Lara 05/04/2023
Machado sendo Machado. Impressionante como em pouquíssimas páginas ele consegue construir passado e presente, com a complexidade das relações humanas envolvidas. A narrativa vai levando a gente, com a aparição tímida do narrador que conversa com o leitor (essa forma de narração que atinge seu ápice em memórias póstumas...), a descobrir os pormenores de um triângulo amoroso. Pouco a pouco revelado e rapidamente terminado, mas não sem antes mostrar como nós humanos brincamos com a nossa própria realidade, acreditando naquilo que nós convém acreditar. Em poucas páginas vemos o ceticismo dar espaço a uma fé cega na palavra da cartomante. Mas, uma vez que as personagens já tinham superado sua moral e sentimentos de lealdade, não falta mais que um passo para superar a sua racionalidade. O final é gráfico e resulta das pequenas casualidades da vida que Machado sabe tão bem trabalhar. Curto, direto e muito bem escrito, como era de se esperar..