Carla.Parreira 07/10/2023
Ave, Cristo!
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Tal livro é uma continuação do livro cinqüenta anos depois. A história continua contando sobre Públio que, depois de ser Nestório, agora é encontrado na Terra sendo o escravo Rufo, o qual antecipo ter sido um dos mártires assassinados pelas autoridades romanas nas Gálias. Vamos a um rápido resumo: Clódio termina sua pregação e inicia diálogo com seu antigo amigo Quinto Varro, um romano de fisionomia simpática e amargurada, escutando deste as intenções de retornar ao plano terrestre. Varro relata sobre seu filho Taciano perdido em trevas e consegue assim a permissão para seu retorno. Ao procurar Taciano, este chora copiosamente e fica sabendo que ambos retornarão a Terra para tarefa de resgate e aprendizado. Séculos se alongam. No ano de 217 Roma atravessava pesada atmosfera de crimes e inquietações nos trâmites de ordem religiosa. Quinto Varro em tal época se encontra casado com Cíntia Julia e tem um filho de um ano de idade chamado Taciano. Depois de discutir com a esposa nas defensivas das idéias cristãs, Varro vai a uma reunião na casa humilde do venerável Lisipo de Alexandria, um grego ilustre e profundamente devotado ao Evangelho. Ao retornar para casa encontra Opílio a conversar com Cíntia. Este era primo de Cíntia e sempre fora recebido ali como irmão. Era dez anos mais velho que Varro e enviuvara de Heliodora, a qual fora para Cíntia uma segunda mãe. Deixara dois filhinhos, Helena e Caiba, gêmeos infelizes, cujo nascimento ocasionara o falecimento da genitora, e que residiam com o pai, cercados de escravos devotados. Escutando tal conversa, Varro descobriu que Opídio era detentor das atenções de César e, naquele momento, não duvidava de que ele houvesse facilitado a morte da abnegada Heliodora, movido de paixão por Cíntia.
Dias depois Varro vai com Lisipo as pregações nos túmulos. Ali sentia imensa paz. Reconhecendo-se na posição de um homem expulso do próprio lar, sentia agora na multidão anônima dos companheiros a sua própria família. Em conversa com o velho cristão Ápio Corvino, Varro consegue acalmar as mágoas de seu coração. Passado algum tempo, Varro é enganado facilmente e embarca numa viagem donde pretendem matá-lo. Súbrio o incute de matarem Ápio Corvino em seu lugar. Contra total vontade de Varro, antes dele se inteirar totalmente do fato, Ápio é apunhalado. Antes de morrer Ápio fala a Varro para procurar Orácio Niger. Flávio Súbrio manda Varro fugir num bote e deixar seus documentos para Opílio Vetúrio certificar-se de seu desaparecimento. Hélcio Lúcio verifica o cadáver sem reconhecê-lo e tranqüilamente acha ser de Varro. Após vestir a roupa rasgada de Ápio, o corpo deste é jogado ao mar junto às lágrimas de Varro. Acolhido numa aldeia litorânea, Varro consegue comida e peregrina até Tarracina, florescente cidade balneária do Lácio. Declarando-se caminheiro do Evangelho em trânsito para as Gálias, Varro, agora sendo conhecido com o nome de Irmão Corvino, fatigado e enfermo, encontra socorro na residência de Dácio Acúrsio, piedoso varão que mantinha um albergue destinado a indigentes. Em seqüência ele vai para a Igreja de São João na tentativa de encontrar Orácio. Uma vez junto a esse, Varro conta tudo que lhe aconteceu e toma para si o encargo de prover às necessidades das crianças mantidas pela igreja.
O ano 233 desdobra-se com a continuidade da união entre Opílio e Cíntia, a qual não se mantinha feliz desde a imaginária morte do esposo. A serva Anacleta conduz Helena a um velho feiticeiro chamado Orósio. Este a aconselha de não fazer o aborto pretendido. Helena não dá olvidos e está preste a beber uma porção caseira com efeitos malignos quando seu falecido amante Emiliano lhe aparece em pedido de clemência ao fruto de amor dos dois. Depois de dar a luz a uma menina, Helena manda Anacleta colocá-la num cesto e deixar este no campo sobre alguma arvore. De tal modo, a criança vai parar em outras mãos. Irmã Pontimiana, guardiã do palácio rural de Ópilio, torna-se grande amiga e confidente de irmão Corvino, informando certa feita que precisa de sua ajuda, pois Taciano está com a doença da peste maldita. Corvino aproxima-se do filho doente sem ser reconhecido por este depois dos vinte anos de separação. Além das visitas, leva as crianças para cantarem-lhe um hino simples. Ao término uma das crianças inicia uma prece e assim que cita Jesus, o ambiente se assombra com os berros de Taciano, o qual não suportava as idéias cristãs desde a descoberta da morte de seu pai. Em seqüência, ele pede para o capataz de prontidão soltar os cães ferozes e aniquilar com todos aqueles pequenos embusteiros. Atendendo prontamente sua ordem, as crianças começam a correr se machucando no roseiral enquanto outro mais caçula é atingido pelo animal raivoso, vindo a falecer logo em seguida. Assim como em todas as confusões de perseguição aos cristãos, não faltou quem julgasse a morte do pequeno como algo relacionado à feitiçaria e operações mágicas de bruxaria.
