Babel

Babel R.F. Kuang
R.F. Kuang




Resenhas - Babel


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Rafyscreve 13/02/2024

Babel é um espetáculo narrativo
???????????????
?Não sabia que impressionar um homem branco podia ser tão perigoso quanto provocá-lo.?
???????????????

Sempre acho que estou pronta para os livros da Kuang. Mas ela sempre surpreende.

Babel conta a história de Robin, um menino que mora em Cantão, na China, e vê sua família dizimada por um surto de cólera. Antes de seu fim, um professor inglês o salva e oferece uma nova vida a ele, na Inglaterra. Uma nova vida inclui deixar seus costumes, cultura e até mesmo seu nome para trás. Com a outra opção sendo uma doença fatal, Robin aceita sem entender o peso das condições.

No Instituto de Tradução, conhecido como Babel, Robin aprende novos idiomas, faz amigos e trabalha com a prata e a magia que ela permite executar. Em troca, ele aguenta a violência por ser diferente. A violência de ser, aos poucos, transformado de humano em ferramenta. E não há nada mais violento do que ter que ser grato por algo que te corrompe e te destrói.

Seja pela densidade das aulas de tradução ou pela opressão misógina e racista que os personagens sofrem, Babel é, ao mesmo tempo um livro extremamente difícil e um espetáculo narrativo.
É um tapa na cara do colonialismo.
É uma dissertação sobre o poder das palavras e os significados esquecidos.
É um hino ao poder dos imigrantes.
Não consigo nem imaginar a quantidade de pesquisa que precisa ser feita para chegar em um livro desse nível. Mas ainda tem gente que torce o nariz e insiste que fantasia é só leitura de entretenimento.

Eu costumo recomendar livros de fantasia para quem lê fantasia, mas dessa vez eu digo para todo mundo que está me ouvindo: leia Babel.
Leia e sinta tudo: a raiva, a tristeza, a frustração. Sinta o poder que as palavras têm de mudar o mundo.
E use-as para isso.
mila.mariani 13/02/2024minha estante
Uau amei a resenha!! Estou ansiosa para ler logo ele.


Rafyscreve 16/02/2024minha estante
@mila.mariani Obrigadaaa ?


Emilia.Reis 17/02/2024minha estante
adorei




Jenni 13/02/2024

"A história, pela primeira vez, é fluida."
Nada menos do que perfeito. A trilogia "A guerra da Papoula" tornou-se a minha favorita no ano passado, e eu estava muito ansiosa por este livro único da autora, e ele superou todas as minhas expectativas.
Não diria que é uma fantasia para todos; em boa parte do livro, não há muita ação. O que diferencia as obras da R.F. das outras é que não existe aquele personagem de 16 anos de uma distopia que vai salvar o mundo dos tiranos com o poder do protagonista. Não, as histórias dela se assemelham muito com a realidade. Não é bonito; é violento, é injusto e com toda certeza não depende de uma pessoa só e leva tempo. Na realidade, as batalhas travadas nos seus livros são lutas que precisam ser defendidas para sempre. Eu amo isso; me faz pensar, refletir. Ela mistura ficção com história; aqui mesmo, o foco é a revolução industrial da Inglaterra e a história colonial da China em 1830.
O livro "Babel", de R.F. Kuang, leva os leitores a uma jornada épica através do tempo e do espaço, mergulhando nas profundezas da história, magia e dilemas morais. A história segue Robin Swift, um órfão chinês que se torna um erudito linguista em Londres, preparando-se para ingressar no prestigiado Real Instituto de Tradução da Universidade de Oxford, conhecido como Babel. Nesse ambiente imponente e repleto de segredos, Robin descobre que a arte da tradução está intrinsecamente ligada à magia, trazendo uma nova perspectiva sobre o poder e a dominação.
Ao se ver dividido entre lealdade à Instituição e seu senso de justiça, Robin enfrenta dilemas éticos profundos, questionando se é possível mudar as instituições por dentro ou se a violência é inevitável para promover a revolução. Com a iminência de uma guerra entre a Grã-Bretanha e a China, motivada por interesses econômicos e políticos, Robin é forçado a escolher um lado, confrontando as complexidades da identidade, patriotismo e poder. "Babel ou a necessidade de violência" desafia as convenções e mergulha nas profundezas da alma humana, questionando onde reside a verdadeira essência do poder e da justiça.
É mais leve que a trilogia, mas ainda pode acionar muitos gatilhos, pois trata-se de uma guerra, um país colonialista e como ele trata as pessoas de suas colônias. Terminei a obra com a vontade de ser poliglota; eu nunca tinha parado para pensar na verdadeira importância da linguagem, como a tradução traz um poder para o tradutor, ele vai definir o que se torna a verdade. Essa parte me lembrou "1984" de Orwell.
O livro explora brilhantemente temas como a escravidão, eurocentrismo, resistência colonial, revoluções estudantis, xenofobia e o uso da linguagem e da tradução como ferramenta dominante do império britânico.
Tirando as aulas de história, na parte de fantasia, eu gostei muito da magia que ela colocou nas palavras e na prata; com toda certeza não é mentira, ela só deixou mais literal para dar uma emoção.
Já na parte dos personagens, eu nunca posso reclamar que ela não os explora. O Robin me lembra muito a Rin; ele não é aquele protagonista perfeito, é muito humano e comete vários erros. Isso pode dar raiva em alguns momentos, mas me faz amá-lo mais, pois ele não passa de uma criança jogada no olho do furacão por alguém que só queria controlá-lo. A forma como a autora narra a obra faz você entender exatamente o que move cada personagem, seja para o bem, seja para o mal.
Resumindo, um livro favoritado, que eu não consigo descrever a grandeza. A autora deveria ganhar todos os prêmios existentes e deveriam criar outros apenas para ela ganhar mais. Uma pessoa genial, inteligente, com consciência de classe, consciência da história, criativa, verdadeiramente mágica com as palavras; quero ser ela quando eu crescer.
?"mas as pessoas que tinham o poder de fazer alguma coisa a respeito haviam sido colocadas em posições nas quais obtinham lucro, e as pessoas que mais sofriam não tinham poder nenhum."
liaentrelivros 17/02/2024minha estante
Eu reclamei do final da Guerra da Papoula, mas já tô com esse na fila. Hahahaha.


