Mariana 15/01/2013Maligna de Gregory MaguireA verdade é que eu comecei esse livro sem esperar nada dele e até tendo a impressão de que seria uma leitura chata e infantil, já que falava de um universo popularmente infantil como Oz. Eu não poderia estar mais enganada. Esse não é um livro para crianças e aqui não serão encontradas coisas bonitas, mágicas e esplêndidas. Aqui serão encontradas rebeliões, líderes imperfeitos, diretoras de escola controladoras, medidas de opressão e assassinatos. A primeira coisa que eu pensei quando me dei conta disso foi que definitivamente, não estávamos mais na conhecida Terra de Oz.
Maligna conta a história de Oz a partir da visão de Elphaba, nascida verde e com dentes afiados na Terra dos Munchkins, no leste. O livro acompanha parte da infância dela, sua adolescência em uma escola no norte, seu período na Cidade das Esmeraldas quando uma jovem adulta e sua instalação na Terra dos Winkies, no oeste, onde assume o papel da Maligna Bruxa do Oeste.
Eu adorei o livro quando percebi a que ele veio. Gregory Maguire não queria nos mostrar a mesma Oz que Dorothy tinha visto; ele não queria nos mostrar mágica, belezas naturais, munchkineses vivendo felizes ou bruxas apenas fazendo o mal. Ele quis nos mostrar uma terra como as outras, sujeita a golpes de governo, medidas preconceituosas e cidadãos lutando pelo que achavam certo. Essa Oz que Gregory me apresentou conseguiu me fascinar de tal maneira que a Oz verdadeira me parece apenas uma fanfic. Não estou menosprezando a obra de Frank Baum, mas acho que Gregory quis escrever uma Oz para adultos, tanto que sexo, traição e conversas revolucionárias são constantes nesse livro; E essa versão complexa de Oz faz muito mais sentido quando se tem vinte e dois anos.
Em meio a um cenário em fase de modificação (já que o Mágico aterrisou em Oz, deu um golpe de estado, assumiu o governo e está modificando as coisas a seu bel prazer), cresce Elphaba. Quando adolescente, ela é mandada para uma escola no norte, onde conhece Glinda e uma amizade conflituosa nasce entre as duas. Elphaba é uma rebelde e não tem medo de dizer o que pensa. Ela lê o dia inteiro, não suporta água, não encontra razões para flertar ou namorar e parece ter nascido com o talento de bater de frente com os professores e a diretora da escola. O que podia ser uma combinação perigosa, funciona perfeitamente na protagonista, porque essa é a bruxa do oeste, ela diz o que pensa, ela se preocupa consigo mesma e ela não sente amada.
Uma coisa que abrilhantou mais ainda a história é Elphaba ter os motivos mais pálpaveis para ter se tornado quem se tornou. Eu acredito que tenha sido a mágoa e a rejeição que a tenham tornado amarga e egoísta. Elphaba não nasceu assim, ela cuidava da irmã, gostava de Glinda, tinha uma amizade bonita com Boq e um romance intenso com Fiyero... Ela perdeu essas pessoas pelo caminho e isso a tornou fria e distante. Como eu disse ali em cima, Elphaba é uma rebelde e essa rebeldia a torna uma revolucionária quando jovem adulta. Não preciso esconder que lutar contra um sistema opressor para com as minorias é uma coisa que eu admiro e Elphaba luta contra o governo do Mágico e sua medida que manda os Animais voltarem a ter uma forma primitiva, sendo que eles falam, pensam e são intelectualizados.
O livro ainda mantém uma discussão interminável sobre o bem e o mal, coisa que eu entendo como muito relativa. Eu tenho essa visão sobre o bem e o mal e mesmo diante do final do livro, ainda tenho para mim que Elphaba não se tornou má e que a palavra "bruxa" para ela, nada mais era do que um título dado a uma feiticeira e não um contrato com a maldade. Uma coisa que eu li na aba do livro e que fez um completo sentido é que a Elphaba de Maguire está para a Terra de Oz como a Morgana de Zimmer Bradley está para a Távola Redonda. Zimmer Bradley fez Morgana ser compreendida e humanizada através de As Brumas de Avalon e Gregory Maguire fez a mesma coisa e, de quebra, transformou Elphaba em uma das minhas personagens de ficção favoritas.
Definitivamente, essa não é mais a Maligna Bruxa do Oeste que conhecemos.
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