Dificil de largar quando se entra no livro. E um aperto no coracao muitas vezes

Djeison.Hoerlle 10/06/2023

O romance de Rafael Gallo foi vencedor do prêmio José Saramago de literatura. Esta informação era irrelevante para mim até alguns meses atrás, mas Saramago cresceu em minha perspectiva. Não por tê-lo lido, mas por ter me aproximado de pessoas que não somente o leram, mas que também sentiram-se lidas por ele, razão pela qual achei justo pontuar o tamanho da honraria concedida a este autor brasileiro.

No livro acompanhamos a derrocada de Rômulo Castelo, um virtuoso pianista, rumo ao fundo do poço. Mas como costumam ser a maioria dos bons estudos de personagem, este é um poço cavado por ele próprio, isto é, se o manejo de uma pá for viável para uma pessoa que dispõe de uma única mão, já que Rômulo, em um acidente, perdera não somente a mão destra, mas também, a própria identidade.

Um dos principais trunfos do livro é o vigor com que lapida esta derrocada. Quando pensamos estar diante da calmaria do fundo, na iminência de uma redenção, de um retorno à superfície, somos surpreendidos por novos golpes de pá, dilacerando a terra dura e úmida sob os pés do protagonista, despertando asco no leitor, mas também, pena.
E embora desconfortável em diversas passagens - de forma proposital, é claro - a escrita de Rafael Gallo faz-se notável pela fluidez. Existe poesia, existe exuberância e até um certo charme estilístico em Dor Fantasma, elementos que remetem à obras densas e cada vez menos acessíveis para o leitor moderno, mas que neste livro emergem em meio a capítulos curtos, compostos por cenas rápidas e diálogos contidos, sempre presos entre aspas. Este recurso potencializa a transição entre narrativa e interações, amarrando-as em um único nó e tomando para si o papel de fazer uma curadoria, não trazendo ao leitor a totalidade de conversas realistas e cotidianas, mas apenas as passagens necessárias para o avanço da história e lapidação de seus personagens. Esta estrutura não apenas prova-se um acerto, mas também, um dos principais trunfos do livro, já que ao contrário da maioria dos livros tidos como "bem escritos", Dor Fantasma não desafia o leitor, mas o auxilia a continuar imerso.

E mesmo tendo demorado cerca de um mês para finalizar a leitura - um mês atulhado de sonhos meus e não nos de outros autores - não houve um dia em que eu não me visse refletindo sobre as vivências de Rômulo. Não somente as já vividas na altura em que eu me encontrava da leitura, mas também as que ainda seriam vividas conforme as páginas fossem sendo viradas. Fazia anos que um livro não me fazia reflexivo e expectante em medidas equivalentes.

Cabe, por fim, pontuar a riqueza das passagens acerca da produtividade - a medida que separa os meros talentos dos gênios. Sendo oriundo de uma geração de procrastinadores, é duro observar como as ponderações cruéis de um protagonista cuja filosofia pessoal revela-se sua própria ruína, ainda assim me atingiram como lâminas. Talvez exista mais culpa do que saúde mental em cada uma das sessões de lazer que nos damos o direito, afinal de contas.

É, talvez, por este motivo, que eu faça do meu lazer, parte dos meus sonhos. Encaro cada leitura como um estudo, uma agregação de bagagem para as futuras escritas as quais executarei. Mas não são todas as que se adequam a este papel - de fazer refletir, de fazerem-se incômodas - mas Dor Fantasma, a exemplo de seu protagonista, é neste aspecto, virtuoso.

Mariana113 14/06/2023

O livro vai muito bem durante o terço inicial e a ideia central da trama tinha um enorme potencial. O Rafael é um bom escritor, ainda que alguns trechos da história, ao meu ver, tenham sido ligeiramente redundantes.
O ponto que me impediu de amar a obra esteve no decorrer da narrativa, que se mostrou um estudo de personagem no qual o mesmo não evolui em nenhum aspecto. Aliás, que sujeito insuportável que é Rômulo Castelo. Precisei consumir os capítulos em doses homeopáticas pra não ultrapassar meus limites de tolerância.
Vale comentar que há uma cena pouquíssimo verossímil perto de findar o livro
Como ponto positivo, cito a abordagem da temática da dor residual (a dor fantasma), aliás, que puta spoiler é o título. Achei bem imersivo acompanhar o processo de luto do protagonista após o acidente.
Livro vencedor Prêmio Literário José Saramago e vale a pena fazer a leitura pra tomar suas próprias conclusões