Jenni 17/02/2024minha estante
@liaentrelivros Eu fiquei exatamente assim kkkkkkkk




Andréa Marcela 06/04/2024

Uma história diferente e muito legal, todavia a leitura fica um pouco cansativa devido a tantos detalhes que são explicados o tempo todo... mas na minha opinião o final deixou a desejar
FremenJeff 10/04/2024minha estante
O final é muito entusiasta e sem noção kkkk a autora passa centenas e mais centenas de páginas desenvolvendo uma ameaça de nível internacional esmagadora e opressora para no final resumir com um: Ah vamos derrubar X coisas e assim acaba o domínio do mercado da Grã-Bretanha


Andréa Marcela 11/04/2024minha estante
exato...




Bruna 06/05/2024

Traduzir é um ato de traição
Esse é aquele tipo de livro que te prende do início ao fim e, muito além disso, te faz questionar o mundo ao nosso redor e pensar: Por que sempre ponderamos sobre o mundo de maneira independente e nunca como um todo?

Nessa configuração de mundo que Kuang cria de maneira brilhante, vemos como as linguagens podem ser objeto tanto de dominação quanto de libertação. Ela mostra com clareza que a linguagem é viva e se modifica assim como a história, e pode ser usada para subjugar povos, visto que se comunicar com o outro no idioma do interlocutor traz a sensação de familiaridade, o que na visão do colonialismo, é essencial para explorar nações e suas riquezas.

O trabalho feito neste livro relacionado a linguística é fantástico! Ela transita entre etimologia e sociolinguística de maneira tão fluida, que faz termos a sensação de que aprender a origem de todas as palavras e os significados perdidos e modificados ao longo das eras nem seja tão difícil assim.

O paralelo que a autora traça entre a Revolução Industrial e a Revolução da Prata é objetivo, claro e eficaz, nos mostrando como devemos sempre olhar pra nós mesmos e para o todo, ao passo que as nossas ações impactam na vida de nossos semelhantes.

Os personagens principais são bem delineados, com seus ideais e suas percepções de mundo. Victoire, Ramy, Robin e Letty são contrastes de visões de mundo entre si. Gostaria muito de ter lido mais sobre Griffin que é um personagem muito intrigante (um pouco obcecada por ele estou, acho kkkk)

É um livro que te deixa preso, pois a escrita dela é muito gostosa e, mesmo que seja um livro enorme, você lê 100 páginas sem perceber e quando percebe, já acabou o livro. E se prepare, pois a cabeça ficará a mil com tantos questionamentos.

