Carla Verçoza 31/05/2022
Sempre tive muita curiosidade em conhecer a obra de Marguerite Duras e gostei muito dessa primeira leitura. Com uma escrita interessante, poética, bastante rica, o livro conta a história de uma jovem francesa e seu amante chinês, ambos vivendo em Saigon. Com traços autobiográficos, a autora intercala acontecimentos passados, presentes e futuros, focando bastante também na relação familiar, sua mãe instável, seu irmão mais velho tirano e o carinho pelo irmão mais novo. Recomendo.
"Agora vejo que desde muito jovem, desde os dezoito, quinze anos, tive aquele rosto premonitório deste outro que depois adquiri com o álcool na meia-idade. O álcool cumpriu a função que Deus não cumprira, ele também teve a função de me matar, de matar. Esse rosto alcoólico me veio antes do álcool. O álcool só veio confirmá-lo. Havia em mim o lugar para ele, soube disso como os outros, mas, curiosamente, antes da hora. Assim como havia em mim o lugar do desejo. Aos quinze anos, eu tinha o rosto do gozo e não conhecia o gozo. Via-se muito bem esse rosto. Até minha mãe devia vê-lo. Meus irmãos viam. Tudo começou desse jeito para mim, por esse rosto visionário, extenuado, esses olhos pisados antes do tempo, antes da experiência."
"Ainda estou nessa família, é nela que vivo à exclusão de qualquer outro lugar. É em sua aridez, sua terrível dureza, sua maldade que me sinto mais profundamente segura de mim mesma, no mais fundo de minha certeza essencial, do que mais tarde vou escrever."