spoiler visualizarLucy 01/01/2024
Não fede, mas também não cheira.
Primeiramente, informo que não vá com expectativas que será uma GRANDE FANTASIA cheia de inovações, escrita magnifica e plots de explodir o cérebro. Não se escrevem fantasias assim já faz bastante tempo. Tendo isso em mente, com sorte, podemos aproveitar melhor a leitura do primeiro volume de Promessas Vazias, duologia (ao que tudo indica) de maior sucesso no nome da autora, Lexi Ryan, acredito eu.
A escrita de Ryan não é ruim, mas também tá longe de ser boa. É aceitável, para o tipo de livro que ela escreve. No entanto, mantive uma certa irritação pela protagonista, Brie, personagem essa que tem um vício em demonstrar, ou melhor, 'jogar na cara' do leitor o quanto ela é "diferente das outras garotas" ou o quanto "ela não é igual as outras mulheres". Isso se torna ainda mais irritante quando provem em pensamentos e falas da própria, a vergonha se tornou um sentimento quase físico para mim ao acompanhar o desenrolar dos diálogos e cenas com ela. No entanto, isso acaba por ser tornar apenas presente nos capítulos iniciais da obra, após ela chegar ao mundo dos feéricos e tudo mais, ela começa a falar menos e mostrar mais do seu potencial como protagonista.
As coisas só começam a andar realmente quando ela se encaminha para o tal reino dos feéricos que tem uma "divisão de sangue" entre eles que vai funcionar como plot principal da estória. A autora tenta (ou não né) desenvolver os personagens e acontecimentos anteriores à ida da Brie para o reinado dos feéricos. Mas são tão fúteis e esqueciveis que não terá problema nenhuma você se desligar totalmente de tais episódios. O único ponto realmente intrigante é a venda da irmã da Brie, que vai fazer parte de toda uma "tramoia"/plot entre os personagens e sua sede de poder.
Sede essa de poder totalmente egoísta, lembre-se, esse atributo é presente em TODOS os personagens principais. Desde Abriella, Rei Unseelie... E principalmente seus 'pares românticos', Ronan e Finn. Todos são personagens que são dignos da desconfiança, isso não foge nem mesmo da própria protagonista. Que vive tanto para enganar, como também para ser enganada. Todos são lobos uns dos outros. No entanto, acredito que esse é o ponto crucial que fez eu gostar moderadamente da obra, mesmo que seja uma escolha de plot já bem vista em diversos outros livros do mesmo gênero. A autora sabe trabalhar de forma razoável o desenrolar dos acontecimentos dentro do famigerado plot.
É no mínimo interessante os elementos do mundo que Lexi criou. Por ser um livro de Alta Fantasia, diversos seres místicos são apresentados ao decorrer dos capítulos, alguns sendo utilizados em pequenas tramas no livro. Mas de resto é igualmente idêntico a maioria dos livros de fantasias atuais que tem seu 'mundo' fundado em características medievais. Ainda tem a presença do triângulo amoroso, tá longe de ser o estilo de romance que eu gosto, mas isso é total gosto pessoal.
Outro galho de clichês (muitíssimo utilizado) que é muito importante na narrativa (já que serve de engrenagem para o desenrolar de praticamente todo o livro) é o objetivo de Brie em encontrar alguns objetos para o Rei Unseelie. Uma vibe bem Acotar e outros livros do tipo, em conjunto com o clichê da protagonista que tem um poder oculto que não sabe controlar e aí tem que treinar para controla-los e blá blá blá. Quem já é adepto desse tipo de leitura, deve tá acostumado com esse roteiro pré-programado. Mas, não vou mentir. O poder das sombras de Abriella é interessante, acredito que é mais interessante que a maioria dos poderes presente em diversas outras protagonistas do tipo. Querendo ou não, elas são sempre iguais.
Falando sobre os poderes, eu sempre fico "encucada" com os limites ou a não-existência de limites dos seres feéricos em obras fantásticas. A maioria dessas fantasias não possuem um sistema de magia, ao menos, não diretamente apresentado na obra, sempre de forma subjacente. Não que isso seja ruim, existem incontáveis livros que sabem trabalhar bem com a subjetividade de habilidades místicas dos seus personagens, como exemplo, Melissandre, das Crônicas de Gelo e Fogo, vulgo Game of Thrones. No entanto, não entra na minha cabeçinha pequena que uma rainha mística consegue lançar um feitiço que vai amaldiçoar centenas ou milhares de outros seres e transmutar a realidade. Mas não consegue fazer uma maldição para uma única pessoa permanecer apaixonada por ela (trama e plot do livro da rainha que não aceita que foi trocada por uma humaninha zero à esquerda kkk). Sei que isso é uma forma mais fácil de desenrolar tudo com mais facilidade, mas se você, como autor, não dá limites de magia mística à um ser, logo, ele se torna uma caixinha repleta de surpresas, ou melhor, problemas de furo. Principalmente quando ele é ponto tão crucial na sua obra.
O livro é muito dito como "sexy e cheio de ação", mas essas são as partes que mais decaem na escrita da autora. As cenas de ação, principalmente as principais (como a morte do rei Unseelie), são rápidas e escritas de forma muito superficial. Mal elaboradas. Não vou nem comentar sobre as cenas de sexo, que já são lá bem escassas, sendo sincera, ainda bem.
Falando nisso, Ronan e Finn são dois potenciais parceiros românticos de Brie. Mas se eu fosse ela, escolheria nenhum dos dois. Sendo sincera, tenho minhas dúvidas sobre o real (e inicial) sentimento da protagonista por ele. Fica aí na dúvida, ela não amava verdadeiramente ele ou a autora transformou completamente a personalidade (que não era das melhores) da nossa heroína para o que era conveniente ao roteiro. Aposto na segunda opção. Só analisarmos o tempo que Brie 'amou' Ronan (2 anos, se não me engano, ou mais), seus pensamentos, demonstração de sentimentos, toda a construção envolta deles para ela simplesmente começar a se apaixonar pelo Finn por causa da aparência? Tão superficial, dessa maneira? E sejamos sinceros, a personalidade do Finn era um porre, mesmo ele sendo um querido com o avanço da obra. Acredito que faria bem mais sentido as demonstrações amorosas/sentimentais de Brie por Finn começarem após aquela cena horrenta do Ronan se envolvendo até demais com outra garota (se é que me entende), principalmente depois daquela desculpa capenga que ele deu.
O Finn também não fica muito atrás quando se trata de ser um fi de rapariga, mas todos são, até a Brie é. Mas com certeza o Ronan fica com a coroa (quem leu o livro entendeu bem o trocadilho). No entanto, acredito que isso seja o que me fez gostar, de certa forma, da trama que se seguiu.
Em suma, Promessas Vazias é um livro preenchido de clichês que já é esperado de obras medianas como essa. Mas, temos que levar em conta que o livro prometeu ser uma farofa, e foi uma farofa. Pretendo em algum momento ler a continuação, o que facilita a minha vontade de saber o desfecho da estória de Brie, Ronan e Finn é saber que é uma duologia. Ler esse livro é como assistir um filme chiclete da sessão da tarde. Você vai sem esperar muita coisa, ele entrega exatamente o que você esperava, você dar umas risadinhas, é engraçadinho, é isso.
Não fede, mas também não cheira.