Leticia.Fantagussi 31/01/2024
O produto mágico de uma grande amizade
Como muitos que nasceram nos anos 2000, meu primeiro contato com As Crônicas de Spiderwick foi o filme de 2008, que me deixava com sentimentos bem conflitantes porque ao mesmo tempo em que eu amava as criaturas mágicas criadas por Holly e Tony, também tinha um certo medinho delas. Lendo a obra original agora, em 2024, eu entendo que era exatamente esse o tom que os autores queriam passar kkkkkk.
A história segue os irmãos Grace em sua jornada para uma nova casa, cheia de mistérios e segredos mágicos, enquanto também enfrentam suas próprias batalhas internas, como o abandono paterno e, no caso do pequeno Jared, como lidar com tanta raiva acumulada. A raiva do Jared e o jeito como Holly a desenvolve foi uma surpresa muito positiva pra mim (que só lembrava das criaturas mágicas e do final do filme kkkk). Foi muito bom ver uma criança aprendendo a lidar com esses sentimentos difíceis, vendo aos poucos como essa raiva podia faze-lo fazer e dizer coisas das quais logo se arrependia, mas também mostrando a sinceridade e a vulnerabilidade nesses sentimentos, uma vontade genuína de melhorar e só não saber como, tudo isso vindo de uma dor comum a tantas crianças, inclusive a mim: a separação dos pais, e principalmente, o desinteresse do pai em fazer parte da vida dos filhos. A magia e as criaturas mágicas do livro também fazem uma alusão à natureza do mundo real e em vários momentos a Holly e o Tony ressaltam como o ser humano fez e ainda faz mal às criaturas mágicas, como seu mundo está ameaçado por nossa causa e como é difícil e até perigoso para elas confiarem em nós. A única parte que me decepcionou um pouquinho foi a resolução do conflito final com o grande vilão, porque achei um pouco apressado demais.
Dito isso sobre a história em si, minha parte favorita (como ilustradora) foi ver o processo de desenvolvimento do livro no final! Eu amei ver os primeiros rascunhos do Tony e ver que muitas cenas surgiram primeiro de um desenho e depois foram escritas, além é claro, do próprio plot inteiro do livro ter vindo da vontade do Tony de escrever um guia de campo naturalista de criaturas mágicas (o que de alguma forma me lembrou de “Grimm, contos de terror”, uma das séries com a qual eu era mais obcecada na pré-adolescência, o que só aumentou ainda mais o sentimento de nostalgia rsrs). Minha maior e melhor surpresa logo no começo foi descobrir a quantidade IMENSA de ilustrações maravilhosas (praticamente uma a cada duas páginas) e esse “Caderno de esboços” no final esclarece muito bem porquê é assim. Então, em resumo, é um livro infantojuvenil bem rápido e gostosinho de ler, com muitas, muitas ilustrações lindas e uma coletânea de esboços ainda mais legal no final!