spoiler visualizarisa godoi 04/11/2023
Tema importante porém personagens chatos
Participei de uma leitura coletiva que, com as trocas, metas e influências das outras leitoras, me instigaram a perceber minúcias da personalidade dos personagens além de aspectos da própria escrita que talvez eu não tivesse expertise para notar sozinha.
Achei os temas muito pertinentes, demonstrando como, ainda hoje, é importante falar sobre a diferença na educação de homens e mulheres, adultério e a validação da socidade perante isso, as consequências dos abusos de álcool no círculo familiar, o poder (ou falta dele) das mulheres para expor e lidar com as violências, seja psicológica, patrimonial e até da repreensão da sua existência como ser de desejos. Enfim, tais problemas são abordados em uma época em que não se falava sobre, por isso a genialidade e coragem de Anne Bronte.
Por outro lado, a escrita me incomodou bastante, principalmente no formato que se popõe ser: romance epistolar. Senti que vários momentos poderiam ser reduzidos ou retirados, sobretudo nas trocas entre a Helen e o Gilbert, que acabam sendo muito melosas e até infantis, desconfigurando o teor da história e a força da Helen. Os diálogos transcritos de forma literal nas cartas e o labirinto da história, dentro da história, dentro da história, com tantos detalhes e lembranças tão minuciosas, fazem a obra menos verrosímel.
Um ponto importante e que me fez pensar em Jane Eyre (apesar de considerar este muito superior) foi a religiosidade marcada na personagem principal. Helen foi criada em um ambiente cristão mas, na juventude, parece desafiar os ensinamentos, a fim de tomar decisões levando em conta seus desejos internos, esquecendo-se da racionalidade. Com o tempo e contra sua vontade, vive, das piores formas possíveis, as consequências de sua escolha e, mesmo após passar por tantas tempestades, mostra-se disposta a retornar e cuidar daquele que a feriu tão intensamente, talvez num movimento de redenção.
Helen é rodeada por homens desprezíveis, iniciando por Arthur, seus amigos, Hargrave (que cara chato!!! Não parava de assediá-la) e até o bocó do Gilbert, um homem sem graça, sem carisma, chato, imaturo e infantil, que a conquistou de uma maneira que até agora não entendi como aconteceu.
Foi o livro que menos gostei das irmãs Bronte (já li O morro dos ventos uivantes e Jane Eyre), porém, talvez seja o mais realista e fácil de se encaixar nas temáticas da sociedade atual.