É uma fantasia-histórica-dark academia, podemos categorizá-la em vários gêneros. Uma narrativa que nos dá esperança de que a história real, um dia, possa ser fluída e justa pra todos!
Barbosa 07/05/2024minha estante
Achei lento demais para prender do início ao fim. O meio dele é extremamente parado.


Bruna 07/05/2024minha estante
Sim, ele é mais parado mesmo, mas eu achei a escrita dela tão boa e fluída que mesmo sendo parado, passou muito rápido... e eu amo o tema, o que ajudou muito também rsrs




spoiler visualizar
marmad 19/05/2024minha estante
eu acho que esse vazio e decepção foi proposital. eu vejo como uma historia super realista e ter esse sentimento de "faltou algo" e aquele "acabou assim?" faz parte da experiência do livro em retratar toda a dor e vazio e sentimento inconsolável da situação deles. achei cruel e genial e muito necessária sim a morte dele, por mais que tenha acabado comigo. foi o ponto de virada no relacionamento deles com a letty, um conhecimento que todos sentiam mas que não queriam admitir. enfim, acho muito coeso.


karol535 19/05/2024minha estante
sim sim. concordo. eu so achei que o Robin não ficou tao bem construido como personagem principal, e ai como o Ramy se destacou mais, p mim, dps q ele morreu mt coisa ficou muito lenta e sem graça. acho q o problema foi o Robin mesmo




vicniro 18/05/2024

Sensacional!!!
Eu já comecei a leitura completamente apaixonada pelo universo criado pela a autora. Toda a discussão que ela traz no livro sobre tradução e a diferença de significado entre as línguas é muito interessante e, como é um tópico que é difícil definir algum caminho como correto, traz diversos pontos para reflexão. Eu como me interesso muito pelo assunto e, curiosamente, estou aprendendo mandarim, foi apaixonante toda essa exposição.

O livro também trata de outros temas interessantes, como descriminação, as atitudes das potências mundiais em busca de sua soberania, colonialismo, escravidão entre outros. A autora conseguiu encaixar esses assuntos perfeitamente, de uma forma muito realista e sem que parecesse forçado. A magia da prata foi um acréscimo interessantíssimo para a história e para explicar a dominação inglesa.

Em relação à história em si, do meio pro final, quando tudo começa a desandar, comecei a ficar desesperada pensando em como eles iriam sair daquela situação. Em alguns momentos achei as decisões tomadas pelo Robin meio burras, mas consegui entender porque ele seguiu aquele caminho. O final achei muito comovente e queria ter visto um pouco mais das consequências da ação final deles. E que final? não achei que fosse terminar desse jeito.

Em relação aos personagens, eu consegui me apegar a alguns e ter ranço de outros! Achei que a personalidade deles tem tudo a ver com suas histórias. Fiquei bem surpresa com o destino de alguns personagens.

Enfim, um livro incrível pra quem gosta de assuntos relacionados a idiomas, aprendizado de idiomas e política internacional.
FabiSempreLendo 19/05/2024minha estante
Sua resenha me fez querer ler ?


vicniro 19/05/2024minha estante
Vale a pena pelo menos tentar!! Hahaha




clara 11/05/2024

O livro de fantasia mais intelectual que eu já li
Acho que a divisão de críticas boas e ruins desse livro apenas marca ele como uma obra-prima: ou você ama, ou você odeia.

Ele é ambientado em uma faculdade fictícia de tradução da Universidade de Oxford, onde o Império Britânico traz crianças de todo o mundo para estudar e, eventualmente, trabalhar para o Império.
O sistema de magia é muito bem escrito. Ele é baseado em linguística, mais especificamente na tradução de palavras e da diferença/similaridade de significado através de várias línguas, que são gravadas em barras de prata e, dependendo do que está escrito, tem diversas finalidades: auxiliar carruagens a manobrar, tecelagem, sistemas de irrigação, etc. Ao mesmo tempo que faz referencia à revolução industrial, consegue também se alinhar com a questão da tecnologia nos dias atuais: no fim, tudo é algo que torna os ricos mais ricos, deixa pessoas em situações vulneráveis e desempregadas e se aproveita de países de terceiro mundo.
O foco do livro é o Robin, um menino chinês que foi levado ao Reino Jnido para estudar na Torre de Babel na Universidade de Oxford, e nos conflitos entre as amizades que ele faz lá, incluindo um menino indiano, uma menina haitiana e uma menina britânica.

