O arquipélago

O arquipélago Erico Verissimo




Resenhas - O Arquipélago - Vol. 3


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Agostinho 04/12/2022

O Arquipélago Vol III - Erico Verissimo
Findada a epopeia opto por fazer uma resenha como um todo.

O Tempo e o Vento é composto por 7 volumes, sendo que é subdividido em O Continente, O Retrato e O Arquipélago.

O Continente da origem a história da Família Terra Cambará. Da maneira como é descrita pelo autor, O Continente se mostra como uma espécie de lacuna que preenche o passado de milhões de pessoas sem passado registrado. Brasileiros de modo geral não podem se dar ao luxo de pesquisar sua origem, ela é misturada, fruto da nossa história como um povo miscigenado. Do modo como o autor expõe os fatos, todo gaúcho, de forma romântica, pode entender um pouco mais de suas origens.

O Retrato, se faz de modo mais cirúrgico. Desde o começo (do Retrato), até o fim da obra com um todo, acompanha-se a história de Rodrigo Cambará. Nele conseguimos adentrar mais nas nuances psicológicas do gaúcho, no ser humano dotado de esperanças e imperfeições, e, justamente por isso, de sua unicidade.

Por fim, em O Arquipélago, tem-se a continuidade "do Retrato" de Rodrigo, porém percebe-se que uma nova personagem domina a cena, Floriano, seu filho. Ao que tudo indica, o próprio autor nele se faz presente. Ou seja, se mostra como uma leitura dos anos 20 à 45 pela ótica do próprio Erico, tanto pela sua interpretação dos eventos ali ocorridos como os medos e questionamentos do próprio autor.
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estevesandre 22/10/2020

É incrível como esse último livro se transforma quando chegamos ao diário de Sílvia. Depois de quatro volumes focados quase que exclusivamente nos personagens masculinos, a história passa a ser conduzida pelo olhar de uma mulher, posta novamente em primeiro plano como em O continente. Concordo quando dizem que o ponto forte do Erico são suas personagens femininas. Fiquei encantado com a narrativa da última mulher de Santa Fé criada por ele assim como já tinha ficado encantado com a narrativa da primeira, a inesquecível Ana Terra.
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Amanda 30/07/2020

[IMPRESSÃO DA OBRA COMPLETA - O TEMPO E O VENTO] Finalizei a saga da família Terra-Cambara com lágrimas nos olhos. Que livro! Que orgulho de tê-lo em nossa literatura!! Foi uma imersão dentro da história do nosso país que me levou até estudar, buscar informações (com muito prazer!) pra relembrar o contexto onde a narrativa se encontrava. E os personagens? Quanta profundidade (dos principais e dos secundário)! Diálogos e momentos que me levaram a pensar e refletir sobre o ser humano (lado bom mas mais ainda, seus pontos fracos e ruins) e nos incríveis debates políticos nacionais e internacionais de cada época.

[SOBRE A EDIÇÃO] Li todos da Editora Globo (a maioria da biblioteca municipal
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Ebenézer 25/07/2020

