spoiler visualizarDida 26/02/2024
Não sei como começar a falar desse livro. Eu demorei a engatar na leitura, pq vi resenhas antes de ler e esperava que fosse acontecer alguma ?ação? rápido, mas obviamente o autor precisa desenvolver uma história antes, até mesmo para tudo fazer sentido. A escrita até pouco mais da metade é bem realista, sem nada muito fantasioso, até o medo começar a aparecer. Claro que, numa ilha deserta, um bando de crianças de 6 a 12 anos teria medo, naturalmente, de ficar sozinhos, de não ter uma adulto para cuidar deles, de ter dificuldade para encontrar comida, e todas as outras questões básicas de sobrevivência, mas existe um outro medo que o ser humano tem naturalmente que é o medo do desconhecido, e quanto ele aparece, outras fantasias nossas se sobrepõe, uma coisa vai puxando outra, e quando vemos, tudo já não é mais como era, criamos outras coisas e seres e explicações para nossas experiências. É isso que acaba acontecendo aqui. O livro já choca por serem todos os seus personagens um bando de crianças, e nós temos a tendência a imaginar que crianças serão sempre amorosas, fofas, inocentes. Mas devemos lembrar também que o ser humano é, acima de tudo, um animal, e crianças sem uma civilização, sem adultos para controlá-las ou ensiná-las, acima de tudo crianças que ainda não tiveram tanta influência das leis que regem a sociedade regular, podem facilmente esquecer dela e se aproximar mais de nosso estado selvagem. À medida que essas crianças vão sobrevivendo nesse lugar, alguns sentimentos muito comuns a todos os seres humanos aparecem e falam mais alto, e nisso se criam divisões, discussões, desentendimentos, e o mais chocante: crime. O autor passa da escrita hiper realista para incrementar com alguns elementos que a primeira vista parecem fantásticos, inclusive esse título, referente a Belzebu, que na mitologia é um demônio referente ao pecado da gula, é algo marcante em um dos personagens principais, que decide caçar ao invés de manter o fogo que os poderia salvar aceso, gerando divisão dos grupos e um estado de selvageria que vai gerar situações catastróficas. Essa característica mística pode ser explicada apenas pelo caos gerado na mente humana em situações extremas. Apesar de um dos meninos ter um ?encontro? onde conversa com essa entidade, acredito que esse senhor das moscas representa apenas a perda da inocência, o desespero e a demonstração da ideia oposta de Russeau, que afirmava que o ser humano era bom, corrompido apenas pela sociedade. Ele surge a partir do medo e da volta à essa característica de selvageria inata de animais humanos.