Li 31/03/2011DESAFIO LITERÁRIO 2011 - MARÇO - ROMACES ÉPICOS *LIVROS 5, 6 E 7*Sinopse: O arquipélago, última parte da trilogia O Tempo e o Vento, encerra a saga da família Terra Cambará. No primeiro volume, o Brasil, o Rio Grande do Sul e Santa Fé se modernizam, Não cabem mais aos planos das oligarquias tradicionais. Os Cambarás retiram o apoio ao governo e aderem à revolução libertadora em 1923.
No segundo, os conflitos delineados no primeiro se adensam. A revolução de 23 chega ao fim e ao Rio Grande do Sul é pacificado. As novas contradições do Brasil chegam à família Terra Cambará: guarnições militares das Missões se rebelam e Toríbio, o irmão mais velho de Rodrigo, une-se a elas na formação de uma coluna revolucionária que tem um "ilustre desconhecido" à frente, um certo capitão Luiz Carlos Prestes..
No terceiro, os caudilhos gaúchos se rebelam, tomam a capital federal e inauguram uma nova era política no Brasil. Tudo converge para uma encruzilhada de tempos e memórias: Rodrigo Cambará tem um acerto de contas definitivo com o filho, Floriano, que começa a escrever o grande romance de sua vida.
As narrações de cada volume são divididas em basicamente 3 partes: o passado (começando por volta de 1923, quando o clã Cambará resolve abandonar o governo. Aqui também se observa o caminho da vida política e ideológica de Dr. Rodrigo e seus amigos), o presente, (no fim de 1945, que procura explicar porque Dr. Rodrigo voltou para Santa Fé depois da queda do Estado Novo e conta como anda a vida da família) e em capítulos curtinhos em que Floriano, o filho escritor de Dr. Rodrigo, rascunha sobre o passado familiar, o presente e sua falta de raízes, e o futuro, tomando notas para seu novo romance. No último livro a estrutura muda um pouco com a perspectiva familiar observada por outra pessoa.
Como sempre, a política é discutida e rediscutida aqui e confesso que depois de ler os volumes d´O retrato não tinha mais paciência de prestar muita atenção nisso... Mas as picuinhas domésticas e os relatos da vidinha da cidade, sempre me divertiram na leitura, não sou muito de conflitos e ideologias ferrenhas. Mas apesar de minha pouca atenção aos diálogos políticos, posso dizer que são verdadeiras autópsias das ideologias! Fiquei pensando como uma cabeça pode ter “coreografado” aquilo tudo... Há personagens que defendem a causa, outros que a contrapõe com igual fervor, além dos indecisos e os quase neutros... Enfim, acho que criar argumentos fortes de vários ângulos e deixar que o próprio leitor se decida de que lado se sente melhor em ficar é um grande feito de Érico!
Os assuntos metafísicos continuam fortes, mas o autor não tenta converter ninguém a nada, podem ficar sossegados. Na verdade, os diálogos sobre este assunto tem um cunho mais filosófico. Outro aspecto forte n´O arquipélago, principalmente no 3º tomo, é a questão social.
É interessante ver que como a passagem do tempo influencia conceitos, ideologias, amizades e inimizades, a própria cultura e valores, e como tudo vai mudando, nem sempre para melhor, ao meu ver.
Os últimos livros seguem o padrão de ótima leitura dos primeiros, mas digo uma coisa: Não leiam com prazo! Política, metafísica, filosofia, sociologia, são faces importantes a se conhecer, principalmente mesclados a fatos históricos do Brasil (mesmo que boa parte seja mais relacionado com o próprio Rio Grande do Sul) e do mundo, mas tudo demais é sobra, chega uma hora que você tem vontade de gritar de nervoso! Pelo menos eu tive quando cheguei ao 5º livro! Quando peguei o último e vi que não precisava correr para terminar no prazo, relaxei e acabei voltando a curtir. Mas fica a dica, leiam com calma e com tempo!
Este trecho de uma conversa entre alguns personagens d´O arquipélago exemplifica bem os 3 últimos volumes da trilogia e são pensamentos de Floriano, o personagem que mais prestei atenção nestes últimos livros, talvez porque ele se pareça um pouco comigo... Enfim:
“- Estive pensando... – continuou Floriano. – Nenhum homem é uma ilha... O diabo é que cada um de nós é mesmo uma ilha, e nessa solidão, nessa separação, na dificuldade de comunicação e verdadeira comunhão com os outros, reside quase toda a angústia de existir.
(...)
- Tenho a impressão – continua – de que as ilhas do arquipélago humano sentem dum modo ou de outro a nostalgia do Continente, ao qual anseiam por se unirem. Muitos pensam resolver o problema da solidão e da separação da maneira que há pouco se mencionou, isto é, aderindo a um grupo social, refugiando-se e dissolvendo-se nele, mesmo com o sacrifício da própria personalidade. E se o grupo tem o caráter agressivo e imperialista, lá estão as suas ilhas a se prepararem, a se armarem para a guerra, a fim de conquistarem outros arquipélagos, Porque dominar e destruir também é uma maneira de integração, de comunhão, pois não é esse o espírito da antropofagia ritual?”
Então pronto, cheguei ao fim da trilogia “O tempo e o vento”. Nenhuma dessas minhas míseras resenhas faz jus à grandiosidade da narrativa de Érico Veríssimo, rs, mas espero ter passado um pouco do meu encantamento com relação a ela e o respeito enorme que tenho agora pelo seu autor! Vale muito a pena conhecer, garanto!
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