Foram quase três mil páginas caminhando, cavalgando, guerreando, amando, sofrendo e, por que não, morrendo com as aventuras das famílias Terra e Cambará.
(Tentarei rascunhar apenas uma página em uma pobre homenagem a Érico Veríssimo.)
Guerra e Paz de Tólstoi é uma excelente narrativa e disso poucos duvidam.
O Tempo e o Vento de Veríssimo também é uma aventura ainda mais longa, e tão excelente quanto à de Tólstoi, só que melhor....
Leitor dessas duas longas narrativas, a russa e a brasileira, me sinto à vontade para gostar de ambas e até mesmo preferir a nacional.
Dito assim de forma apressada, 'O Tempo e o Vento' pode parecer algo simples. Mas não é...
O Tempo e o Vento tece um feixe narrativo em sete volumes formando um todo único e indivisível:
- O Continente I, 415 páginas
- O Continente II, 495 páginas
- O Retrato I, 413 páginas
- O Retrato II, 368 páginas
- O Arquipélago I, 384 páginas
- O Arquipélago II, 376 páginas
- O Arquipélago III, 488 páginas
Um universo de muita ação, muita história política, muita filosofia, muita reflexão e muita vivência humana em sua mais dura e crua realidade.
Veríssimo tem um jeito bastante peculiar de narrar a saga das famílias Terra e Cambará na formação do povo gaúcho riograndense com reflexos importantes que se espraiam no contexto nacional.
A narrativa de Veríssimo não é uma trajetória linear e progressiva na qual o leitor possa se sentir seguro na sucessão dos fatos, como se isso fosse natural esperar. Veríssimo transgride essa expectativa.
Fica evidente na obra que o autor prioriza o foco narrativo num movimento bastante dinâmico que se assemelha às ondas do mar, ou como o vento, já que o tempo parece um vetor inamovível.
Como as ondas e o vento são indomáveis, a narrativa, num vai-e-vem constante, vai influenciando a percepção do leitor fazendo-o experienciar a vitalidade das personagens em episódios atemporais.
Nenhum leitor fica incólume às asperezas do tempo, tampouco do vento, que sopram em cada personagem, e cujas agruras saltam das páginas de Veríssimo para fazer parte das nossas próprias experiências.
Como negar que das peripécias na política pouco evoluímos? Como negligenciar os ainda modestos avanços do espaço feminino? Seria irrelevante constatar que o patriarcado ainda encontra fortes vínculos na cultura nacional? Ou não reconhecemos ainda em versão sofisticada as chinocas, as Laurindas e os Bentos? Quem não conhece ou vivenciou grandes paixões frustradas?
O Tempo e o Vento proporciona ao leitor infindáveis momentos de pura reflexão sobre a vida em sua plenitude que abrange aspectos da nossa intimidade que preferimos deixar às sombras em sua quietude, mas que estão lá, aguardando que as enfrentemos com coragem e serenidade.
Como o passar de uma grande lanterna o autor vai iluminando subterrâneos das personagens que são também os nossos como leitor.
Como esquecer personagens fortes como Rodrigo e Toríbio Cambará, Floriano, Jango, Roque Bandeira, Maria Valéria, Silvia e Flora?
Para sempre os teremos conosco porque sobre eles nem O Tempo nem o Vento apagarão do nosso imaginário.
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Cy 27/07/2017

Buenas e m'espalho!
Esta não tem a menor pretensão de ser uma resenha. Deseja apenas ser a despedida de amigos que me acompanharam pelo último ano. Pois 'O Tempo e o Vento' não é qualquer coisa que entra e sai da vida sem causar barulho. Ele entra, se espalha, causa "entreveros" internos, te modifica e você o carrega para sempre. É o romance das nossas vidas, da nossa História, da nossa Literatura, do nosso povo. E o Érico é um artista magistral, que concebeu uma obra prima fascinante, de personagens VIVOS (amáveis, detestáveis, sempre genuínos), num texto claro, direto e ao mesmo tempo profundamente poético. As páginas finais do livro são encantadoras e foram um pouco difíceis de ler, devido às grandes poças de lágrimas que de repente brotaram nos olhos. rsss

Enfim, terminei o ciclo de leitura de algo que vou levar para a vida; estou grata por isso. Aliás, quero retirar a despedida do início. Um "até mais" é como a gente se despede daqueles que desejamos rever. =)
Natalie Lagedo 27/07/2017minha estante
Já estás com saudades de Rodriguinho, hein? rs


Lili 27/07/2017minha estante
Kkkkkkkkkk... Tb acho, Natalie!


Cy 28/07/2017minha estante
Não meeeeeeeeeeesmo! Eu estava que nem torcida esperando o gol do título. E nada daquele chato bater as botas, minha nossa!!! O "hombre" é irritante até pra virar o cabo da Boa Esperança. HAHAHAHAHAHAHAHA O Érico me trollou com força nessa, viu. u.u


Débora 22/11/2018minha estante
Cy agora que li sua resenha, amei, concordo plenamente. Rodriguinho difícil de engolir, achei que não morreria nunca kkkk




