jota 26/12/2021BOM: dezesseis contos de LFT selecionados pela professora de literatura da UFRGS, Léa Masina, seus preferidosLido entre 17 e 24/12/2021. Avaliação da leitura: 3,8/4,0
A justificativa para a seleção dessas histórias de Lygia Fagundes Teles segundo Masina: “em seus contos leem-se as transformações que afetam a classe média brasileira a partir dos anos cinquenta [do século XX] e, mais especificamente, no período da ditadura militar. Coincidindo com o avanço da Psicanálise nos centros urbanos, sua obra tematiza as angústias, os desencontros, as misérias humanas, com ênfase à violência nas relações sociais mais próximas: amorosas e familiares.”
Bem, depois disso parece desnecessário dizer algo mais sobre Lygia ou a coletânea. A avaliação é do retorno emocional que a leitura de cada conto me deu, não um julgamento de cada uma das histórias do volume. Vamos a um pequeno resumo de cada uma:
Antes do baile verde – o baile de Carnaval para o qual entusiasmadamente se prepara com uma fantasia em diversos tons de verde (parecia uma festa palmeirense) torna-se a maior preocupação de uma jovem. Muito mais do que a saúde de seu pai, bastante doente no quarto ao lado. Filha ingrata... MUITO BOM
A caçada – homem fica fascinado com uma velha e empoeirada tapeçaria de caça que está se desmanchando numa loja de antiguidades. Nela enxerga coisas que teriam a ver com sua vida, seu passado, como se fizesse parte da cena ali representada. Volta à loja para observar novamente a cena da caçada e dessa vez seu coração parece (perece) atingido por uma seta... BOM
O jardim selvagem – garota estranha que seu tio Ed diga que Daniela, sua futura mulher, parece ser assim como um jardim selvagem: o que isso significaria? Também tem a bondosa tia Pombinha, mas com uma mulher selvagem como Daniela por perto essa história pode não terminar nada bem para o titio. De fato... BOM
Natal na barca – num barco noturno, com apenas quatro passageiros, narradora nota uma mulher pobremente trajada, que carrega um bebê silencioso demais. Fica sabendo de todo o drama dela, e põe drama nisso! Pelas circunstâncias e fatos, é impossível não pensar em Maria e no menino Jesus: o título do conto já dá a dica. BOM
A ceia – de início parecia que era apenas um casal em busca de uma mesa de restaurante para jantar. Mas conforme a história vai se desenvolvendo vemos que a relação entre eles terminou, o homem pretende se casar com outra, mas a mulher insiste, ainda quer ficar com ele. Situação difícil... BOM
Venha ver o por do sol – a história dos ex-namorados Ricardo e Raquel começa um tanto romanticamente e termina de modo assustador (mesmo numa releitura). Ainda que seja o mais belo por do sol do mundo é um tanto estranho desfrutá-lo num cemitério abandonado, não? Mas que assusta, assusta sim... ÓTIMO
As pérolas – Lavínia se prepara para ir a uma reunião social; Tomás, o adoentado marido ficará em casa. Ela usaria um belo colar de (falsas) pérolas, que ele escondeu dela (no passado prometera que um dia lhe daria pérolas verdadeiras, coisa que jamais conseguiu fazer). Nessa história entra também certo Roberto, um amigo de ambos do passado, que estará na reunião. Estaria Tomás enciumado? BOM
O menino – garoto vai ao cinema com sua mãe, bela mulher de quem ele se orgulha muito, mas depois, durante a sessão, descobre que o homem que no escurinho se senta na poltrona ao lado dela parece estar ali não exatamente para ver o filme, mas para outra coisa. O mesmo ocorre com sua mãe... MUITO BOM
As formigas – duas estudantes alugam um quarto de pensão onde, numa caixa, repousam os ossos de um anão (esquecidos ou deixados ali por outro estudante de medicina). Formigas aparecem e desaparecem misteriosamente no quarto enquanto juntam os ossos e vão dando forma ao esqueleto. Elas ficam arrepiadas. Arrepiou-se? MUITO BOM
Tigrela – uma história ambígua, com toques fantasiosos ou fantásticos, assim como As formigas, mas desta vez o animal em questão é uma tigresa. A narradora conta o diálogo que teve com Romana, a jovem que convive com Tigrela (tigresa + ela?), animal que adotou, “dois terços de tigre e um terço de mulher”. No fundo mesmo o conto trata de sexualidade feminina, percebe? REGULAR
Herbarium – menina é apaixonada pelo primo, que tem um herbário num sítio: ela procura lhe trazer folhas raras, que o rapaz ainda não tem. E as encontrando, fica “tremendo inteira de paixão”. Mas uma bela moça da cidade surge na história, com ela o rapaz deveria partir, conforme tia Clotilde havia sonhado antes. Nesse dia a menina encontrara uma folha raríssima. E agora, enciumada, dará a folha ao primo ou não? BOM
Pomba enamorada ou Uma história de amor – a pombinha do título é o pseudônimo que uma mulher, “ex-princesa do baile”, usa para fazer declarações apaixonadas, diretas e indiretas, a Antenor, com quem dançara então. Ele está apaixonado por outra, não quer saber dela. Mas a insistência da pombinha enamorada é infinita e acompanhamos ao longo dos anos essa excêntrica história de amor de mão única... BOM
Lua crescente em Amsterdã – se a lua era crescente, o amor era minguante nesse conto insólito, narrado quase que exclusivamente através dos ressentidos diálogos de um casal: o relacionamento chegou ao fim. Os jovens encontram-se na capital da Holanda, têm fome e não têm onde dormir, estão num banco de jardim. Completa o cenário uma loura menina holandesa, passando por ali com um apetitoso bolo... REGULAR
A estrutura da bolha de sabão – mulher reencontra, num bar, um antigo amante, um físico que estudava justamente a tal estrutura, acompanhado agora de outra mulher. Parecia que seria uma história de ciúmes, mas conforme caminhamos para o final do conto e ficamos sabendo que o físico agora está doente deixamos de lado a ideia de um triângulo amoroso, que a coisa é mais séria do que apenas isso. BOM
História de passarinho – conto bastante curto em que um homem de cabelo ruivo, teria enlouquecido e fugido de casa. Tudo teria a ver com um passarinho criado boa parte do tempo solto e que um dia, por descuido (porta da gaiola aberta), um gato comeu. Seu casamento não ia bem então: a mulher e o filho desgostavam do pássaro, do homem igualmente. MUITO BOM
Dolly – passado nos anos 1920 o conto envolve certo mistério. Trata de um crime envolvendo uma garota, Dolly (na verdade, Maria Auxiliadora), que queria ser atriz de cinematógrafo, como se chamava o cinema mudo então. Outra garota, que a visitava para alugar um quarto na casa, descobre-a morta, sua luva branca fica manchada de sangue... REGULAR