spoiler visualizarDayane.Gabrielli 27/06/2023
Zezé é uma criança. ponto.
Meu pé de laranja lima é um dos melhores livros que já li na minha vida. Zezé é uma criança danadinha, bem bagunceira e levado, mas isso também faz parte de ser criança e Zezé estava sendo criança. Durante todo o livro, essa traquinagem é vista de uma forma muito "demonizada", o próprio protagonista afirma isso, no entanto, os demais personagens não conseguem enxergar que todos aqueles atos eram consequência da forma como o Zezé era tratado por todos. Criança nenhuma deve ser tratada de forma tão violenta como o Zezé foi, meu coração enchia de um incomodo doloroso sempre que aquela criança levava um cascudo ou ouvir coisas maldosas sobre suas traquinagens. Os adultos estavam mais focados em brigar do que ensina-lo que certos atos estavam errado.
Glória e Manuel Valadares foram os únicos que conseguiram enxergar o Zezé da forma que ele realmente é. Além disso, sabiam respeitar e entender aquele garotinho travesso de cinco anos. É nítido a mudança do Zezé na presença da irmã e do amigo, ele é compreendido e, acima de tudo, acolhido. Outro personagem que via toda a esperteza e bondade do garoto foi o Ariovaldo, que deu uma chance ao Zezé de mostrar que era um menino de ouro.
Zezé tem um misto de sentimentos muito valioso dentro daquele corpinho miúdo. Sentimentos que devem ser validados e vistos como sentimentos reais. Crianças sentem, elas são minis adultos que ainda não cresceram em tamanho. É muito bonito e, ao mesmo tempo, doloroso, em algumas partes, ler o que machuca tanto o Zezé. A pobreza, o esquecimento, as relações familiares, e a dor que sentimentos quando perdemos quem ou o que gostamos.
Glória era a única da família que o protegia, porque ela tinha a capacidade de enxergar além dos problemas dos adultos, que acham que o bem para seu filho é apenas colocar comida na mesa e o proteger do frio debaixo de um teto. Claro, alimentação e moradia são essenciais, aliás, um direito de todos. No entanto, o cuidado de uma criança vai além disso, chega na compreensão, no ensinamento com amor e cuidado, na proteção. Glória, embora tão novinha, sabia disso.
Manuel Valadares, do meio para o fim da história, foi um anjo na vida de outro anjinho. Zezé encontrou ali um amigão e conseguiu até nutrir um amor paterno pelo português. O portuga não só protegia a criança, ele o entendia e validava seus sentimentos.
A pobreza é um grande empecilho nessa criação do Zezé, mas não justifica tudo. É normal que os adultos fiquem preocupados quando a situação não tá legal, eles entram em uma tristeza absurda e viram uma maquina para reverter a situação. Compreendo a situação da família Vasconcelos, entendo como estava difícil sobreviver sem capital e acho uma merda quando eles não percebem que seus filhos tem sentimentos. É algo natural, infelizmente.
Enfim, gostaria de falar muitas outras coisas que dá para colher de tão poucas páginas, talvez futuramente.
Meu pé de laranja lima é uma história linda e que deve ser lida por todos. Meu grande amor por essa obra. José Mauro de Vasconcelos foi gigante em redigir suas dores e transforma-las em algo tão lindo.