Do meu ponto de vista completamente enviesado, qualquer pessoa que leu esse livro e não gostou, simplesmente é alguém que nunca sentiu na pele algum tipo de preconceito, racismo, colorismo, homofobia, etc.
Vi várias pessoas (principalmente britânicos e estadunidenses lol) falando sobre a autora escrever de um ponto de vista 'unilateral', de ele ser 'claramente tendencioso', visto que o 'vilão' nessa história são os homens brancos britânicos e a própria Grã-Bretanha em si, mas, sinceramente, existe realmente dois lados da história? Nesse caso, existe dois pontos de vista da mesma história?
O livro fala sobre colonialismo, e não levanta a pergunta 'ai, será que colonialismo é ruim??'. É OBVIO que é ruim, a R.F. Kuang não abre espaço pra nuance justamente porque não merece nuance, não existe dois lados do colonialismo.
A nuance do livro vem da luta interna que se passa na cabeça do Robin, que não sabe o que fazer pois tem duas opções: continuar vivendo do jeito que ele estava, que, apesar de confortável, acabava em contribuir para o Império Britânico acabar com a sua terra natal e várias outras, ou tomar medidas drásticas, sendo uma delas a violência - é justamente daí que vem o título do livro: Babel ou a necessidade de violência.

É uma leitura absolutamente linda e incrível. O tanto que eu chorei com o final desse livro não ta escrito. Recomendo demais essa leitura, e, sendo a minha primeira experiência com essa escritora, não vejo a hora de ler as outras obras dela.
asgardianah 11/05/2024minha estante
parabéns gatinha




Titi 28/03/2024

Abandonei em 70%, tava chato, nao me conectei c os personagens, tudo parecia fútil, motivações e plots sem força alguma. Infelizmente n colou p mim ??
Hildo Frota 29/03/2024minha estante
Tive as mesmas impressões ???




Jojo 25/03/2024

"Tradução; Translate"
Pensei por muitos dias oque dizer sobre Babel. É um livro devagar, muito grande, meio parado, obviamente. Mas como explicar que esse livro me tocou de uma maneira que eu não esperava? Que evocasse tantas emoções?

Babel é uma ode de amor à literatura, à tradição e à tradução. Mas também é uma carta de ódio para os exploradores, para aqueles que nos julgam todos os dias apenas por querermos nos incluir em uma sociedade que nos forçaram a viver, para aqueles que nos olham com desprezo quando passamos nas ruas apenas porque não enxergam aquilo que há por dentro. Para essas pessoas a cor da pele é a única coisa que importa, e, dependendo de qual é ela, vai moldar quem é você (sendo isso bom ou ruim).

Abordou tantos gatilhos meus pensar e ler esse livro. Ele tem um significado muito mais profundo para pessoas que passaram situações parecidas com as das personagens. É um livro melancólico, mágico, bonito, odioso e que me deixou vazio. Os personagens são tão complexos e temo que nunca vou conseguir entender as razões de todos eles. Não quero me aprofundar na questão dos personagens porque não cabe a mim dizer oque eles fizeram ou oque deixaram de fazer. Só quero dizer que é um livro maravilhoso e que a R.F Kuang está sempre certa quando pega um papel e caneta.

Minhas memórias a Ramy, Robin, Griffin e Victoire.
why.sad.give.up 03/04/2024minha estante
Você disse tudo e um pouco mais. Terminei ele há alguns dias e só consegui resenhar hoje. É forte.




Vinícius 19/02/2024

"Todo ato de tradução é um ato de traição"
Difícil por em palavras tudo que senti lendo esse livro. É impressionante como a R. F. Kuang consegue escrever uma obra tão diferente da trilogia da Guerra da Papoula e, ao mesmo tempo, que tenha tanto a ver. Por mais que a escrita da autora seja didática ao extremo em alguns pontos (alguns diálogos acabam soando artificiais quando ela se mostra direta demais no assunto), a verdade é que Babel é uma obra-prima. Eu não consigo pensar em um adjetivo melhor, porque o que a Kuang fez aqui que vai entrar para a história da fantasia.

A maneira como ela entrelaça colonialismo, colonialidade, raça, gênero, linguagem e academicismo é inigualável. A veia acadêmica dela salta a todo instante, mas talvez por eu ser um acadêmico, eu amei ver como ela escreve com paixão e com (muita) raiva - raiva contra os colonizadores, os impérios, os falsos aliados brancos e o racismo. Por toda a sua primeira metade, Kuang até nos faz deslumbrar com as maravilhas de Oxford e Babel (mesmo nunca nos deixando esquecer como seus protagonistas não-brancos são realmente vistos), mas a mudança de tom e de clima na segunda metade é chocante e, infelizmente, inevitável.

