Coruja 31/07/2010Poesia em prosa"- O peixe também é meu amigo - disse em voz alta. - Nunca vi ou ouvi falar de um peixe desse tamanho. Mas tenho de matá-lo. "É bom saber que não tenho de tentar matar as estrelas. Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias", pensou o velho. "A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o sol. Nascemos com sorte."
Por pura coincidência – uma vez que eu não conhecia Mundo do fim do mundo ou Luís Sepúlveda – o segundo livro que leio para o Desafio Literário 2010 também trabalha o tema marítimo.
Se bem que as capas meio que entregam, né... Eu só faltava ter colocado Moby Dick em algum ponto da lista, mas como essa seria uma releitura...
Não sei o porquê de nunca antes ter lido Hemingway. Acho que nunca pensei muito nele como um autor que fizesse muito meu estilo – todo mundo que me conhece um pouco sabe que dou preferência ao gênero de ficção fantástica.
Quando tive de escolher qual o clássico que eu leria para o desafio, primeiro pensei em Balzac, porque há anos que eu tenho me programado para ler Balzac (minha próxima aquisição será Ilusões Perdidas, mas isso será dó depois do meu aniversário, que ainda tem muitos na frente e duas encomendas para chegarem em maio e junho com mais volumes... eu sou uma viciada...).
Contudo, eu já tinha escolhido Balzac para o tema dos contos de fadas (Pele de Onagro será o próximo a ganhar resenha, tão logo eu termine a do mês de maio), então, coloquei-o na reserva e acabei por colocar Hemingway no lugar.
Eu não sei quando leria O Velho e o Mar não fosse pelo Desafio. Provavelmente, quando alguém me desse de presente, quando então ele entraria para a lista de livros fisicamente presentes na estante para ler (saindo assim da lista mental de livros que tenho de providenciar para ler)...
E assim foi que passei o final de semana às voltas com O Velho e o Mar, um edredom (porque Gravatá estava fria esses dias) e uma longa trilha sonora de músicas incidentais.
Basicamente, a história trata de Santiago, um velho pescador de Havana, que, ao princípio da história, passou os últimos oitenta e cinco dias sem pegar nem um único peixe. A única pessoa que parece ainda ter alguma fé no velho é Manolin, um rapaz que já foi companheiro de pesca de Santiago, mas que, devido à má sorte de Santiago com os peixes, foi obrigado pelos pais a trocar de barco.
O tempo está bom e o mar, cheio de peixes. Ao octagésimo sexto dia, Santiago parte sozinho em seu barco e avança mar adentro, longe dos sítios que geralmente freqüenta, mais e mais ao largo.
Lá, encontrará o maior peixe que já viu na vida, com quem travará uma longa e dura batalha... uma longa, dura e triste batalha.
Eu terminei esse livro com uma estranha vontade de chorar. Não consigo atinar com certeza quem venceu a batalha – se o velho ou o mar. Se, por um lado, o velho superou a si mesmo em sua luta contra o peixe e, posteriormente, contra os tubarões, pergunta-se se tanto esforço valeu à pena naquele final.
Acho que é por isso que se fala que Hemingway é um escritor pessimista.
Apesar desse sentimento meio melancólico com que fechei o livro, eu entendi porque O Velho e o Mar - e Hemingway, de uma forma geral – é um clássico. Se a luta de Santiago com seu peixe é uma experiência muito particular, os sentimentos e dilemas com que ele se vê às voltas são extremamente familiares.
Admirável ainda – e uma lição que podemos tirar da história – é a persistência e determinação (alguns diriam teimosia) de Santiago; e sua nobreza, seu respeito ao adversário e suas desesperadas tentativas de proteger o peixe aos tubarões.
Não recomendo a leitura desse livro se você estiver terrivelmente deprimido, de outra forma, terminará o bendito aos soluços. Mas o recomendo para um dia de chuva, ou uma tarde tranqüila, para lê-lo com calma, refletindo sobre as tiradas de Santiago, poesia em forma de prosa.