spoiler visualizarRick Shandler 09/03/2024
Amora - Natalia Borges Polesso
A heteronormatividade nos impõe uma visão de mundo muito restrita. Enclausurados nos moldes que nos são dados acabamos tendo dificuldade de entender qualquer coisa que escape daquilo que temos como ?normal?. Quem se encaixa bem dentro destes moldes, apesar de por um lado lidar com toda a benevolência possível de um sistema voltado para quem ?segue suas regras?, se vê também ceifado de uma realidade muito mais plural e bonita do que a que lhe é vendida. E quem não se encaixa? Pra quem não se encaixa as dificuldade são inúmeras. Para superá-las é preciso muito amor. É preciso muita amora.
Amora é um livro de contos que traz um panorama do que é ser lésbica. Uma sequência de histórias curtas, com diferentes vozes que compõem uma colcha de retalhos de percepções, sentimentos, dores e amores. Vemos desde crianças descobrindo-se diferentes a velhas companheiras esbanjando um carinho construído em décadas de relação. Vemos adolescentes conhecendo seu corpo e as primeiras paixões, e vemos mulheres maduras vivendo a pleno suas relações. Vemos o medo, a vergonha, o preconceito e a repressão, mas vemos também o companheirismo, o carinho e a liberdade.
Mais do que o tema, o que se destaca no livro é a sua execução. A ampla abordagem poderia facilmente dar um tom enciclopédico para o livro, quase como se fosse um dicionário lésbico. Mas, é longe disso o que acontece. Polesso escreve com uma sensibilidade ímpar, trazendo diferentes tons e nuances para as suas histórias, mas acima de tudo muita beleza, seja nos momentos de dor, seja nos momentos de êxtase. Sua escrita explícita a beleza que a heteronormatividade insiste em esconder.
Acima de aceitação, respeito ou orgulho, Amora fala de naturalidade. Amar, viver e ponto. O rótulo criado pela heteronormatividade é artificial. Amora é natural. Tem que amar. Tem que ler. Tem que ler amora.