Bruna Fernández 14/07/2011Resenha feita para www.LivrosEmSerie.com.brNunca li nada sobre zumbis, nem assisti à filmes ou seriados sobre o assunto também. Creio que meu maior contato com mortos-vivos na cultura pop foi no videoclipe de "Thriller" do Michael Jackson. (: A únicas coisa que eu sabia antes de começar a ler esse livro é que o único jeito de se matar um zumbi é atirando em seus miolos, nada mais funciona.
Confesso que estava um pouco apreensiva antes de iniciar a leitura, pois não tinha ideia do que ia ser apresentado na narrativa, mas a capa do livro e a seguinte frase
"O que você faria se, um belo dia, ao acordar, descobrisse que a humanidade está caindo aos pedaços?" na 4ª capa, me chamaram muito a atenção. A diagramação foi toda feita em formato de diário - tanto virtual (blog), como físico (diário mesmo) - e não temos a habitual separação por capítulos, mas sim por dia e hora, o que cai muito bem no formato da narrativa e ajuda o leitor a seguir a linha temporal do enredo. Seguindo a ideia de ser diário/blog, a escrita é muito pessoal, como um sincero relato, com o ponto de vista do personagem principal. Somos guiados somente por suas observações do mundo, que, ainda bem, são bem amplas e inteligentes.
As poucas coisas que descobrimos sobre o narrador/personagem principal é que ele é viúvo, mora sozinho com seu gato Lúculo em uma cidade espanhola chamada Pontevedra - a cidade natal do próprio autor - e que ele trabalha como advogado. Após perder a sua mulher, um psicólogo indica que ele comece a escrever sobre o que sente, não somente em relação a sua esposa, mas no geral, como um tipo de "válvula de escape". Ele então começa a regidir um blog e nele relata frivolidades do seu dia a dia e, também, começa a relatar estranhos acontecimentos na área do Cáucaso - uma região da Europa oriental e da Ásia ocidental - sempre acompanhando o caso pela TV e pelo rádio e, aos poucos, vai dando a sua opinião sobre o assunto. O emprego dos nomes de canais que realmente existem e fatos político-militares reais entre os países envolvidos trazem uma carga mais realista ainda pra o enredo, levando-nos a crer que realmente estamos lendo um blog real e que o mundo está realmente passando por tudo aquilo. Há momentos em que essa realidade chega a causar um sentimento de desespero real no leitor.
Pouco a pouco a situação vai se tornando cada vez mais alarmante, países declarando lei marcial - o sistema de leis que tem efeito quando uma autoridade militar toma o controle da administração do Estado - , estado de sítio e/ou exceção - grave ameaça à ordem constitucional democrática ou calamidade pública -, ou seja, aos poucos o mundo inteiro está imerso no mais completo caos. Ilhado em sua prória casa com seu fiel gato, racionando energia elétrica e comida, o personagem principal se encontra sozinho em sua rua - que foi completamente abandonada pois as pessoas seguiram para os "pontos seguros", seguindo a ordem das autoridades. Apenas com a companhia de um vizinho, ele narra com terror sua visão dos seres "não mortos" - como os zumbis são chamados com recorrência na obra - infestando a sua rua, cercando a sua casa. Com o passar do tempo ele percebe que precisa sair de casa e procurar refúgio com outros humanos se quiser sobreviver. Acompanhamos então o trajeto aventureiro e perigoso da personagem, em sua interminável busca pela paz.
O livro é cheio de ação, reviravoltas, angústia e terror. Alguns trechos chegam a ser aterrorizantes, com descrições detalhadas dos "não mortos" e seus 'machucados' - tripas à mostra, mutilações, sangue por toda a parte - acompanhadas das descrições dos cheiros pútridos e fétidos que chegam a nausear o leitor só de imaginar os cenários descritos. Todos esses elementos ajudam muito na hora de situar o leitor e nos leva a imaginar a magnitude do caos em que se encontra o personagem. Uma das partes mais longas do livro, o clímax do enredo, se passa dentro de um hospital abandonado, e a incrível escrita do autor me passou um enorme sentimento de desamparo e desespero sem fim - com certeza é uma das minhas partes preferidas de todo o livro. A narrativa mantem um mesmo ritmo do começo ao fim, sem grandes oscilações. Um fato muito curioso é que em nenhum momento no livro é mencionada a palavra "zumbi", o autor prefere usar os termos "não-mortos", "essas coisas" ou ainda "não humanos".
Outro ponto que me agradou muito foi o desfecho. Ao longo da leitura não conseguia imaginar um final digno para a história toda e estava com muito medo de tudo acabar de uma forma ruim ou mal explicada, pois seria um despropósito com a ideia e a qualidade do enredo. Porém o autor deu um final digno para o romance com um enorme gancho para uma continuação que já foi lançada na Espanha e tem o título de "Los Días Oscuros" (Os dias obscuros/sombrios, em tradução livre).