Luís Aracri 28/08/2010
Um livro que pode ensinar mais coisas do que se imagina...
Falar em princípios parece algo fora de moda nos dias de hoje. Porém, "nunca antes na História deste país" (e de todos os outros) os princípios foram tão escassos e, ao mesmo tempo, tão necessários. Por esta razão, o livro (na verdade um relato) de Henry David Thoreau bem que merecia maior atenção - sobretudo agora que estamos às vésperas de mais uma eleição presidencial. Porque o que as páginas escritas por Thoreau dizem têm muito a ver com escolhas.
Apesar de ser considerado pelos anarquistas uma espécie de Bíblia da teoria e práxis libertárias, "A Desobediência Civil" contém algumas lições morais importantes, sobretudo para os jovens de hoje. Estes parecem não estar preparados para crescer e se tornarem adultos. Eles reivindicam o direito de decidir por eles mesmos sobre como dirigir suas próprias vidas, mas frequentemente não desejam se responsabilizar pelo ônus de suas escolhas. Porém, desse modo jamais aprenderão a tomar decisões sozinhos. São gerações novas sendo desperdiçadas. E o desperdício de uma geração é o desperdício do futuro.
Mas o que isto tem a ver com "A Desobediência Civil"? A resposta está na história por trás do livro: Thoreau se recusou a pagar impostos ao seu governo (EUA) porque isto financiaria um regime escravista e a guerra contra um país vizinho - o México. Ele pagou por isso, é claro, pois acabou sendo preso por sonegação. Inspirado pela passagem pelo cárcere, escreveu este livro no qual deixou claro como águas límpidas seus princípios éticos, morais e políticos, aos quais manteve-se sempre fiel. Um homem que não deseja compactuar com as atrocidades cometidas pelo governo de seu próprio país contra a dignidade humana e o direito de autodeterminação de outros povos tem que estar disposto a levar esta escolha até as suas últimas consequências. O que falta às gerações de hoje é justamente isso: o comprometimento com ideais e valores e o estar preparado não apenas para as desejadas recompensas das escolhas, mas também para as possíveis decepções (ou sanções) que elas podem eventualmente acarretar. Logo, a luta política torna-se inviável e impossível sem essa premissa.
Além disso, com "A Desobediência Civil" Thoreau procurou demonstrar que as atitudes são o melhor exemplo e a melhor forma de se convencer alguem. O conflito e a violência impõem o consenso pela força.
É por isso que indico este maravilhoso livrinho para os jovens. É preciso que aprendam que toda decisão que venham a tomar na vida pode trazer-lhes não apenas prêmios, mas também custos, e que devemos estar sempre preparados para eles. Viver num mundo onde apenas se ganha sem nunca perder é uma fantasia que precisa ser desmanchada se quisermos preparar as novas gerações para todos os desafios da vida, inclusive o maior e mais importante deles: construir o futuro.