Carlos Nunes 16/12/2019

O ARQUIPÉLAGO -VOL III
E chega ao fim a saga da família Terra Cambará, de forma brihante! Com a ação ocorrendo entre 1930 e 1945, com idas e vindas nos tempo, da mesma forma que nos volumes anteriores, temos o desfecho de várias situações que estavam em aberto, como qual o verdadeiro relacionamento de Floriano com a cunhada Silvia e quais as origens dos problemas de relacionamento de Floriano com o pai. Essas duas situações são resolvidas em dois momentos cruciais e emocionantes do livro, em que os personagens expõem muito do seu íntimo e de sesus medos e fraquezas. Percebe-se aqui o trabalho hercúleo de pesquisa que Erico fez, para destrinchar todo o panorama sociopolítico da época - as mudanças dos costumes, a agitação política, a ascensão do nazismo (inclusive no Brasil) e a participação na guerra, bem como acontecem algumas mortes, duas delas bem trágicas. Um encerramento com chave de ouro dessa obra magnífica, que tem que ser lida por todos os brasileiros! Deixo detalhes completos da minha experiência no vídeo (link abaixo)

site: https://youtu.be/3yVohY8xAn0
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Thiago Barbosa Santos 03/05/2019

Tomo 7
O último livro da saga O Tempo e o Vento é tocante. O leitor pode acompanhar os momentos derradeiros da vida do Drº Rodrigo Cambará. Quem toma de vez o protagonismo é o filho dele, Floriano, que já é um escritor relativamente bem sucedido e se dispõe a relatar a história da família e da cidade de Santa Fé. O rapaz é de natureza totalmente distinta do pai, e por isso, eles têm uma relação conflituosa, mas acertam os ponteiros, cada um de sua maneira, momentos antes da morte do chefe clã.

Drº Rodrigo Cambará é o típico machão gaúcho, mesmo adquirindo alguns hábitos "da cidade", manteve as raízes através da valentia, por não fugir das batalhas e revoluções e ser extremamente mulherengo, justamente o oposto de Floriano. A relação dos dois estremece de vez quando o pai praticamente o obriga a participar de uma revolução como combatente. Durante um confronto, ele teria que matar um oponente, porém não teve coragem de atirar. Rodrigo Cambará ficou irado ante a vergonha que o rapaz o fez passar em público, expulsando-o do local aos pontapés e dizendo que ele não era mais seu filho.

Este episódio, inclusive, foi traumático por um outro fator. Um alagoano, militar, havia se mudado para Santa Fé e logo estabeleceu uma relação de grande amizade com a família Cambará, sempre tratando como pai e mãe o Drº Rodrigo e a esposa dele, Flora. Mas durante a revolução, negou-se a trair a pátria, disse que, por questões de princípio, os militares não podem se rebelar. Acabaram ficando em lados opostos. O rapaz, durante batalha, acabou atirando no Drº Rodrigo. Era justamente nele, para revidar e salvar a vida do pai, em quem Floriano deveria atirar e não teve coragem. O próprio Drº Rodrigo se encarregou disso e matou o rapaz.

Depois do ocorrido, Rodrigo foi tomado pelo remorso e se moveu para proporcionar um sepultamento honroso para o jovem militar. Foi um fardo duro de carregar.

Drº Rodrigo se tornou um seguidor convicto de Getúlio Vargas, com isso, arrumou muitas brigas na própria família, inclusive com o irmão Toríbio. Logo depois dessa briga, Toríbio foi assassinado após discussão em um baile, morreu praticamente nos braços do sobrinho Floriano.

Outro ponto de grande destaque deste último volume é o amor proibido entre Floriano e a cunhada, Sílvia, esposa de Jango. A moça sempre quis Floriano, ele correspondia a esse desejo, mas ao estudar fora, acabou vivendo novas experiências, o tempo passou e a moça acabou cedendo às pressões do padrinho Drº Rodrigo para que se casasse com Jango. Ele escreveu toda essas histórias em diário e um dia entregou para Floriano ler.

A história termina com Floriano escrevendo o grande romance de sua vida. O primeiro parágrafo é idêntico ao que abre a saga O Tempo e o Vento, a grande obra-prima de Erico Verissimo.
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Egídio Pizarro 11/03/2019

Fico triste por terminar de ler
O fascínio que a obra de Érico Veríssimo exerce em mim é imenso. Eu fico embasbacado de ver como ele consegue espalhar um pouquinho de si em cada personagem, em como eu consigo me ver em tantas passagens e como tantas passagens me iluminam as ideias.

Sou tão grato por ter existido uma pessoa como Érico Veríssimo que não consigo deixar de achar que ele é pouco valorizado pela cultura nacional.
Craotchky 11/03/2019minha estante
Também acho um pouco abaixo o reconhecimento que ele tem em relação a qualidade da literatura que ele atingiu.