Taciano convoca uma assembléia junto à estátua de Cíbele, Deusa dos deuses, para jurarem irrestrita fidelidade perante as crenças e tradições dos antepassados, donde se cultuavam os vários deuses, e também jurar perfeita obediência aos imperadores. Todos os escravos, um a um, alguns enfáticos e outros humilhados, reafirmaram as frases pronunciadas inicialmente por Taciano num juramento pronunciado da boca para fora.
O ultimo a pronunciar foi Rufo, o qual criou grande alvoroço ao dizer: ?Juro respeitar os imperadores que nos governam, mas sou cristão e renego os deuses de pedra, incapazes de corrigir a crueldade e o orgulho que nos oprimem no mundo?. Ali mesmo, a vista de todos, Rufo é chicoteado e quando notado muito mal, foi conduzido ao cárcere para receber a devida punição. Inclinado em oração e entregue ao choro pesado, Varro recebe a visita espiritual de Corvino a lhe reanimar o ânimo com palavras otimistas. No dia seguinte, mal terminara as preces habituais, notou, não longe do átrio, desusado movimento do povo. Gritaria ensurdecedora vagueava no ar. Ante a silenciosa indagação que esboçava no rosto, alguém esclareceu que alguns bailarinos mascarados se achavam em função na via pública, anunciando o espetáculo de gala que se realizaria no anfiteatro, em homenagem à união matrimonial do moço Taciano com a jovem patrícia Helena Vetúrio. Cíntia conta para Taciano que Varro era cristão, deixandoo assombrado com tal descoberta. Taciano achava que o pai havia sido assassinado quando cumpria nobre dever no combate à praga cristã. Taciano se enche de ódio tomando o próprio Cristo como terrível adversário. Desde aquele crepúsculo inolvidável, Cíntia é tida à conta de louca no seio da família. Taciano e Helena se casam e o ano 235 entra sob escuros vaticínios. Rufo, ladeado por musculosos guardas, é levado ao centro da praça, em cujos limites se amontoavam homens, mulheres e crianças. Foi então que Vetúrio determinou que uma senhora e duas meninas se aproximassem. Eram Dioclécia, a esposa do prisioneiro, e as duas filhinhas Rufilia e Diônia, que o abraçaram com sofreguidão e alegria. Diante do inquérito, Rufo volta a sentenciar que o Evangelho é revelação divina e Jesus não é um mistificador e sim o Mestre da Vida Imperecível. Por fim ainda diz que Jesus reina acima de César. Rufo é atado à cauda de um potro bravio para ter a morte que lhe julgavam cabível à época, sobrando assim apenas seus despojos que são retirados e jogados no matagal pelas mulheres piedosas da igreja. Cíntia procura Corvino para que este lhe abençoe na hora derradeira dos sofrimentos físicos da vida e como conseqüência do encontro, descobre que ele é Varro, morrendo logo depois. Flávio Súbrio é incumbido de superintender a remoção da enferma para casa. Este desconfia ao escutar a voz de Varro, mas não o reconhece de imediato. Ao entardecer, um pelotão de legionários cerca o casebre em que Corvino medita. O martírio supremo de Varro ia começar. Ao ser interrogado de conúbio com a seita maldita dos nazarenos, Corvino responde que não vê maldição nenhuma em ser amigo da fraternidade, do serviço, da bondade e do perdão. Álcio irritado debocha dando a entender que seu destino está na mão dele, mas Corvino tranqüilamente confronta respondendo que o poder transitório de tal legado está nas mãos dele, mas o destino de todos pertence unicamente a Deus. Enquanto obediente a Cristo, ele não se importava de entregar-se às vontades de Álcio. Varro foi açoitado e levado para campo próximo donde seria decapitado na manha seguinte. Taciano sente inexplicável angustia, mas seu ódio aos nazarenos cristãos era maior do que qualquer outro sentimento que lhe rondasse.
