Perto do coração selvagem

Perto do coração selvagem Clarice Lispector




Resenhas - Perto Do Coração Selvagem


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Vanessa.Castilhos 04/12/2023

Uma estreia premiada
Primeiro romance publicado por Clarice Lispector, em 1943.

Nesse romance de formação, Lispector desnuda o florescer de uma alma feminina, com seus anseios, individualidades, egoísmos, amores...

Poeticamente, através do fluxo de consciência, a narrativa faz com que o leitor se sinta muito próximo da personagem, completamente envolvido na esfera da sua intimidade.

Menina Joana: "- Ser feliz é para se conseguir o quê?" p. 27

Mulher Joana: "- Liberdade é pouco. O que desejo não tem nome." p. 67

Não foi uma leitura fácil, mas foi magnífica! Esse dissecar dos sentimentos da personagem é o que torna a leitura ainda mais maravilhosa!

Recomendo muito e aposto em uma releitura. ?

Livro premiado. Prêmio Graça Aranha.
Fabio 04/12/2023minha estante
Lindíssima resenha, Van!???
Parabéns!!!


Bruno 04/12/2023minha estante
É o meu favorito da Clarice Lispector. Acho de uma beleza ímpar.


Débora 04/12/2023minha estante
Ah, Vanessa, que resenha belíssima! Li para o vestibular e já nem me lembro mais. Vc me fez querer reler essa obra. Hj consigo entender a Mulher Joana


Débora 04/12/2023minha estante
?????


Carolina165 04/12/2023minha estante
???????????


Vanessa.Castilhos 04/12/2023minha estante
Fabio, meu amigo, muito obrigada pelo carinho!! ???


Vanessa.Castilhos 04/12/2023minha estante
Bruno, fazia muito tempo que eu não lia um livro dela, realmente é de uma beleza ímpar!! ?


Vanessa.Castilhos 04/12/2023minha estante
Débora, querida, muito obrigada!! ?? Hoje, conseguimos ter uma outra visão dessa leitura mesmo, maravilhosa!! ???


Vanessa.Castilhos 04/12/2023minha estante
Obrigada, Carolzinha!! ??


AndrAa58 05/12/2023minha estante
Linda resenha! Acredita ué nunca li Clarice? Estou perdendo, não é?


Vanessa.Castilhos 05/12/2023minha estante
Obrigada, Andréa!! É daquelas leituras que exigem, mas sempre te recompensam no final! ??




Emmanuel 22/09/2009

Há (muitos) momentos na história em que os pensamentos dela são idênticos aos meus, coisas tão únicas, tão íntimas que eu me surpreendo.
Lia Costa 18/02/2010minha estante
É exatamente assim que me sinto ao ler esse e outros livros de Clarice Lispector, mas especialmente esse.


Herick 15/12/2013minha estante
Alguém, cujo nome não recordo, já disse que quanto mais individual o pensamento, a experiência ou o conhecimento, mais universal. Não é de se admirar que Clarice, tão intimista, dialogue tão profundamente com os leitores.


Rodrigo 29/03/2014minha estante
Acho tão demais ter encontrado gente que se identifica com a Clarice nesse site (: já até perdi a culpa que sentia de ler os textos dela sorrindo na sala de aula.


Lars 15/10/2020minha estante
Anos depois de vocês terem lido, venho aqui em 2020, lhes afirmar que compartilho impetuosamente do mesmo sentimento!


Giovanna.Silva 09/11/2021minha estante
sim!


gdbarcelos 11/11/2021minha estante
Verdade


Jéssica 06/01/2022minha estante
A gente lê Clarice ou Clarice nos lê? rsrs


Gael Góis 29/11/2022minha estante
Eu me sinto em casa com todos os conflitos inconscientes ( ou conscientes ) externalizados pela Clarice nesse aqui. A forma e o jeito que ela conduz a história e como isso vai moldando a tensão que o livro cria com o leitor é absurdamente devastador. A trajetória da Joana tomando conta de sua solidão, cara, é surreal ! Em contrapartida, a " rival " não fica muito atrás, aliás, um dos maiores pontos do livro, é o salto enorme que ela dá ao sentir, de certo modo, o que Joana sentia.


