spoiler visualizarLitteratureFan 30/03/2024
Uma prisão de segurança máxima para uma criança.
Perturbador entrar na mente da Natascha e do sequestrador. Esse livro levantou vários questionamentos a mim mesma: Eu o perdoaria que nem Natascha fez? Eu aguentaria apanhar todos os dias? Passar fome? Viver num quadrado mofado e escuro? E depois? Seria que iria saber lidar com a mídia? Será que ia conseguir me manter sã sabendo que a minha juventude (infância e adolescência) foram roubadas para satisfazer o desejo de um homem cruel que precisa oprimir uma criança para se sentir mais forte? Será que eu ia me olhar no espelho, após tantos anos sem ver meu reflexo, e não questionar: será que realmente sou eu? Será que eu não ficaria extremamente paranoica e questionaria se o mundo ao meu redor é real e não uma grande encenação?
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"Antes de dar esse passo publicamente, fui aconselhada por muita gente a mudar meu nome e a me esconder. Eles me diziam que, de outro modo, eu nunca teria a chance de levar uma vida normal. Mas que tipo de vida é essa, em que você não pode mostrar o rosto, não pode ver sua família e renega o próprio nome? Que tipo de vida seria essa, especialmente para alguém como eu, que, durante os anos de cativeiro, lutara para não perder a identidade? Apesar da violência, do isolamento, de ser trancada no escuro e de todos os outros tormentos, continuei sendo Natascha Kampusch."
Quão injusto é uma pessoa precisar mudar toda a sua identidade por causa de um acontecimento que ela nem controla e pior, por causa de pessoas que não sabem se controlar e usar o bom senso?
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"A simpatia oferecida à vítima é enganadora. As pessoas amam a vítima apenas quando se sentem superiores a ela.
[...]
Pouco a pouco, a simpatia transformou-se em ressentimento e inveja ? e, algumas vezes, em ódio declarado."
As pessoas são tão doidas a ponto de sentir inveja de uma pessoa que foi sequestrada e abusada por 8 anos, que loucura. Como se ela tivesse pedido para ser sequestrada por simples estrelato. Pois eu acho nada mais que justo que ela lucre em cima disso.
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"Pessoas muito prestativas, que me enviavam roupas velhas e me ofereciam serviços de limpeza em sua casa, perceberam e desaprovaram o fato de que eu queria viver de acordo com minhas próprias regras. E rapidamente fui rotulada de ingrata, chegando a ouvir que tentava ganhar dinheiro com minha situação."
Ingrata por querer ser livre e por depois de 8 anos sendo vigiada e controlada, tendo que seguir regras sem sentido, querer se libertar delas e viver a vida de seu modo? Ingrata a quem? Ao seu sequestrador? A mídia? A polícia? Ela nem foi resgatada pela polícia, essa fez um péssimo trabalho, ignorando pistas cruciais para a solução do caso, ela fugiu.
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"O que as pessoas menos toleravam era que eu me recusasse a julgar o sequestrador do modo como o público esperava que eu fizesse."
As pessoas esperam que ela rotule ele como "monstro", confesso que eu também esperava. Durante a leitura me peguei sendo uma dessas pessoas que ela descreve, uma pessoa que não estava lá e que a julga por não rotular ele de monstro. Após a leitura entendi que a relação entre os dois era complexa demais para provocar-lhe tão somente ódio do sequestrador.
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Ela realmente deveria ser "grata" a mídia pela "fama"?
"Parecia que a verdade terrível não era terrível o bastante, então eles acrescentavam coisas muito além do suportável, negando, com isso, minha autoridade como intérprete do que eu vivera."
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Até mesmo após comprar a casa aonde habitou enquanto sequestrada, foi condenada pelos outros como se ela estivesse sendo saudosista, na verdade essa era uma maneira de evitar que a casa se tornasse um museu macabro, e que também fosse demolida e acabasse com toda a história por trás daquele lugar, bem como era uma maneira dela controlar o passado.
"Por isso, certifiquei-me de que ela não fosse vendida, mas doada a mim como indenização. Assim, conquistei e passei a controlar uma parte de meu passado."
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"Meu cativeiro é algo com que vou ter de lidar durante toda a minha vida, mas, aos poucos, acredito que não serei mais dominada por ele. Ele é parte de mim, mas não é tudo. Existem muitos outros lados da vida que eu gostaria de experimentar"
Esse é um livro que não acaba de verdade, nos levamos ele para onde vamos.