Andrea.Rodrigues 29/12/2023

O desafio que virou a melhor companhia de 2023
2023 chegando ao fim e com ele também encerro a leitura de O Tempo e o Vento.

No início a meta parecia ousada, ler os 7 livros ao longo do ano, 54 páginas por semana e isso em meio às outras leituras que me propus no ano. Mas foi só começar pra perceber que não haveria dificuldade nenhuma, pois a escrita do autor se mostrou muito leve/ interessante.

Ao longo da leitura chorei, sorri, tive ranço do Dr Rodrigo Cambará no início, mas depois compreendi que ele era um grande apaixonado pela vida e assim como seu filho Floriano, muitas vezes o julguei com um olhar moralista, porém todos nós somos cheios de contradições.

"Precisamos aprender a viver melhor com nossas próprias contradições, com as dos outros e com as da vida."

Assim falou Tio Bicho, um dos personagens que rendeu os melhores diálogos; discussões sobre política, fé, filosofia. Sempre com personagens de opiniões contrárias, mostrando que é possível debater ideias, nem tudo precisa ser preto ou branco, mau ou bom.

A saga da família Terra-Cambará é cheia de revoluções, conflitos políticos, dramas familiares, personagens cômicos, filosóficos, atormentados, homens valentes, mas tendo como base as grandes mulheres da família que foram a força e a alma do Sobrado.

No fim é sobre ilhas humanas, cada uma na sua individualidade, com suas contradições, tentando criar pontes entre si.

Um novo ano chega, vida segue e para 2024 levo alguns ensinamentos desta grande obra  ?
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Lucas 07/09/2017

O tributo à história do Rio Grande do Sul está completo: Resenha para os três volumes
O Arquipélago e seus três volumes, quando foram lançados entre 1961 e 1962, causaram certo espanto. Isso porque o autor, Erico Verissimo, estava se recuperando de sucessivos problemas cardíacos, que acabariam por matá-lo em 1975. Para o bem da literatura brasileira (e porque não, da mundial), ele ainda teve tempo de concluir o maior trabalho da sua vida: a saga O Tempo e O Vento.

De certo modo, seu esforço pessoal era lógico: O Retrato, a parte central da trilogia era, definido pelo próprio Verissimo, como inferior a'O Continente, obra-prima da vida literária do autor e um monumento ímpar ao povo do Rio Grande do Sul. De fato, a segunda parte da saga é problemática por centrar-se na formação do Dr. Rodrigo Cambará, o grande protagonista da trilogia, mas dono de uma incontestável enxurrada de críticas até mesmo de estudiosos da obra. O Arquipélago surge para "suprir" um certo vazio que ficou após o seu antecessor, fechando magistralmente a maior trajetória histórica-literária da literatura nacional.

Seguindo a mesma estrutura narrativa que faz dessa saga tão especial (partindo do "presente", com várias "voltas" ao passado, de um forma muito similar a'O Continente), O Arquipélago continua o desenvolvido em O Retrato, partindo de 1922 e se estendendo até a queda de Getúlio Vargas, no final de 1945. Nas primeiras páginas (em termos cronológicos), Dr. Rodrigo, agora deputado estadual, ainda enigmático, um pouco machista e egoísta, mas inegavelmente apaixonado pela vida, acaba de retornar do Rio de Janeiro, onde esteve com a esposa Flora Quadros (admirável personagem). Já de cara, o leitor tem um panorama prático do contexto, principalmente político, da época, com os primeiros movimentos armados do tenentismo. Aliás, este é apenas um detalhe que Verissimo usa para encantar o leitor da trilogia: a facilidade com que ele mistura eventos históricos aos fatos fictícios de sua narrativa, fazendo com que ela seja um espelho impecável da realidade gaúcha e nacional da época em questão.

Ainda em 1922, Rodrigo e sua família, históricos chimangos de Santa Fé, rompem com o governo do estado (presidido com mãos de ferro por Borges de Medeiros, que viria a ser padrinho político de Getúlio Vargas) e partem, ao lado dos antes inimigos maragatos, para uma revolta contra o sistema político da época. É a Revolução de 1923, último grande conflito civil do Rio Grande, que bombardeia as páginas d'O Arquipélago com história e situações dramáticas, que simbolizam perfeitamente o que de fato ocorreu. Nesse contexto, Erico também direciona sua narrativa às mulheres, cuja força é um dos grandes pilares do fascínio que toda a saga desperta.

