spoiler visualizarraconteurr 25/05/2024
Uma resenha grande pra um livro grande
Eu acho que esse livro é uma experiência de leitura ousada, e eu gosto muito de ler coisas ousadas. Pra mim, ele tem uma pegada diferente. Todos os esquemas políticos e sexuais do livro fazem ele ser bastante peculiar pra mim. Ele tem esses dois eixos bem presentes: a parte romântica sexy e deturpada, e a parte que navega pelas minúcias burocráticas do império e da guerra.
Devo parabenizar a autora pelo trabalho de pesquisa sobre estratégias de batalha, formações, títulos e tudo mais. Dá para ver que Laura se empenhou muito nessa parte e eu adoro quando consigo notar que o autor realmente BUSCOU sobre o assunto antes de escrever. Também adorei as referências históricas ao império romano, aos deuses, aos bárbaros e tudo mais. Gostei de ver as particularidades das províncias, e como a política nesse livro se mostra REALMEMTE como uma teia de aranha: vários focos de poder, pessoas interligadas e manipuladas, todo escrutínio e corrupção escancarados na cara do leitor.
A escrita da Laura é sempre deliciosa de ler. Não à toa vários leitores não pensarem duas vezes antes de ler 1000 páginas escritas por ela, ainda mais em tempos em que as pessoas procuram por conteúdos rápidos para consumir. Não sei o que acontece, mas ela tem uma escolha de palavras tão certeira. A escrita dela se molda de acordo com o livro, o ritmo, a proposta e a ambientação da obra e isso faz com que o leitor entre de fato naquele universo.
O romance com Lucca se desenrolou da forma que eu esperei: ele é uma cadelinha babona que ama sua dona! Fiquei cansada com tantos hots mais pro final do livro e acabei pulando, mas isso é só meu gosto pessoal. Sei que muita gente adorou essa parte. Eu só esperava gostar mais do Lucca. Acho que ele não teve muita função além de ser par da Belladonna e ajudá-la a desbancar o tio.
Agora, queria tecer algumas críticas que eu espero que sejam construtivas.
Damicca é um personagem que eu gostei. Morana também cativou minha atenção. Ela é engraçada e tem comentários muito bons. Lídana é uma querida, mas confesso que Carina é a mais chatinha de todas kkkkk nada contra, só achei ela a mais molenga entre as três. Todo o papo sobre Giordano foi me cansando.
Só que, em geral, achei que faltou dar palco para esses personagens, abrir espaço para que eles tivessem funções/arcos próprios além de circular ao redor da protagonista. Eles parecem muito superficiais, e nenhum deles têm triunfos próprios no livro. Tudo acontece por meio das vontades da Belladonna, tudo gira em torno dela, ela tem as ideias, articulações, manobras, e os outros apenas seguem. Também queria ter visto um pouco mais dos poderes ladramini, mas entendo que, por ser um livro de pov único, é difícil mostrar algo para além do alcance da protagonista.
Queria que o assassinato do rei e do príncipe tivessem sido melhor trabalhados. Se eu fosse Belladonna e estivesse na posição dela, a primeira coisa que eu pensaria é nos riscos de estar numa posição claramente ameaçada, com histórico recente de perseguição e m0rte. Mas ela não pareceu pensar muito nisso nem se preocupar em entender o que tinha acontecido.
Acho que um dos maiores pontos negativos da obra ? e digo isso porque vi várias resenhas falando sobre ? é que esse é um livro que poderia ser melhor editado, cuja narrativa divaga bastante. Apesar de amar a escrita da Laura, o estilo narrativo dela traz vários parágrafos de pensamento/descrição entre os diálogos, o que me fez perder o fio da meada da conversa ? apesar de eu saber que isso é muito presente na escrita da autora desde Safira de Prata. Chuto que seja uma escolha consciente e estilística da autora, mas vejo que deixa vários leitores cansados. Muita informação sobre background e construção de mundo também é passada por meio de parágrafos e mais parágrafos, o que fica um pouco arrastado. Talvez falte um pouco mais de "mostrar" em vez de "falar". Pessoalmente, acho que diálogos são um ótimo momento de fluidez da narrativa, justamente por quebrarem a prosa corrida com uma dinâmica de perguntas e respostas. Mas, aqui, isso se perde de vez em quando. Também penso que, se houvesse essa edição, abriria espaço para explorar as potencialidades dos personagens secundários, como já mencionei.
A Belladonna é uma personagem difícil de definir. Apesar de eu gostar muito dela, ela é incerta. Ela é dita como manipuladora e calculista, mas consegue ser bem tontona às vezes, e esperta em outros momentos. É alguém que tem seus altos e baixos. Numa hora, ela faz uma jogada realmente interessante (como a honraria cívica, ou o combate presencial contra a Sátria), noutra ela fala o óbvio (realmente não há motivos para além de ego pra continuar com inimizades com a Bravatta), e em outras ela só é descuidada mesmo. São várias nuances. Muita encrenca que ela se mete é totalmente culpa dela e de suas ações impensadas. O sotaque dela vazando quando fica bêbada, ela deixando as dançarinas sem proteção mesmo sabendo que elas comumente são vistas como meretrizes por homens, ela fugindo de reunião pra beber com os amigos, etc.
Outra coisa, eu fiquei cansadíssima de ler cílios batendo, sons ribombando, coisas "adoráveis" e pessoas fazendo careta por 1000 páginas seguidas. São vícios de escrita evidentes porque são palavras/gestos muito específicos que acontecem todo capítulo.
Em geral, foi uma leitura ok. Eu estava bem entretida até os 50% do livro, mas daí em diante foi ficando muito repetitivo e eu cansei da história. Eu parei de me importar com os personagens, sabe? E com o rumo da história em geral. Enfim, não é para mim e tudo bem! Fico feliz demais de ver uma autora NACIONAL com o reconhecimento e demanda que a Laura tem. Ainda mais com livros tão grandes!!! Isso mostra o poder dos livros brasileiros no mercado e eu AMO ver que a Laura é gigante na fantasia.
Longa vida, Imperatriz Laura Reggiani, e um próspero reinado!