Flávio Súbrio reconhece Varro e lhe pergunta se não teria sido melhor sua morte no mar. Varro cheio de fé responde que escravidão a Jesus é a verdadeira liberdade, enquanto a morte com o Mestre é a ressurreição para a vida imperecível. Em meio à assembléia popular que rodeou Varro no momento de sua execução, Flávio aparece gritando que também é cristão e dizendo claramente que deseja morrer junto de Varro para redimir de todos os erros já cometidos contra os seguidores de Jesus. Tido como louco, Flávio é retirado à força do local. Três golpes de gládio são desferidos em Varro e outros não se seguiram por ser proibido por lei o quarto golpe em qualquer caso de decapitação. Em seguida Varro é levado ao calabouço donde entregar-se-ia a morte lentamente. Posteriormente Flávio conta a Taciano como deixou Varro fugir em alto mar e revela que este em verdade é seu pai. Ninguém leva tal conversa a sério. Logo em seguida, Flávio se suicida pendurado às grossas vigas de madeira da câmara-prisão. Taciano resolve investigar o caso e vai visitar Varro. Percebendo toda a verdade, Taciano indignado pergunta como o pai suportou tanta crueldade, tendo em vista que seu padrasto Opílio mandou assassiná-lo para usurpar de seu destino junto a Cíntia, sua mãe. Varro responde-lhe que o amor a tudo suporta e perdoa. Diz-lhe que ser feliz ou infeliz depende unicamente de cada um, sendo os ignorantes muito mais sofredores do que aqueles que sofrem nas mãos destes. Em contínuas palavras reconfortantes de ensinamento cristão, Varro tem uma crise hemorrágica e falece após pedir aos companheiros espirituais que amparem Taciano. Silvano e o velho Corvino aparecem iluminados para levar Varro até Clódio, o qual celebraria seu retorno após as lutas terrestres. Varro diz que não conseguiu concluir sua tarefa junto de Taciano. Após congratulá-lo pelos sacrifícios enfrentados e a boa conduta enquanto encarnado, Clódio lembra-lhe que fora concedido um século para ajudar o filho, tendo assim grande saldo de tempo. No ano de 243, nasce Blandina, filha de Helena e Taciano. Desde cedo o pai lhe ensina a respeitar e admirar os deuses. Helena, a contra gosto de Taciano e da pequena Blandina, viaja com a filha para ela conhecer os avôs. No meio da viagem a pequena passa mal e retorna para casa nos braços do pai. A cada momento o amor de filha e pai se entrelaçava a um carinho doce e perfeito de quem tudo procura dar sem nada receber, que realmente se bastavam um ao outro. Taciano e a filha conhecem a jovem Lívia, a qual torna-se professora de Blandina. Para infelicidade de Helena, sua filha Lucila apaixona-se por Marcelo. Teódulo vai conversar com Helena e ao levar a resposta desta para Marcelo, cumpre o plano de servir-lhe vinho envenenado. Em seguida, Helena combina com Teódulo um plano macabro para Taciano e a filha. Os seguidores de Jesus, com mais rigor, eram apedrejados, presos, banidos ou exterminados sem compaixão. Helena manda uma carta para Taciano contando sobre as moléstias da primogênita Lucila e pede que ele vá ao seu encontro em Roma com Blandina. Galba torna-se o noivo de Lucila. Espetáculos de gala eram assinalados por terríveis flagelações. Interrogatórios cruéis terminavam com revoltantes execuções, incentivadas por longos aplausos. Helena diz para Lívia ter calma e conta que seu pai foi morto nos cavaletes de suplicio. Helena se suicida. Célso, reencarnação de Varro e filho adotivo de Taciano, fala-lhe sobre o cristianismo, tocando exatamente nas suas antigas duvidas interiores. Opilio morre. Lucila toma rumos totalmente amorais. Blandina e Celso a cada dia reafirmam ser cristãos fervorosos e Taciano, na posição de pai, não lhes contraria os sentimentos. Durante uma competição na arena, Taciano fica cego. Blandina falece. A união e amizade entre Taciano e Celso aumentam a cada dia. Taciano procura a filha Lucila, mas esta friamente manda os guardas expulsarem-no. Humilhados e mudos, Taciano e Celso, de corpo fatigado e dolorido, são trancafiados em velhos subterrâneos do Esquilino, os quais jaziam repletos de escravos cristãos e mendigos infelizes, considerados como trânsfugas sociais. Durante tanto transtorno, Celso vai aos poucos fazendo Taciano compreender a realidade dos ensinamentos de Cristo. O fim de ambos é ser abocanhado por leões, touros bravios e panteras. Mas o especial é conferir que eles morrem juntos rezando apenas a um deus: Jesus. Já despojados do corpo, pai e filho se abraçam junto a todos os demais falecidos cristãos como Corvino, Silvano, Blandina, Basílio, Rufo, Lívia e tantos outros. A luz da liberdade e do dever vitoriosamente cumprido espalhava-se pelo ar...
Realmente o amor é capaz de tudo, até mesmo de tocar os corações mais endurecidos e mudar as mentes mais inflexíveis!