Ao final do livro, estava em lágrimas. É um encerramento tremendamente agridoce, mas aqui, tal qual em A Deusa em Chamas, Kuang nos deixa o vislumbre de um futuro onde o colonialismo não vença. Cabe a nós acreditar. Se havia alguma dúvida de que ela é a grande autora de fantasia da nossa geração, Babel vem para enterrar qualquer dúvida.
Valney 22/02/2024minha estante
Bela resenha amigo, deu até vontade de ler




Queria Estar Lendo 14/03/2024

Resenha: Babel
Eu não sei resenhar Babel. Falar sobre esse livro vai ser muito difícil, porque é impossível explicar o que foi essa leitura. O novo título da autora R.F. Kuang, que escreveu A Guerra da Papoula, é sobre o poder das palavras, da tradução e a inerência da violência diante de uma crescente e sufocante opressão.

A história de Babel começa em 1828, em Canton, na China. Um garotinho está morrendo nos braços da mãe, que também está doente. Toda a família já se foi. Depois que sua mãe se vai, só resta ele. Mas alguém aparece para tirá-lo dali. Um professor inglês que se apresenta como Lovell, e que oferece a esse garoto, cujo nome não sabemos, uma nova vida do outro lado do oceano, na Inglaterra.

O garoto aceita. Passa a se chamar Robin Swift, por exigência do Professor Lovell, e viaja com ele para se tornar seu pupilo. Robin vai estudar, e aprender, e seguir à risca a disciplina exigida por essa nova sociedade, para poder ingressar na excelentíssima academia de Oxfordo - mais precisamente, no Instituto Real de Tradução; também conhecido como Babel.

Quando ingressa em Babel, Robin parece estar no paraíso. As pequenas opressões e violências que sofreu por ser diferente não importam. Ele finalmente está em casa. Encontra três amigos que parecem sua nova família. Ou talvez não.

Babel parece um paraíso, mas há sombras escondidas entre as prateleiras repletas de livros, e as infinitas possibilidades de tradução. Há segredos macabros guardados entre os alunos, e a crescente de uma sociedade secreta que tem como objetivo destruir tudo que o império britânico está construindo: e essa sociedade convida Robin para ajudá-los nessa missão.

Aviso de conteúdo: esse é um livro adulto. Tem cenas de violência física, tortura, assédio sexual, racismo, violência racial e suicídio.

Com uma mestria sem limites, R.F. Kuang tece uma história sobre tradução, o amor às linguagens do mundo, a opressão construída com a ajuda de algumas delas, e a violência que cresce quando a conquista e o poder falam mais alto do que a humanidade.

Babel é uma história poderosa. É um tapa na cara. É o tipo de dark academia que constrói sua trama em cima do que se espera nesse subgênero, mas que usa o que se espera justamente para criticá-lo. R.F. Kuang escreveu Babel como uma "resposta temática ao livro A História Secreta", que deu origem a esse subgênero. Eu não cheguei a ler o que originou, mas consigo imaginar o que ela tenha escolhido responder - considerando que A História Secreta é bastante branco.

"it would seem a giant paradox, the fact that after everything they had told Letty, all the pain they had shared, she was the one who needed confort.
"pareceria um grande paradoxo, o fato de que depois de tudo que contaram a Letty, toda a dor que dividiram, ela era a pessoa que precisava de conforto."

Babel é sobre palavras, revoluções e brutalidade. É sobre o poder da tradução e de quem traduz. Sobre o horror crescente da colonização e da opressão de grandes potências sobre aquelas consideradas "inferiores". É sobre estudantes buscando seu lugar no mundo em um mundo que não os vê como pessoas, pura e simplesmente porque não são brancos.

É impossível ler essa história sem querer mastigar as páginas e o sistema. A potência que a autora coloca em suas críticas é afiada, às vezes sarcástica, se inclinando para o deboche ao falar sobre homens velhos e brancos querendo ditar o que é relevante ao mundo; às vezes é melancólica, porque não é um livro todo carregado de esperança, mesmo em sua revolução; às vezes é furiosa, porque fúria é tudo que conseguimos sentir ao acompanhar Robin e dois de seus amigos.

E aqui R.F. Kuang foi grandona sem medo, mais uma vez. Porque Babel é movido por um quarteto de personagens, apesar de centrar seu desenvolvimento em Robin.

