arilopes 25/04/2023
De Lukov, Com Amor
Para início dos debates em torno deste livro, saliento que a escrita de Zapata não tem nada de revolucionária, porém asseguro-lhes que está longe de ser monótona. O fato é que Zapata transcorreu sua narrativa sem nenhum percalço, apresentando a história ? unilateral ? de Jasmine Santos.
Antes de focar em alguns pontos críticos, desejo enfatizar que a forma que Zapata abordou os laços familiares de Jasmine foi reconfortante. Um lar repleto de amor, apoio incondicional, confiança e de invetivo, acredito que para a maioria das pessoas isso não seja comum ou, no minímo, é um espaço invejável. A mãe e os irmãos de Jasmine são umas figuras, principalmente, o Jojo. São personagens secundários que abrilhantam ainda mais a trama ? gostaria de ter visto mais do Seb e da Tali ? e dão a maior força na realização do propósito de Jas. E por mencionar propósito, Zapata trata com exatidão o quão doloroso, desafiador e solitário é abrir mão de momentos com a família ou amigos para vivenciar ou ao menos experienciar os seus sonhos. Jasmine é um exemplo disso, de como seguir seus sonhos exige que façamos escolhas, que sob o ponto de vista de terceiros, parecem egoístas.
Outrossim, e isso é raro acontecer, mas Jasmine, às vezes, me dava nos nervos e muito disso é motivado pelo seu temperamento um tanto explosivo, embora ela compensasse com bom humor e um vocabulário restrito de palavrões. Quanto ao Ivan, é quase como se fosse tudo sobre a Jasmine ? por isso "história unilateral" ?, gostaria de ter visto um lado mais íntimo do personagem. Todavia, Zapata apenas tratou da trajetória de Jas, menosprezando um personagem com falhas, medos e/ou inseguranças tanto quanto nos foi apresentado. É nesse aspecto que a capacidade de Zapata de mesclar as tramas e conflitos internos de Ivan se mostrou rasa, ou melhor, inexistente. E, por favor, cansando de homens escritos por mulheres que são a utopia entre os outros homens; Atlas Corrigan, Adam Carlsen, Rhysand e agora Ivan Lukov apenas criam uma expectativa inatingível e, para mim, um sentimento de insuficiência.
Ademais, quero destacar o quão abruptamente Jasmine percebe que ama Ivan, é óbvio que percebemos que Ivan, desde o começo, tem segundas intenções com Jas ? na verdade, é uma baita de uma tesão reprimida. Entretanto, o mesmo não acontece com Jasmine, existe certa inocência na parceria deles por parte dela, Zapata poderia ter adicionados momentos em que Jas questionaria a sua relação com Ivan. Em outras palavras, Zapata esqueceu de plantar a semente da dúvida. Outro ponto, é que não vemos praticamente nada sobre os treinos de Ivan e Jasmine, não existem detalhes do treino que ambos realizam no Complexo Lukov ? apenas descrições do andamento e da rotina cansativa. Isso sem mencionar que após o incidente de Jasmine as semanas que ela passa se recuperando e na casa de Ivan são resumidas em parágrafos, não dando margem para momentos que culminariam na aproximação dos personagens como casal e em cenas exóticas que tardaram a acontecer ? adianto que é apenas uma cena e que parece muito com algo tirado do wattpad.
Em síntese, De Lukov, Com Amor versa mais sobre a evolução pessoal e profissional de Jasmine do que, necessariamente, a construção do romance entre os personagens ? para os curiosos, é meu tipo de romance favorito: enemies to lovers. E engana-se quem acredita que a patinação artística é o foco, é meramente um plano de fundo. E como cereja do bolo, os quinze por cento finais do livro transcorrem de forma atropelada, resumindo os acontecimentos e não descrevendo as apresentações da dupla. Sinceramente, esperava mais deste livro, não estou decepcionado, porém ávido por mais do universo da patinação artística, das imperfeições de Ivan e de um romance que me fizesse se apaixonar junto com os personagens, o que, claramente, não aconteceu em nenhum momento.
"Ninguém faz nada com sua vida se passá-la comparando-a à de outras pessoas."
"Preocupar-me em ser um fracasso e uma decepção não eram coisas que se podia consertar. Eles estavam lá. O tempo todo."
"Você não se torna bom em uma coisa sem sacrificar algo para ganhar tempo."