Alyne Lima 06/03/2024
Repensando vivências
Por estarmos, muitas vezes, completamente imersos em uma cultura colonial, acabamos assimilando modos de viver, ser, agir que são - em certa medida - sintéticos, isto é, se distanciam dos modos operados pelos indivíduos que vivem próximos, confluindo, com a natureza.
Evidentemente, a dissimulação de saberes africanos, indígenas e quilombolas têm como intuito à supremacia de saberes coloniais, e esse processo é constantemente legitimado pelas instituições universitárias que focam em determinados campos de pesquisa, relegando outros ao esquecimento, ao inapropriado ou mesmo ao mitológico. Em consonância com esse processo, as escolas e os livros didáticos, pouco abrem espaço para a discussão e valorização desses conceitos e saberes. O que cria uma nação alienada no sinteticismo colonial.
Essa relação de dissimulação e assimilação, portanto, só pode ser quebrada quando estamos voluntariamente dispostos a nos inserir em leituras, discussões e espaços que visem nos provocar uma reflexão sobre as várias formas de ser e estar no mundo, ou mais especificamente, no Brasil.
Nesse livro, o filósofo, poeta, quilombola e ativista político Antônio Bispo dos Santos nos faz refletir sobre a desconexão entre o ser humano e a natureza - que ele conceitua como cosmofobia - e postula que esse distanciamento cria um ambiente artificial, embasado por teorias também artificiais, isto é, não se preocupam em compreender o cosmos.
Apesar de todas as críticas ao ambiente citadino, Bispo reitera que não se interessa com as artificialidades dos indivíduos colonizados, mas pede que esses conhecimentos não tentem, também, colonizar o quilombo ou ainda que tentem levar ao quilombo políticas e saberes, tentando institucionalizar e "gourmetizar" o que eles já sabem ou fazem a anos.
Ler sobre essas vivências me faz de certa forma repensar meus modos de viver e ainda me distanciar do sintético - ou do colonial - a que somos expostos.