Peter 25/10/2017
‘Um romance sobre a história da filosofia’ é uma frase que resume bem esse livro (frase que está na capa da edição que eu possuo). Mas claro, ele vai muito além disso. O Mundo de Sofia conta a estória de Sofia (obviamente), uma garota prestes a fazer 15 anos que começa a receber misteriosas cartas com conteúdos filosóficos pelo correio. Poderia ter uma idade melhor para começar a estudar filosofia? A idade onde passamos a conhecer a nós mesmos e o mundo com mais avidez, idade onde tudo por nós é questionado (mesmo que nem sempre verbalizado).
É muito fácil se colocar no lugar da curiosa Sofia, principalmente se você, assim como ela, pouco sabe sobre filosofia. E mesmo que saiba, a narrativa ainda assim é fascinante e instigante e o mistério em torno do remetente das cartas é intrigante. Se você tiver o mínimo senso investigativo, vai se pegar criando teorias sobre quase tudo aqui neste livro. Algo que pode te levar a ler muito rapidamente.
Apesar disso, esse não é um livro para ser “devorado”, lido em três dias. Precisa ser “digerido”, é preciso que você pense e reflita sobre as coisas aqui ditas ou o livro pode parecer um pouco pesado. E o autor tem consciência disso, quando parece que o livro te entrega muitas informações e você sente que se continuar vai acabar se sobrecarregando, o livro te dá um descanso, a narrativa foca num lado mais leve e você pode respirar.
Jostein Gaarder, o autor, tem todo o cuidado para que o livro não se torne repetitivo. As “aulas de filosofia” de Sofia vão mudando seu formato ao longo do livro e isso deixa tudo muito dinâmico. Você, como leitor, também é aluno dessas aulas e precisa se manter interessado no conteúdo, e Gaarder sabe como apresentar a filosofia de modo interessante.
Existem momentos que poderiam ter sido sinistros ou perturbadores, mas não teria sido o caminho certo a seguir, portanto o autor sabe usar de leveza para que você possa contemplar esses momentos de forma analítica.
Há quem tenha “barreiras” com a filosofia por não ter tido boas experiências com o assunto no passado. Mas esse livro se propõe a quebrar tais paradigmas. Fluidos com a filosofia estão outros assuntos aqui: História, Mitologia, Religião. E nunca de forma afrontosa, a intenção não é fazer com que você acredite nas questões aqui expostas, mas que discuta elas. Uma vez que você esteja disposto a receber outras visões de mundo, seus horizontes podem ser abertos.
Pode-se argumentar que os diálogos não são muito bem desenvolvidos, mas seria injusto. A proposta não é que os personagens discutam filosofia, mas que você o faça. Os diálogos se tornam quase monólogos nesse livro, mas como na escola quem fala mais durante a aula é o professor (ou pelo menos assim deveria ser).
Por um lado poderíamos quase afirmar que esse é um livro didático, mas não (há alguns nomes e acontecimentos que vão fazer com que você queira pesquisar mais sobre), é também um romance, e devo dizer que a princípio é necessário um pouquinho da sua suspensão de descrença. Nem tudo faz sentido, mas tem um motivo e terá uma explicação. E só posso dizer que o ponto de virada (ou plot twist para aqueles que gostam de um termo em inglês) desse livro é fantástico, capaz de explodir cabeças.
É quase impossível não absorver nada. Muito menos deixar de pensar sobre a vida e o universo. ‘Se o cérebro das pessoas fosse tão simples ao ponto de podermos compreendê-lo, nós seríamos então tão estúpidos que não conseguiríamos fazê-lo’, como diria um dos personagens (ou Jostein Gaarder). Não se deixe desanimar pelo número de páginas, é uma leitura que vai valer a pena. Um livro criativo, imersivo e amadurecedor, O Mundo de Sofia deixa uma vontade de reler (e até pede para que você o faça) antes mesmo de terminar.
site: http://petercisco.blogspot.com.br/2017/10/resenha-o-mundo-de-sofia-jostein-gaarder.html