Além dele, conhecemos Ramy, Victoire e Letty. Ramy é indiano, Victoire é negra e Letty branca.

Toda a construção da relação entre eles se baseia no quanto eles se amam, no quanto eles se encontraram dentro dessa universidade que preza tanto pelo individualismo e pela peculiaridade única de cada estudante, e no quanto eles são diferentes.

Babel trabalha muito a questão de raça e opressão, conversando abertamente através dos seus personagens sobre privilégio, racismo, misoginia, e a violência que acompanha cada ato de preconceito. Para uns, mais do que para outros - como a R.F. Kuang DESENHA através da Letty. Que, honestamente, me tirou tanto do sério o livro todo que eu cheguei a um passo de coringar.

Ramy é esperto, sarcástico e cheio de si. Ele não tem farpas na língua, o que pode acabar por colocá-lo em situações perigosas, considerando que a sociedade inglesa não o vê como parte dela. Ele é "exótico", ele é "estrangeiro" (mesmo tendo sido criado a maior parte da sua vida ali), ele não é branco, então ele não é parte daquele mundo.

"English did not just borrow words from other languages; it was stuffed to the brim with foreign influences, a Frankenstein vernacular. And Robin found it incredible, how this country, whose citizens prided themselves so much on being better than the rest of the world, could not make it through an afternoon tea without borrowed goods."
"O Inglês não apenas pegava palavras de outras línguas; estava repleto de influências estrangeiras, um vernáculo de Frankenstein. E Robin achou incrível que esse país, cujos cidadãos se orgulhavam tanto de ser melhores do que o resto do mundo, não poderia passar por um chá da tarde sem bens emprestados."

O mesmo para Victoire, com o bônus que termos também a questão de misoginia. Ela e Letty são raras exceções nas dependências de Babel; mulheres tradutoras são um raridade, e têm que lutar dez vezes mais pelas oportunidades e para se provarem dignas de estar ali. Com Victoire, multiplique por um milhão. Porque ela é negra, e estamos falando de uma época em que a abolição da escravidão era recente. Uma época em que pessoas negras não eram sequer consideradas pessoas.

Tem muitos trechos de partir o coração e de causar muita revolta com o racismo que Ramy e Victoire vivem. E também tem muitos debates sobre como eles são parte de uma revolução muito poderosa pura e simplesmente por estarem ali.

Também tem momentos leves, longe de ser um circo de horrores. Babel equilibra muito bem os momentos em que arranca nossa alma do corpo e a devolve para sorrirmos um pouquinho. Cenas leves, descontraídas, de amigos aproveitando a juventude e a liberdade (com cuidado, no caso de alguns).

Suas personalidades tão distintas entram em combustão umas com as outras, e amamos ver isso; Ramy e seu deboche, Robin e seu cuidado, Letty e seu ego, Victoire e sua razão.

"That's what translation is, I think. That's all speaking is. Listening to the other and trying to see past your own biases to glimpse what they're trying to say. Showing yourself to the world, and hoping someone else understands."
"É isso que é a tradução, eu acho. É isso que é falar. Ouvir outra pessoa e tentar ver além dos seus próprios pré-conceitos para ter um vislumbre do que estão tentando dizer. Mostrar a si mesmo para o mundo, e torcer para que alguém entenda."

A jornada do Robin também envolve provações raciais. Ele é chinês, mas é mestiço; seu pai provavelmente era branco, mas ele nunca o conheceu. Em Oxford - na Inglaterra - é passável por branco sob a luz certa, no ângulo certo (como o livro nos mostra em várias situações), mas ainda é um garoto chinês. Ainda tem que confrontar o preconceito que ferve o sangue e mostra a ele que aquele mundo é injusto e talvez nunca o aceite.

E é através da Letty, a nossa Karen, que R.F. Kuang alfineta um público bastante específico em lutas sociais. As feministas brancas. Ah, como eu espumei com essa personagem. Ela é justamente a representação da "aliada"; a pessoa que está ali por seus amigos oprimidos, mas só se aceitarem que ela é tão oprimida quanto.

A personagem que não vê o próprio privilégio, e representa muito bem o que é o feminismo branco. É aquela coisa de "ninguém está falando que você não sofre, só está falando que tem gente que sofre mais, Karen!".

