mari 10/09/2023
Ana Terra, de Erico Veríssimo.
Ana é uma das mais importantes protagonistas da literatura nacional, e não há dúvidas sobre isso. Esse é um livro dentro do universo de "O Tempo e o Vento", mais especificamente, presente em "O Continente", livro que abre a sequência da obra de Veríssimo. A Companhia das Letras acertou bastante em retirar esse capítulo e transformá-lo em uma história à parte, pois a Ana, por si só, já é um personagem singular e extraordinário capaz de atrair a atenção do leitor para os outros livros que fazem parte da coleção.
Em terras gaúchas, isolada da sociedade, Ana anseia por mais vida. A rotina é monótona e poucas coisas acontecem naquele rancho, os dias são indiferenciáveis e os anos são desconhecidos. Tudo é sempre igual até um homem ensanguentado aparecer na beira do rio, seu nome é Pedro Missionário. Pedro é metade indígena, metade português. "Não gosto da cara desse diabo." é o que Maneco Terra diz ao abrigar Pedro em sua cabana. A presença daquele desconhecido, um dos poucos homens que Ana tem contato e que não é seu pai ou irmãos, causa estranheza e raiva, que com o tempo se transforma em curiosidade e afeto e, por fim, em tragédia. O laço permanente que liga Ana Terra a Pedro Missionário, até o fim de sua vida, recebeu o nome de Pedrinho e, para ele, seu pai morreu em alguma guerra.
Tragédias, tristezas e abdicações. Essa foi a vida de Ana Terra. Mas existem inúmeras outras obras na literatura que abordam guerras e tragédias, por que essa seria especial? Foi isso que comecei a pensar enquanto lia. Mas existe uma profundidade na escrita e na construção dessa personagem. Existe um incômodo em olhar para a história, para a vida real e ver inúmeras, milhares de Anas Terras. Esse livro rompe o tempo e Ana continua presente, com outro rosto e com outras camadas, no semblante das mulheres atuais.
Uma obra prima da literatura nacional.