Silvio275 21/05/2023minha estante
Fui revisitar esse livro depois de 15 anos, havia lido pela primeira vez durante o ensino médio. Que ótima surpresa. Minha leitura foi outra. Outras interpretações, outras emoções, outras sensações trazidas pela maturidade que adquiri nesse intervalo. Clarice é fantástica, atemporal. Me perco, leio e releio diversas vezes os fluxos de pensamento dos personagens, quando eles se perdem dentro da própria cabeça e ficam divagando. É sensacional e, muitas vezes, cruel. Agora é hora de revisitar outras obras de Clarice.


Mayara724 14/06/2023minha estante
Sim!!!! Acontece o mesmo comigo. Impressionante!!!




Craotchky 31/10/2017

De profundis
"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome."

Comecei a escrever este texto. Logo percebi o quanto seria difícil. Aí desisti. Depois voltei. E acabei.

Este foi o primeiro romance de Clarice que li. Antes havia lido um livro de contos, Laços de família, que pouco chamou minha atenção. Sei lá, talvez os limites de extensão impostos pelos textos mais curtos impossibilitassem Clarice de atingir a intensidade/profundidade que ela consegue colocar num romance.

(Por favor, sou leigo em Clarice, pouco ainda li dela e não posso fazer afirmações; não sei se os outros contos e romances seguem esse padrão. Em suma, não sei se todos os romances são mais profundos do que os contos.)

Há, neste livro, uma inundação de metáforas abstratas. Para quem gosta, como eu, é um prato cheio. Clarice explora, e muito, o interior das personagens, não seu exterior. Às vezes é como se o enredo servisse somente como pretexto para ela (Clarice) mergulhar nela mesma, falar de si e de suas impressões do mundo ao seu redor. Ao menos tive essa impressão em vários momentos. De vez em quando ela sai da terceira pessoa e vai para a primeira e isso me pareceu corroborar com essa impressão.

É mais ou menos assim: Imagine que Clarice lhe pega pela mão e o conduz para um passeio por uma praia paradisíaca. Em certo momento ela lhe leva para a água, para um banho relaxante e renovador. De repente ela some e deixa você sozinho, em alto mar. Você começa a ficar desorientado. Agora você já não sabe onde está nem como chegou lá. O mar se agita, ondas enormes se formam; você está agora num caótico oceano de metáforas, analogias, divagações, devaneios.

Por vezes eu mergulhava, afundava, submergia, e então abria meus olhos lá embaixo e conseguia ver, mas nunca com clareza, limpidez; sempre via através da água turva, nebulosa. Outras vezes faltava-me ar e então eu subia, emergia, e ficava à deriva, boiando, sem saber se conseguira atingir as profundezas mais inacessíveis do texto.

O final me pareceu uma névoa espessa, disforme, um borrão. Estava como que dopado, embriagado, alheio, afogado pelo oceano de Clarice.

Enfim, Clarice não é para qualquer um, é preciso ter sensibilidade, capacidade para abstrair, divagar; é necessário um distanciamento do real, do material, do sólido, do concreto. É preciso prender a respiração, mergulhar, ir o mais fundo que conseguir, e abrir os olhos lá embaixo. Tentar ver algo.

Não é fácil.

E pensar que este livro foi escrito quando ela tinha algo em torno de vinte anos...

"Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais."
Josimar 31/10/2017minha estante
"E pensar que este livro foi escrito quando ela tinha algo em torno de vinte anos... "

caraca, fiquei ate com vontade de ler alguma coisa dela, eu só li tambem laços de familia e meio q me afastou dela


Craotchky 31/10/2017minha estante
Precisa pegar um romance, um texto maior dela. É uma experiência e tanto. Como disse, não sei se todos são como este. Ainda assim vou correr atrás de A paixão segundo G H.


Ruth 01/11/2017minha estante
Nunca li nada dela, mas agora deu vontade. Ótimo texto, conseguiu chamar minha atenção.