Neste aspecto feminino, é digna de nota a personagem Maria Valéria Terra, a "Dinda". De certo modo, é a única mulher que participa ativamente dos fatos históricos que vinham ocorrendo desde a Revolução Federalista (1893). Ela serve como um monumento às mulheres da época: fortes, responsáveis, sábias, rígidas, mas, acima de tudo, protetoras. Um resumo disso se passa num dos últimos capítulos do primeiro volume d'O Arquipélago, onde ela protagoniza um diálogo sublime com Flora, que, na visão particular do autor da presente resenha, corresponde a um dos maiores momentos literários da história da literatura. Maria Valéria é, com isso tudo, uma espécie de "avó do Rio Grande", como o leitor irá perceber.

Quem direciona, na narrativa, o detalhamento do passado, é Floriano Cambará, filho primogênito do Dr. Rodrigo. Na "atualidade" (1945), é por meio dele que o leitor vai, aos poucos, entendendo os motivos que causaram o total desmantelamento do clã Terra-Cambará ao longo dos anos. As razões são diversas: os rumos que a história do Brasil "empurrou" à família, tragédias, divergências políticas, entre outros, afastaram a estirpe da essência do que é ser do sul do país. Um agravante é que este distanciamento não deixa de ter muita realidade prática atual na região. Muito das tradições e costumes cotidianos acabaram se perdendo com a vinda dos anos, mas O Arquipélago se debruça sobre uma questão prática e provocadora de muitos debates atualmente no interior sulista: a criação dos filhos. Não raro é que se diga por aqui que é mais fácil criar filhos no interior, na zona rural mesmo, na "lida" do campo, do que nas cidades, onde o indivíduo cresce com certo desapego a origem da sua família, a sua "casta". É natural isso, não vem a ser um defeito dos "urbanos", mas quem se desenvolve em um meio rural, baseado em pequenas propriedades ou agricultura familiar, adquire mais facilmente o senso de companheirismo, de pertencimento, que ajuda a definir um pouco do que é ser do sul. Assim, Verissimo, genialmente, resumiu na família Terra Cambará um dilema profundamente popular no Rio Grande a partir da segunda metade do século XX, que é um certo desapego ao que ajudou a constituir a imagem única que o sul do pais possui no restante do Brasil.

O pano de fundo fictício de tudo isso, a simpática e representativa (em termos de realidade das cidades gaúchas) cidade de Santa Fé passa pelo mesmo processo de "aperfeiçoamento". É fascinante ao leitor lembrar que a cidade nasceu com a vinda de alguns caboclos em humildes carroças (dentre as quais estavam Ana Terra e seu filho Pedro, que começaram toda a estirpe), ainda em O Continente e acompanhar o seu desenvolvimento: o crescimento da praça municipal com a sua figueira, os clubes de recreação, as colônias alemãs e italianas, as comunidades e distritos mais afastados do "centro", a vinda de forasteiros que ali ficavam, as missas nas manhãs de domingo, o minuano no inverno, as coxilhas e as estâncias, os pés de bergamota... Nada mais poderia simbolizar melhor a história das cidades do interior dos três estados do sul do Brasil.

Como se pode imaginar, entre 1922 e 1945 houve uma imensidade de fatos históricos relevantes em termos nacionais e globais. A ascensão dos EUA nos anos 20, a crise de 29, os regimes fascistas e comunistas europeus, a Segunda Guerra, etc. Além disso, esse período comportou no Brasil o fim da República Velha, com a chegada ao poder de Getúlio Vargas. Pela proximidade geográfica, a Revolução de 30 e tudo que a antecedeu (a Coluna Prestes, por exemplo) possui grande destaque na narrativa. Erico fornece os pormenores dessas "pelejas", explicando todas as questões envolvidas e a contradição que as partes conflitantes acabavam desenvolvendo com o tempo. A eterna rivalidade entre chimangos e maragatos, que exerce certa influência até hoje na cultura gaúcha é um grande exemplo disso: as diferenças entre ambos os grupos eram muito mais profundas que a simples cor do lenço que seus seguidores envergavam, e que o autor explica tão bem, não só em O Arquipélago, como nas duas outras obras. Outro exemplo relevante dessa prática narrativa está em demonstrar as discordâncias e todos os pontos de vista inerentes ao Golpe do Estado Novo, que Getúlio protagonizou em 1937 e que provocou grandes divergências entre seus aliados e até mesmo dentro da família Terra Cambará, que dali em diante realmente não foi mais a mesma.

