Nicooo 29/05/2024
Que experiência gostosa foi ler esse livro, cujo tamanho da influência não cabe nas apenas 112 páginas da bela edição da Pandorga.
Wells trabalha na vanguarda do tema da viagem no tempo, tema que viria a ser explorado exaustivamente nos séculos futuros ao que o livro foi publicado. A história é narrada sob a perspectiva do viajante do tempo relatando aos amigos cientistas como foi sua jornada através da linha temporal.
Ao viajar milênios no futuro o viajante encontra um cenário de pós humanidade, onde o homo sapiens deixa de ser a espécie que conhecemos e se segrega em dois grupos evolutivos, os pacíficos Eloi, que vivem sob a luz do sol e os selvagens Morlocks, condenados a viverem longe do alcance da luz solar.
Há uma clara relação de dominador e dominado entre essas duas espécies, visto que durante o processo evolutivo houve um enfraquecimento físico e intelectual daqueles que viviam na superfície em contrapartida aos seres subterrâneos que se bestializaram, ganhando uma força sobre humana ao custo de se tornarem extremamente sensíveis a qualquer exposição a luz. Como resultado desse curioso processo evolutivo, criou-se um verdadeiro reino de terror quando, durante as escuras noites em que a lua se escondia, os Morlocks emergiam-se das profundezas e invadiam a morada dos Eloi.
A grande sacada de Wells está no motivo que levou essa bifurcação na linha evolutiva do ser humano. A condição que precedeu a existência dos Morlocks foi causada pelos próprios Eloi, que no passado representavam a alta classe que vivia na superfície enquanto as classes mais baixas foram condenadas ao subterrâneo para a manutenção da vida daqueles que os usurparam a luz. A inversão da relação de domínio entre esses dois grupos levada pela extrapolação da relação entre as classes, traça um comentário que ainda hoje alfineta o sistema vigente.
Leitura extremamente recomendada a todos os interessados por ficção científica e obrigatória para quem gosta de histórias sobre viagem temporal.