Silvia 07/11/2022
Diante de todas as mazelas da vida, mesmo em todos os cenários absurdos de crimes e miséria, escolhemos ver a magia do amor? Mesmo se esse amor for um amor idealizado, platônico e irreal?
O amor deste senhor por essa menina de 14 anos não existe. Ele despeja nela, em sua juventude, em sua energia potencial de vida, todas as suas frustrações, medos e angústias por ser um velho decrépito à beira da morte. É o clássico de se apaixonar por tudo aquilo que traz em sua essência a ideia daquilo não somos e não podemos ter. É tão assustadora a ideia da morte que ele dispõe de todo pouco recurso que tem, tanto financeiro quanto de ímpeto de vida, para se dedicar ao amor por uma figura idealizada que sempre dorme plácida, longe de quaisquer perigos que a realidade poderia impor sobre esse personagem criado.
Os crimes que ocorrem no bordel, as relações de estupro, a miséria na qual a vida da menina está mergulhada e todo o resto é colocado nesse livro para soar insignificante diante da poesia e beleza de uma primeira paixão. Como seres humanos somos tão convencidos pelo ideal do amor que fazemos vista grossa para todo resto. Nos compadecemos dessa figura velha, decrépita, pedófila, abusiva e à beira da morte diante da possibilidade de ver que o amor poderia salvá-lo. Será que poderia? Era amor?
Quantos são os homens que acreditam estarem amando, achando que estão recebendo o presente divino do destino, mas estão apenas sendo pessoas abusivas, embebecidas em ciúmes e sensação de posse, pois conferem às mulheres a sua volta o papel de objeto, existente apenas para cumprir sua satisfação?
Este livro nos põe a pensar muito e questionar muito. Sobre o tempo, a vida, sobre como o amor pode ser idealizado, sobre a miséria do mundo e sobre como alguns crimes podem passar desapercebidos e camuflados em nossa sociedade.