Lauraa Machado 13/11/2020
Autora super talentosa e um livro gostoso de ler!
Eu tenho uma regra de nunca dar menos de três estrelas para um livro independente (nacional ou estrangeiro), a não ser que ele seja ofensivo, e Quando o Rei Esteve Aqui mostra bem por quê. Talvez a maioria dos leitores não saiba disso, mas tem muita gente envolvida na publicação de um livro. Antes de ele chegar à editora, o manuscrito passa por várias escritas do autor e mais algumas edições em conjunto com seu agente. Quando chega na editora, é muito provável que passe por mais edições e depois ainda tem que passar por preparação (quando revisam gramática, continuidade, lógica) e pelo menos uma revisão final. Nos EUA, depois disso tudo, ainda saem cópias adiantadas que podem fazer o autor e a editora voltarem a trabalhar na história antes da publicação final.
Como seria possível comparar tudo isso com a experiência de um autor sozinho, escrevendo sozinho, tendo toda a responsabilidade de desenvolver a história e os personagens, manter o ritmo e ainda ter uma escrita bonita e inteligente? Isso tudo com a capacidade de julgar o próprio trabalho, que é uma das coisas mais difíceis que existe. Não dá. Enquanto estava lendo Quando o Rei Esteve Aqui, fiquei com a sensação de que é só isso mesmo que falta para a Lyli Lua, apoio. Está bem claro no livro todo que ela tem talento, que escreve muito bem, que só falta agora um agente e uma editora para seu livro chegar a ser excelente.
Sério mesmo, fiquei impressionada com o quanto ela escreve bem! Dá para ver claramente quais são seus pontos fortes, admito. Nas cenas dos cangaceiros, por exemplo, é impossível não perceber sua competência. Foram minhas partes favoritas, porque parecia que era quando a autora estava mais confortável para descrever e desenvolver os personagens. Senti falta de uma descrição de cena um pouco mais detalhada e clara, por exemplo, quando era sobre a realeza, quando estávamos na Oceaania do Norte. Nunca sabia como eram os cômodos e quem estava presente. Acho que acrescentar descrição, principalmente sensorial, no livro todo acabaria por o enriquecer ainda mais. Oceaania do Norte não me deixou com a sensação de existir por isso, principalmente.
O livro é sobre reencontros e revelações e, por isso, acho que teria ficado ainda mais emocionante, teria criado mais tensão se não tivesse um narrador onisciente e não nos contasse tudo de cara. Quebra um pouco do mistério de "Como será que essa pessoa está se sentindo? O que ela está pensando com essa revelação?" quando o narrador conta tudo para a gente. Ser na terceira pessoa foi uma boa, mas acho que narrar pelo ponto de vista de um personagem por vez deixaria a história mais interessante e mais sólida também, mais real.
Já falei que a autora escreve muito bem? Estou animada para ler outros livros dela! Acho até, aliás, que seria incrível se ela pensasse em transformar este em um romance mais longo e aprofundado, quem sabe escolher só uns dois ou três personagens para ter pontos de vista. Não, gente, não consigo escrever resenha sem pensar na parte de edição, é o que eu faço da vida! Realmente acho que esse livro tem potencial para ser ainda mais, e a autora só precisaria de alguns toques, tipo "acrescenta uma menção a isso aqui" e "melhor descrever o cômodo ali". Ela é realmente talentosa!
Depois da escrita da autora, que é bonita, inteligente e que faz a leitura fluir bastante, acho que o ponto alto do livro são os personagens. Meu favorito foi de longe o Reginaldo! Os outros são interessantes também, e teriam sido bem mais se eu não soubesse de cara tudo que pensam e sentem, mas Reginaldo é o que tem mais camadas e mais complexidade a ser abordada e explorada. Queria mais dele e da Nahime, que também tem tantas camadas! Também gostei da Luiza, super leria outro livro com ela e o Reginaldo! E imagina só um livro da Nahime, talvez mostrando ela crescendo e tendo que se encaixar na vida de futura rainha! O Gustaaf, em compensação, eu não cheguei a entender muito bem, infelizmente, e o Miguel não me marcou muito.
Se eu recomendo o livro? Completamente! Nenhuma das minhas críticas foi a algo que realmente atrapalhou o livro, só questões que poderiam ser melhoradas! É super gostoso de ler, é uma ficção histórica com realeza, o que eu amo, e tenho certeza de que alguém ainda vai agenciar e publicar essa autora, porque talento assim não pode ser desperdiçado!