Vanderson.Alves 23/11/2022
Uma obra prima sem dúvida. Que obra extraordinária. “Fogo Morto” se tornou um dos melhores livros que já li da literatura brasileira, simplesmente por tocar na gente com uma sabedoria de milhões, que várias outras obras não consegue nem chegar aos pés.
“Fogo Morto” tem três partes que dividem sua obra, O mestre José Amaro, O engenho de seu Lula e O capitão Vitorino e cada uma delas aborda a vida das suas personagens principais e tudo que está ao redor de cada uma, mostrando de forma sucinta vários acontecimentos que culminam o ponto central para cada crítica prescrita pelo autor.
Como no próprio livro que encontrei fala, Benjamin Abdala Junior, a crítica central do romance de Lins do Rego está no orgulho humano, que fica presente e evidente em cada um dos três personagens principais, cada tratando de um jeito, que os levam uma loucura que pode ser o seu ponto crucial para sua história. Mas, a loucura não está presente somente neles e sim na maioria de os outros personagens secundares que entraram e saíram da história, de forma rápida ou não. E eis o primeiro personagem marcante que me fez como outros ter um misto de emoções e sentimentos para com ele, o mestre José Amaro. Homem trabalhador e amante de sua profissão, um seleiro, um fazedor de selas, entre outras coisa de couro. Porém, homem de gênio extremamente forte, arrogante, um certo ar de preconceituoso, turrão, ignorante e acima de tudo orgulhoso. E é esse orgulho que o faz destruir sua vida:
“— Eu agradeço, mas uma coisa eu lhe digo, seu Floripes, comigo não vai esta história de disse que disse. Comigo é no verdadeiro. Este negócio de fuxico, de galinhagem de mulher, não é para homem do meu quilate. Estou na minha casa, no trabalho, e quem quiser saber o que pensa o mestre José Amaro, que me pergunte, que digo na cara. É ali na focinheira. Está ouvindo, seu Floripes? Este homem que está aqui não tem medo de careta. Não tenho medo nem dos grandes nem dos pequenos. Tenho uma mulher e uma filha. É tudo o que tenho. Mas quem quiser saber o que vale mestre José Amaro que se meta com ele. Está ouvindo, seu Floripes?”
Ignorante até dizer chega, não consegue reconhecer uma simples conversa e trata como atrevimento discutindo com todos e depois de um dia de trabalho resolveu ainda andar noite a dentro com um simples intuito de ter um lindo passeio ao luar, coisa essa que nunca tinha feito antes. E por ironia do destino, do nada é taxado como “lobisomem”. O que dá na cabeça de alguém de levantar tal acusação sem mais nem menos? Vai entender. Noção nenhuma para tal. Mas isso de início não o abala, porém com o tempo o peso de tal acusação começa a fazer efeito, pois, ele começa a ver que agora mulheres e crianças tem medo dele e correm ao reconhece-lo e principalmente agora, que depois de anos cuidando de sua casinha simples, é expulso de lá pelo dono do engenho simplesmente por aumento de conversas de Floripes. E a casa que seu próprio pai construiu como seu próprio suor tem que ser abandonada. Mas isso, não pode simplesmente acontecer assim, sem mais nem menos, ou pode? Vamos ver, meus caros.
O coronel seu Lula de Holanda, foi o pior de todos os três. Todas a características que contem em um é parecida com a do outro, porém teu seu grau um pouco diferente e com o coronel, ainda reina um deboche de matar um na unha, destruindo qualquer senso de paz a qualquer conversa e levando a conflitos demasiados desnecessários, como é o caso da visita do Mestre a casa-grande de Santa Fé:
“— Hein, mestre José Amaro, quem manda neste engenho?”
A soberba o leva a ser arrogante com todos do engenho que os considera uns “camumbembes” e faz com nessa converso com o mestre Amaro repita isso várias e várias vezes sem necessidades, humilhando o seu semelhante. Mas não é só por isso, que tomei ranço eterno por ele. O livro foi narrado na metade do séc. XIX para inicio do séc. XX e a história do engenho começa exatamente ainda na escravatura com o antigo senhor criando do zero o engenho com o maior respeito aos seus escravos. Porém, por alguns acontecimentos isso começa a munda antes mesmo do genro assumir de vez o mesmo. Seu Lula veio de Pernambuco para casa com dona Amélia, pois, capitão Tomás foi muito seletivo com quem iria casar com a filha e terminou achando alguém pior para tal atribuição. E depois de sua morte tudo mudou para a pior no engenho, os escravos eram castigados sem motivo algum no mais puro desejo de ser superior:
“— Sinhá, Chiquinho não fez nada. Seu Lula gosta de dar em negro, sinhá.”
Isso não é ser gente.
E o Capitão? Ah, no fim tive um certo encanto por ele. Ser engraça e maluquinha:
“— Seu Vitorino...
— Capitão Vitorino, e não é favor.”
“— Papa-Rabo, Papa-Rabo.
E no silêncio da tarde a voz rouca do compadre, respondendo: —
É a mãe, é a mãe.”
Acontecimento como esse vai rodear o livro e fazer você ri, ter raiva, gosto e várias outras coisas. O mais arretado de todos. Não abaixa a cabeça e não leva desaforo para casa. Trazendo assim, situações que o deixam na pior algumas vezes. O capitão é compadre do mestre José Amaro e no decorrer da história cada um termina tendo um apresso pelo outro que não tinha no começo.
Seu Vitorino, ops, capitão Vitorino, é homem político e tem um senso de justiça invejável que o leva a fazer o de tudo para consertar as coisas e da razão aos “pequenos” do mundo. E por conta de três prisões injustas pelo tenente da polícia, Maurício, que prende mestre Amaro, Jose Passarinho e o cego Torquato, não só prendendo-os como espancando-os e chicoteando-os sem precisão:
“Uma lapada de cipó de boi deu com Passarinho no chão.”
A perseguição ao cangaceiro da época, capitão António Silvino, acarreta em ações miseráveis a população. Vários são castigados em busca de resposta que não tinha e infelizmente torce para que o pior acontece com essa guarda policial. Por que infelizmente para essa época só “O capitão Antônio Silvino sabia agradar.”
Não só o orgulho é criticado na trama, mas outras ações populares também e umas delas é o falatório sem medidas e o aumento das coisas como é o caso principal do “lobisomem”. Toda conversa pode ser colocada de uma maneira bem diferente e causando atritos inconfundíveis que causaram um mau sem medidas a todos ao seu redor.
Bem, Fogo Morto me fez acima de tudo chorar, pois, José Lins do Rego teve uma criatividade sem medida em sua escrita criativa. Não deixe esse livro morrer e o leia, você certamente irá se maravilhar.