Lau
23/06/2023O Fogo da vidaDá pra ver que o Itamar é mesmo um grande contador de histórias, com uma sensibilidade para as coisas da vida e da natureza que é deliciosa de ler
Salvar o fogo dentro de nós mesmos. Acredito que isso é o que o título quer enunciar. A comparação do fogo com a liberdade é muito tocante e vívida. Consigo sentir o fogo como essa força motora e imparável, ao mesmo tempo destrutível. Mas que é natural, e surge no ambiente da mesma forma que o fogo da revolta surge no nosso peito. E não é bom, nem ruim. Tudo depende de como e para que ele se destina. O fogo é a morte de algo que se foi e o princípio de algo novo. É claro como isso move todo o livro
Agora em termos mais práticos, para mim, parece que a narrativa muda bastante de tom da metade para a frente. A primeira parte começa em primeira pessoa, como relatos que se juntariam no final para decifrar os enigmas da história, permeada de mistérios e acontecimentos a princípio sem explicação. Termina em terceira pessoa, fazendo mais reflexões e explorando mais os sentimentos dos personagens do que continuando o que foi começado
Confesso que me emocionei mais durante a primeira parte, instigada pelas relações de afeto e raiva, as mentiras contadas. Quase um romance de suspense. Quando os mistérios foram desvelados, já não tiveram o mesmo impacto, porque o foco não era mais esse. Perto do fim, apareceu uma personagem nova que estava diretamente ligada aos martírios da protagonista, mas que, como não foi explorada antes, acabou sendo um elemento meio secundário. Quando, na verdade, deveria ter destaque, já que foi importante no desenrolar de alguns eventos
Isso me fez perder um pouco a empolgação ao longo do tempo, mas nada muda que essa é uma boa leitura sim. Recomendo, mesmo pros que dizem que "Torto arado" é melhor