"But what is the opposite of fidelity? Betrayal. Translation means doing violence upon the original, means warping and distorting it for foreign, unintended eyes. So then where does that leave us? How can we conclude, except by acknowledging that an act of translation is then necessarily always an act of betrayal?"
"Mas qual é o oposto de fidelidade? Traição. A tradução significa machucar o original, significa entortá-lo e distorcê-lo para o olhar estrangeiro, não intencional. Então o que isso nos diz? Como podemos concluir, exceto reconhecendo que um ato de tradução é, portanto, necessariamente e sempre um ato de traição?"

Muitas foram as vezes que Babel colocou esses quatro personagens frente a frente para debater privilégios, e muitas foram as vezes que Babel deu umas bofetadas na cara de quem se acha o topo da pirâmide do sofrimento mundial.

Vai muito além de opressão, é claro, mas esse é um livro pra esbofetear a nossa cara. Lembre-se disso. Porque existir fora do padrão é existir com a constante de que o mundo provavelmente vai tentar te derrubar. E é importante que aqueles que têm todos os privilégios de ser o que o mundo espera do padrão estejam dispostos a reconhecer esse privilégio e, principalmente, batalhar contra ele.

E é muito interessante como o livro faz isso, como desenvolve esses quatro personagens, seus sofrimentos e alegrias, seus momentos de paz e de provação, com muita verdade. Ramy, Robin, Victoire e Letty existem para mim. Eles foram reais.

A relação desse quarteto é linda e de partir o coração. É uma amizade construída em cima de sobrevivência, de amor e de rancor. São quatro amigos muito diferentes que se encontraram em meio às palavras, ao poder da tradução e à certeza de que são eles contra o mundo; até que não mais.

Eles vivem momentos maravilhosos. Vivem situações terríveis. Estão juntos em todas as circunstâncias, porque parece que é assim que o mundo se move. Mesmo em suas diferenças, eles encontram semelhanças. O modo como a crescente da amizade acompanha a da história é tão bem trabalhada que o sentimento de cada personagem transborda das páginas.

Tem outros personagens muito importantes no decorrer da história, como o próprio Professor Lovell, o tutor de Robin. Griffin, que apareceu de repente e roubou meu coração, e que representa um ponto de virada muito importante da trama. Anthony, também, que traz um contraste ao discurso do Griffin, que é a razão contra a fúria dele.

Mas todos esses personagens importam muito para momentos chave do livro, então não vou falar mais a respeito deles justamente pela surpresa.

"That they were, in the end, only vessels for the language they spoke."
"Que eles eram, no fim, apenas receptáculos para as línguas que falavam."

Babel é uma ficção especulativa, o que significa que pega esse cenário real e acrescenta elementos fantásticos nele. O Instituto Real de Tradução é um lugar para estudos e traduções, sim, mas também é um lugar que molda a magia que move a Inglaterra - Londres e Oxford, nossas cidades protagonistas.

Barras de prata são os objetos usados para construir a magia. O sistema que R.F. Kuang criou, aliás, é muito criativo; totalmente dependente de palavras e seus significados, e de palavras em línguas que não o inglês dominante - para mostrar, mais uma vez, o quanto a Inglaterra depende daqueles que oprime.

Por isso os tradutores são tão importantes. Babel é movida através deles. A Inglaterra é movida por causa deles. Robin, Ramy, Victoire, Letty e tantos outros estudantes e graduados estão ali para traduzir, sim, mas alguns são escolhidos para trabalhar com as barras de prata. Para construir, para esse mundo que não olha para três deles como pessoas, o seu dia a dia através da magia.

Eu nem consigo imaginar os níveis de pesquisa que a autora teve que fazer para escrever Babel. As palavras são o cerne desse livro, o núcleo que dá consistência à história. Não apenas por contarem a história, mas por fazer, assim como fazem nesse mundo mágico, ela ter a infinidade de significados que tem.

É irônico, e nítido, que o Instituto de Tradução tenha o nome de uma tragédia bíblica. Que a torre de estudos e traduções seja um lugar opressivo, quando, na história bíblica, era o lugar onde todos falavam a mesma língua. Pelo menos até a ânsia por poder condená-los ao castigo divino.

"Never forget that you are defying a curse laid by God."
"Nunca se esqueçam de que vocês estão desafiando uma maldição criada por Deus."

Tem uma riqueza de cultura, de conhecimento e de História nesse livro. E é quase hilário o contraste das muitas culturas espalhadas pelo mundo quando ela confronta o fato de que ingleses... quase não têm. Tudo é roubado de outros lugares. Tudo que eles tanto prezam na verdade não tem o brilho e o requinte e o poder que em seus países de origem (o próprio chá inglês é dependente da China, veja bem).