Apesar da nítida preocupação do autor em mencionar e "trabalhar" com fatos históricos, é fundamental que o futuro leitor de O Arquipélago tenha uma noção prévia do contexto político gaúcho da época, pesquisando a respeito de, pelo menos, duas figuras centrais: Borges de Medeiros, sucessor do histórico chimango Júlio de Castilhos e Getúlio Vargas, que dispensa apresentações prévias. Mesmo que o leitor leia a saga em um fôlego só, é imprescindível que, antes dessa última parte, ele se debruce sobre, principalmente, o futuro presidente e sua habilidade única de aproveitar conjecturas e esperar a hora certa para agir, fazendo tudo isso com uma boa dose de antiética, que, de certa maneira, pode ser interpretada como grande entendimento político.

Se a história do Rio Grande do Sul conduz, amarra e afasta os personagens da ficção de O Tempo e O Vento, ela também fica num segundo plano nos momentos mais apropriados. A ficção é crível sob o ponto de vista histórico, mas também é intrincada, bem elaborada e muito emocionante. Floriano Cambará e a busca do seu "Eu", da sua identidade, é habilmente bem construído, especialmente em seu interior. As suas incertezas e traumas, provocadas, em boa parte, pela personalidade radicalmente diferente do pai, fazem com que os capítulos da Reunião de Família (que se passam no fim de 1945) sejam repletos de reflexões e lembranças, além de relatar um eminente clima de tensão provocado por um polêmico triângulo amoroso. A necessidade que tinha Floriano de encontrar-se a si mesmo é associada a sua carreira de escritor: estagnada e sem brilho. No entanto, a fonte de sua inspiração, para escrever um romance épico, está envolvida em uma crosta resistente, mas que vai se corroendo aos poucos. Como Floriano foi inspirado no próprio autor, os seus relatos e anseios fazem com que o leitor acabe adquirindo uma ideia bem satisfatória dos questionamentos que Verissimo deve ter tido ao elaborar toda a saga: as dificuldades de montar uma obra permeada pela ficção e história são quase infinitas, como o leitor irá perceber.

Ana Terra, Bibiana Terra, Capitão Rodrigo Severo Cambará, Dr. Rodrigo e todos os seus descendentes não são meros personagens de um romance histórico: são tipos tangíveis, símbolos do sul do Brasil e ícones maiores das infinitas mensagens de superação, personalidade forte e trabalho que toda a saga reproduz. Tudo isso conduz a um desfecho único, que, apesar de estar longe de surpreender, emociona o leitor nas últimas linhas de O Arquipélago. A última parte da saga é, assim, justamente avaliada como o último ato de construção de um monumento que homenageia o povo do sul do país, que muito contribuiu e muito contribuirá para o Brasil.
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Silvinha.Teles 26/10/2016

Viagem...
Viagem pelo Sul, amei, me entendiei, sofri e chorei... fantástica narração do povo gaúcho. Ana Terra, Dr. Rodrigo Cambará, velha Bibiana, Maria Valéria e Floriano, foi muito bom estar com vcs ao longo destes 7 volumes.
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Natalie Lagedo 10/06/2016

Na última parte de O Arquipélago foi dissecado o caráter do então Presidente Getúlio Vargas, o que instigou bastante a curiosidade, pois percebemos que em vida aquela personalidade já despertava admiração ou ódio pela sua forma de ser, constituindo-se como um mito antes do óbito. Veríssimo fala como se ele fosse indecifrável, capaz de agradar a todos os ramos da sociedade.

Cumpre salientar que é notável o desejo do escritor de passar a mensagem sobre como todo o tipo de fanatismo é autodestrutivo. O judeu Stein é o representante dessa teoria: trabalhando e sendo torturado por toda uma vida em prol do comunismo, foi ao final expulso do Partido Comunista e acusado de traição à Causa. Vendo não possuir outro horizonte que não fosse a luta contra o sistema de classes, suicidou-se.

