Reccanello 14/03/2022Na fedorenta Paris do Século XVIII, o recém-nascido Jean-Baptiste Grenouille - a quem a natureza negou o direito de cheirar como um ser humano - é abandonado pela mãe junto aos restos fedorentos de um fedorento e imundo mercado de peixes. Por conta dessa sua característica, que o afasta e aparta da humanidade, ele também é rejeitado pelas instituições que tentaram lhe acolher e por praticamente todos com quem tem contato, sobrevivendo sozinho ao repúdio, aos acidentes, à miséria e às doenças. Entretanto, ao descobrir um estranho dom com o qual a natureza parece lhe haver compensado a falta de odor próprio - uma extrema e imensa sensibilidade olfativa que lhe permite não apenas reconhecer os odores mais imperceptíveis como, também, armazená-los em sua igualmente prodigiosa memória -, parte em uma insana e obsessiva busca pela essência perfeita, pelo perfume supremo que lhe permitirá, tal qual um deus, seduzir e dominar toda e qualquer pessoa (o que ele acredita ser o cheiro do amor). E, para isso, não se furtará a usurpar dos corpos de suas muitas vítimas sua essência e suas almas.
Com essa história misteriosa e muito perturbadora, Patrick Süskind nos traz um personagem intrigante que, ao mesmo tempo e em diferentes medidas, nos desperta pena, desconfiança, admiração, medo, ódio, repulsa, nojo (ainda assim, um protagonista pelo qual é quase impossível ter empatia)... E nojo também é o que sentimos diante das descrições extremamente realistas dos maus cheiros provenientes da miséria e de sua absoluta falta de higiene. Por outro lado, a mesma sensação de realismo nos faz como que quase realmente vivenciar a história e seus ambientes, sentido as fragrâncias das peles, do sangue e dos fluidos das pessoas, os cheiros da terra, das plantas e dos animais, e os perfumes que viajam com o vento! O menos lembrado dos sentidos é magistralmente explorado de forma a penetrar fundo na mente do psicopata e buscar entender suas motivações e suas intenções, ainda que absurdas, ainda que execráveis... E o desfecho da história?! Uma das leituras mais cruéis, inesperadas, repugnantes e, ainda assim, excitantes, perturbadoras e surpreendentes que já li. Definitivamente, e apesar de ter vendido quinze milhões de cópias em mais de 40 idiomas, "O perfume" não é uma leitura para pessoas de estômago fraco, mas é justamente esse o grande mérito do livro!
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