Sabe as aulas de História, quando estudamos sobre as colonizações e ficamos com muita raiva? Babel pega essa raiva e multiplica por milhões.

O que começa com uma simples história sobre um garoto resgatado de um lar destruído, a quem é dada uma oportunidade de estudo e crescimento na vida, se transforma em questionamentos furiosos sobre o dedo do império mexendo onde não deve, sobre como o sistema é cruel, branco e elitista, e sobre como a violência e a destruição talvez sejam a única língua que grandes poderosos consigam entender sem a ajuda de um tradutor.

O inglês é de nível intermediário, mas achei que apanharia mais para ler. Foi relativamente suave, com exceção de termos mais antigos e diálogos rebuscados. Não é inacessível para quem já tem o costume de ler em inglês.

"Power did not lie in the tip of a pin. Power did not work against its own interests. Power could only be brought to heel by acts of defiance it could not ignore. With brute, unflinching force. With violence."
"O poder não estava na ponta de um alfinete. O poder não trabalhava contra seus próprios interesses. O poder só podia ser forçado a se ajoelhar por atos de desafio impossíveis de ignorar. Com força bruta, inabalável. Com violência."

Mas eu tô bastante curiosa e empolgada para ler Babel em português, justamente pela questão da tradução. Ela é tão intrínseca e essencial à trama, ela é tão falada e relembrada e é o motor que move nossos protagonistas e suas provações, e quero muito ver como esse livro vai ser na minha língua materna.

Inclusive, optei por deixar as quotes em inglês, seguidas pela minha tradução delas.

Babel é um espetáculo narrativo. O tipo de livro que palavras não fazem jus, porque é uma experiência que você tem que viver. E eu estou dizendo como uma obrigação, sim. Estou te obrigando a ler Babel. Estou te obrigando a questionar e sentir raiva e melancolia e esperança. Estou te dizendo que R.F. Kuang escreveu um clássico moderno, e que esse livro é um dos mais importantes que já aconteceu para a literatura.

site: https://www.queriaestarlendo.com.br/2023/01/resenha-babel-rf-kuang.html
Matheus 14/03/2024minha estante
Tô lendo esse é tô apaixonado. Que livro PERFEITO!!




Brunareader 05/03/2024

INCRÍVEL!
Há séculos que eu tinha vontade de ler esse livro, mas nunca achava ele em português e quando ele finalmente saiu no Brasil não perdi a oportunidade de deixar de lado outros livros e colocar ele na frente. É maravilhoso, incrível, a leitura é super fluida e envolvente. É claro que assim como quase todos os livros você sente vontade de dar uns tapas nos personagens. Nunca passou na minha cabeça que o final seria assim e sendo sincera se ele tivesse sido diferente teria sido uma porcaria.

Amei, amei, amei. Maravilhoso apenas! ??????
brenda_95 05/03/2024minha estante
quero muito ler esse.




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Maisa @porqueleio 25/05/2024

Resenha / Babel /@porqueleio
Que construção magnífica! Apesar de lento – a autora discorre muito sobre tradução, linguística, colonialismo, deixando a fluidez prejudicada em algumas partes – a história é como um grito do oprimido. Como disse Paulo Freire, “o sonho do oprimido é ser opressor”, por isso em alguns momentos esses alunos se perdem nas belezas da escola e da magia. Esquecem suas raízes e suas crenças, mas claro que isso não dura para sempre.

Quando fica claro como a Inglaterra se enriquece, como ignora as outras culturas, como é condescendente com os outros povos, fica impossível voltar à normalidade de Babel. Foi uma história tão diferente, tão criativa e avassaladora, que precisei gravar um vídeo...

site: https://www.instagram.com/p/C7CsoBMRola/?img_index=1
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Vitorin 19/02/2024

Ok!!! RF Kuang sabe escrever MUITO BEM!!!
A ambientação impecável, amo a base histórica que a autora usa sempre nas obras!!! (E as criticas que ela faz são sempre impecáveis sério!!)
Tanto a parte do mapa e das coisas num geral, o contexto histórico é masterpiece!!
massss essa Dark Academia me da preguiça as vezes!
ponto negativo: tem partes mto lentas e mesmo q eu entenda q seja pra desenvolver tudo q acontece as vezes me dava preguiça!!!
Amo as criticas do livro e os personagens são o ponto alto ?!!! Sempre tem algum plot q prenda mesmo quando ta lento!!!
A construção das coisas é muito boa e linda e o contexto + a parte da tradução é ???
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