de Paula 18/09/2022
Reconhecimento post mortem
Reli este livro na mais alta expectativa. Dentre todas as histórias dos Karas, Pântano de Sangue e Anjo da Morte foram e permanecem as minhas favoritas, porque vão muito além dos portões do colégio Elite, além de contarem sobre situações históricas e sociais como pano de fundo, com muito mais personagens do que as demais aventuras.
Este livro conta um pouco sobre a sobrevivência de judeus depois dos campos de concentração da Segunda Guerra, onde aparentemente somente 3 pessoas saíram vivas do porão onde estavam com a chegada dos soviéticos na libertação do campo do local. A questão é que nunca mais se encontraram depois do resgate e a história se passa muitos anos depois, onde o professor de Calu, Solomon Friedman, um dos maiores atores naturalizado bresileiro é assassinado antes da primeira sessão da peça Rei Lear. Como ele era tão próximo ao ator dos Karas, isso passou a ser uma missão dos nossos heróis.
Há uma história de uma célula neonazista em paralelo, onde, as pessoas que fazem parte da conspiração ao redor do mundo desejam o retorno e ascenção do mais cruel regime político da história contemporênea. A ideia é utilizar um dos herdeiros do austríaco, líder de toda essa maldade, que vive na África do Sul e está vindo ao Brasil para dar início aos planos de dominação mundial. A grande questão é que o tenente brasileiro do IV Reich é um taxidermista judeu, ou pode ser o sobrevivente Kurt Kraut, o Anjo da Morte nazista que embalsamava as cabeças das crianças judias nos campos de concentração para estudos futuros do III Reich. Com o tempo, sua verdadeira identidade será revelada, assim como a ação dos nossos meninos de ouro.
A história é muito emocionante, principalmente o discurso de Chumbinho com a Juventude Brasileira, que contém falas importantes sobre a terrível possibilidade de ascensão de grupos extremistas que desejam a morte de pessoas, que têm o mesmo direito de viver neste mundo quanto essas pessoas ruins de natureza e crença. Além disso, e reviravolta final, descoberta pelo Miguel, é surpreendente e nos faz questionar o que é a justiça, como fazê-la diante de circunstâncias tão surpreendentes.
Livro incrível, escrito para jovens, mas que continua encantando gerações até os dias atuais. A ação de Andrade e Pacheco são muito incríveis, mostando o que é esperado de policiais, não sendo uma realidade do nosso dia a dia, mas, como os Karas, é o sonho de uma sociedade coerente e responsável com o futuro do mundo.
Também temos o ponto de reconhecimento post mortem do artista judeu, Davi Segal, que tem suas obras representadas pelo amigo de campo, que viaja ao redor do mundo mostrando os horrores e revelando através de pinturas o quanto a humanidade pode ser terrível. A discussão trazida por Pedro é de quantos artistas só são reconhecidos após a morte, onde tudo é valorizado, enquanto em vida, os artistas vivem na miséria e sem nenhum crédito pelo que faz, como Van Gogh.