Nos capítulos intitulados “Caderno de Pauta Simples” e “Diário de Sílvia” a narrativa toma a forma de cartas ou confissões pessoais. São trechos muito importantes para se entender o sentido de tudo, é como se naquelas páginas toda a obra, desde O Continente, se fundisse e ganhasse proporções maiores. É o romance sendo citado por ele próprio.

Já afirmei anteriormente que as personagens viraram amigas minhas. Tão íntimas que já sabia o que ocorreria com elas no final. Porém, mesmo sabendo não contive as lágrimas. O término da trilogia é sensacional, é só esse o adjetivo que consigo achar.

Dois meses na companhia de O Tempo e o Vento foi encantador. Agora sinto aquele vazio que somente quem já leu obras que falam intimamente com você vai entender. Aproveitei pra escrever enquanto estou tomada de fascinação pelo desfecho da história. O enredo é tranquilo, direto e o autor não usa acontecimentos mirabolantes pra deixá-lo mais chamativo. Ele simplesmente não precisa disso porque não são os fatos em si que tornam a leitura interessante, mas sim a maneira como foram contados.
Ricardo Rocha 11/06/2016minha estante
"não são os fatos em si que tornam a leitura interessante, mas sim a maneira como foram contados" é isso, lindinha


Ricardo Rocha 11/06/2016minha estante
agora não tem jeito, tenho de achar um tempo... (=


Ricardo Rocha 11/06/2016minha estante
agora nao tem jeito. tenho de ler. o unico do autor que gostei foi O prisioneiro (acho que é esse título). Olhai os lirios etc, não muito, embora me lembre que quando li a primeira vez, faz tempo, noutra encadernação, até me comovi


Natalie Lagedo 11/06/2016minha estante
Fico feliz de ter despertado sua vontade de ler a trilogia. De Érico, além dessa saga, li Olhai os Lírios do Campo e amei. Pretendo ainda ler mais coisas dele. Acho que vou adquirir Solo de Clarineta pra desvendar um pouco mais sobre a sua vida.




Francieli51 03/09/2014

Reflexão e personagens apaixonantes
Ainda estou de ressaca literária, vivendo no mundo dee O tempo e o vento, criado por Érico Verissímo.
Só existem duas formas de eu ter Ressaca Literária: se o livro é muito bom, ou se eu levei tempo demais para ler.
Eu levei 6 anos pra ler os oito livros.
O tempo e o vento é uma série incrível, mas ainda é um clássico, e ninguém nega que apesar de apaixonantes, eles são de linguagem mais formal, e portanto, mais chato de ler.
Não que OTEOV seja chato! Nunca! A linguagem é formal, sim, mas imensamente mais contemporâneo que a maioria deles. É gostoso de ler. Os personagens de Érico são vivos por si só (Ana Terra, Bibiana, Capitão Rodrigo, Luzia, Floriano, Doutor Rodrigo, Silvia...), formando verdadeiros seres reais na cabeça de quem lê (Capitão Rodrigo será eternamente meu amante literário e Floriano e Silvia melhores amigos *-*) e nos apaixonando perdidamente por eles.
O arquipélogo, fecha a triologia, com muito do drama característico, e claro, personagens enigmáticos e impactantes. E para fechar com chave de ouro, os agora personagens de diferentes personalidades na família Cambará, causam debates não só empolgantes para quem lê, mas também reflexivos e críticos.
Cada opinião (comunista, anarquista atéia, agnóstica, católica, neo-humanista, getuliana, etc), é tão bem defendida e difundida por cada personagem, intensamente e apaixonadamente, que dá oportunidade de escolher entre elas a melhor, ou até mesmo um pouco de cada uma delas, como eu escolhi. E nenhuma, claro. O que o narrador faz com destreza e perfeição, é apresentar os personagens e suas opiniões de maneira imparcial, fazendo do leitor não um recebedor de informações, mas um verdadeiro crítico do que lê.
Claro que o romance se desenrola entre os debates e a situação política do Estado Novo, cujo governo, Rodrigo é um dos braços de Getúlio. O drama que envolve Silvia e Floriano, proibido e envolve, forma todo o resto mais interessante e gostoso de ler.
Se vou sentir saudade da minha triologia favorita? Claro que sim! De cada um dos personagens... Por sorte livros, diferente da vida real, pode ser vivido de novo e de novo...


site: eisaminhahistoria.blogspot.com
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