felipeabeijon 25/07/2023
Francine Prose não traz grandes novidades, mas exemplifica como poucos. Lendo algumas resenhas, percebi alguns aborrecimentos quanto a estrutura do livro, que seria muito repetitivo com as suas dezenas de exemplos - o que é irônico frente ao que Prose propõe: ter como professores os escritores, a partir de uma leitura atenta. O seu livro se constrói a partir disso - não poderia ter sido feito de outra forma. Se não houver interesse na leitura atenta de forma prática, é melhor ler os primeiros e últimos parágrafos de cada capítulo e marcar o livro como "lido".
Gosto da crítica aos cursos universitários e a uma leitura "domesticada". Como estudante, concordo com muito do que a autora diz - faz parte de algumas das minhas crises. Mas não divido um certo "desprezo", que ela parece ter, às leituras que levam em conta além do que está nas páginas, como questões culturais, sociais, políticas; só penso que são pontos de vista diferentes, com objetivos diferentes e igualmente importantes. Ler atentamente um Gógol, por exemplo, pensando em narradores, personagens, nas suas frases e parágrafos, na sonoridade! etc., é uma maravilha - mas entender a sua obra no contexto do Império Russo, da "formação" de uma prosa russa, da censura etc., é igualmente maravilhoso.
Do histórico de leituras: Comecei a ler esse livro hoje. Tem sido uma leitura bastante íntima - como ouvir uma pessoa que se desenbestou a falar sobre um assunto que ama. A noção de que praticar a leitura atenta é, na verdade, reaprender a ler como fazíamos antes de nos esquecermos é interessante e, de certa forma, corrobora com a sua forte crítica aos meios acadêmicos - esquecemos ou nos fizeram esquecer? O seu posicionamento frente à academia me pegou num momento em que eu mesmo tenho a questionado - tenho me sentido num desses "cursos destinados a produzir formandos que pudessem dizer que haviam lido os clássicos", em que lemos tudo de maneira superficial - fazemos o possível como estudantes.