Jennifer.Ernesto 03/08/2022
De tirar o fôlego
Foi difícil continuar esse livro quando eu percebi o seu conteúdo: o significado da vida. Com certeza, ele entrou para o meu rol de melhores livros que já li. E, é um livro que eu quero revisitar em momentos difíceis e ao longo dos anos. Foi de tirar o fôlego, incrível, profundo! Eu estou sem palavras. Parece que terei que processar a leitura e depois voltar para completar essa resenha!
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Após processar a leitura com um pouco mais de calma e ver outras resenhas:
The Midnight Library, Canongate Books Ltd (304 p.) / A biblioteca da meia-noite, Bertrand Brasil (308 p.) / A biblioteca da meia-noite, Tag Inéditos
O livro conta a história de Nora Seed (destaco que Nora pode significar "reluzente", e seed é o inglês para "semente"), que é uma graduada em filosofia, a qual trabalha há 12 anos numa loja de guitarras chamada Teoria das Cordas/String Theory, havia perdido a mãe quando criança, abandonado o noivo do altar, desfeito a banda (The Labyrinths) e havia perdido contato com todas as pessoas que foram importantes em sua vida, seu irmão Joe, e sua amiga Izzy. Após ser demitida do seu trabalho, e o seu gato morrer atropelado, Nora, no pico da sua tristeza, decide por fim a sua vida.
A história é contada enunciandio quantos dias faltam para que Nora morra. E, a história começa quando ela entra numa espécie de limbo, que para ela se chama "A biblioteca da meia-noite", em que a Sra. Elms é a bibliotecária e lá estão disponíveis todos os livros possíveis para a sua vida.
O livro dos arrependimentos é um guia na sua jornada porque Nora chega na biblioteca se sentindo culpada, infeliz, arrependida e insatisfeita com os então 35 anos de sua vida. Ela começa a rever cada uma das situações de arrependimento, como teria sua vida teria seguido se ela não tivesse rompido com o seu noivo, ou continuado a sua banda, ou sido uma professora de filosofia e assim por diante. Cada uma das vidas tem imensas partes boas, mas também, contém infinitas partes ruins. Demonstrando que, a vida é como ela é, e deve ser mais vivida do que entendida.
Para mim, este livro é uma preciosidade. Tanto porque é um ensaio sobre a psiqué humana, bem como passa por questões existenciais que não apenas os neurodivergentes têm, mas todas as pessoas. A diferença entre as pessoas neurodivergentes e as pessoas neuroatípicas são os recursos emocionais utilizados para lidar com as pressões da vida, o amor, as perdas e assim por diante.
Não é um livro de autoajuda. É um livro filosófico. E, talvez, o meu conhecimento e experiência sobre saúde mental tenham sido essenciais na minha conexão com a história. Além disso, eu me aventurei na leitura em inglês, o que traz alguns trocadilhos filosóficos interessantes em relação a própria história.
A Nora está cultivando a semente de sua própria vida, da sua psiqué e da sua cura.
O autor também foi bastante responsável ao trazer a temática do suicídio para o livro e a forma como a protagonista vai experienciando as próprias possibilidades da sua vida. A resposta está dentro dela? Sim. Mas, quais os recursos que ela tem para encontrar essas respostas? Muitas vezes, as próprias relações e os seus sentimentos.
Além disso, para apreciar o livro é preciso estar aberto a compreensão do estilo, da ficção mágica, das Teorias das Cordas, dos multiversos e que o autor não está se propondo a apresentar o multiverso dos quadrinhos, nem de Stephn Hawking... O multiverso está dentro da mente da Nora e, esperar que a história se desenrolasse de outra forma, é uma amostra de que a pessoa não entendeu a proposta do autor, nem sequer leu sua biografia e o seu campo de estudo.
E, isto me irritou nas 2 (duas) resenhas um tanto pejorativas em relação ao livro, isto porque houve uma interpretação de que seria um livro de auto-ajuda. E, mesmo se fosse, qual seria o problema? Há um preconceito literário muito grande em relação a esses livros, como se eles fossem menos importantes, ou não tivessem significado. Ademais, nessas resenhas, a crítica teve mais a ver com o perfil de quem estava lendo, do que em relação ao trabalho do autor Matt Haig, o qual assumidamente escreve sobre a temática neurodivergente. Ou seja, as pessoas esperavam um livro leve e ficaram frustradas porque receberam um livro pesado (ou, demasiadamente reflexivo). A protagonista é depressiva, a protagonista cometeu suicídio durante o livro. Ou seja, o objetivo do livro é trazer um desconforto sobre o comportamento da protagonista. Ela era chata ou era uma pessoa doente? Ela era uma pessoa insatisfeita, sim! Mas porquê? E, em todas as desistências das possíveis vidas, um gatilho de perda de alguém era ativado. As possibilidades de vidas não eram perfeitas, eram possibilidades. E, em muitas dessas possibilidades, pessoas que ela amava haviam falecido de forma trágica.
Para mim, esse livro entra no rol daqueles que serão relidos em diferentes fases da minha vida. Foi uma experiência profunda, edificante e que me dispôs a ver de outra forma o paradoxo das escolhas que enfrentamos, e os caminhos diversos que elas podem nos levar. A vida pode ser simples, mas, ela não deixará de ser vasta, e até complexa.