Craotchky 01/11/2017minha estante
Obrigado. Faça uma tentativa, mas não se condene se não gostar.


Ruth 02/11/2017minha estante
;-)


Raela 13/04/2021minha estante
Eu amoooo! Sim, é um dos romances mais difíceis da Lispector. Nessa mesma pegada tem Água Viva, também muito bom


Craotchky 13/04/2021minha estante
Também já li Água viva e adorei. Apenas não lido bem com a produção de contos dela, embora tenha lido poucos por enquanto.


Mano Beto 14/02/2024minha estante
Terminei ontem. Impressionado. Interessante saber que foi seu primeiro livro dela. Como eu comecei por Paixão Segundo GH, fiquei com receio. Mas logo que comecei a ler, passou o receio e veio o "Mulher, o que você faz com essas palavras?"
Joana é "porreta" né? Além das reflexões citadas por você, que é uma característica da autora, Joana tem diálogos incríveis. Já falei isso em outro comentário seu, mas faço questão de repetir - você escreve muito bem!


Craotchky 14/02/2024minha estante
Fico muito grato por um comentário tão elogioso, Mano. Este livro me é muito especial pois foi meu primeiro dela. Ele me abriu uma nova modalidade de literatura, de lidar com a linguagem. Tanto que foi minha maior influência em estilo de escrita para eu escrever Nemo, nós e outros eus. Ainda que eu não lembre de detalhes do enredo, guardo comigo as impressões afetivas que ele me causou.




Amanda 16/09/2021

Macabéa que me desculpe...
Mas Joana me arrebatou por inteiro. Suas inquietações e procura por si mesma durante a narrativa são potentes, causando um misto de sentimentos, entre a angústia e a satisfação. A ânsia de Joana por SER, independente do ter e dos outros, é uma inspiração para os corações selvagens perdidos por aí, também em busca de si mesmos em completude. Que mulher! (Personagem e autora!) Novo favorito da Clarice. ?
re.aforiori 19/09/2021minha estante
Clarisse é minha romancista nacional preferida.
E sinto que o melhor dela ainda me está por vir.

Este é um dos livros dela que ainda não li...

Pretendo ler a obra toda dela... ?

???


Amanda 19/09/2021minha estante
Superou a Hora da Estrela pra mim. Eu amei! Clarice é demais!


Alê | @alexandrejjr 28/10/2021minha estante
Primeiro livro da Clarice que li. Gostei muito. Talvez seja a estreia mais potente da nossa literatura no século XX.


Amanda 28/10/2021minha estante
Concordo! Ela é demais ?


Douglas Finger 08/01/2022minha estante
Eitaa, subindo este livro para o topo na minha lista de leitura da Clarice!!


Amanda 08/01/2022minha estante
Boa! Não vai se arrepender! ?




Vitória Marcone 20/08/2019

Não sei como só li Clarice agora, mas sinto que, talvez, tenha sido esse o momento certo.
A sensação é de que ela fala a nossa alma. Foi amor à primeira leitura.
Ela traz à tona os pensamentos, o conhecimento de si mesmo, os significados das vivências que temos, a solidão, a vida, a morte... revira questões que preferimos, muitas vezes, deixar guardadas.
Temas como casamento, maternidade, fidelidade, a figura da mulher na sociedade, a feminilidade, o bem, o mal, o eterno... também são aqui questionados por ela.
Pessoalmente me identifiquei demais com Joana, em diversos aspectos, e penso que, apesar de ter lido Clarice tardiamente, esse tenha sido o momento certo de ter feito sua leitura.
Perto do coração selvagem, primeiro romance de Clarice Lispector, publicado em 1943, foi para a lista dos meus livros preferidos e já quero ler outras obras da autora.

@marconevb #leiturasdavibs
Preto, preto, pretinho... 20/08/2019minha estante
Clarice tem sempre o tempo dela em nós!


Vitória Marcone 20/08/2019minha estante
Pois é, Di, tô amei demais.


Vitória Marcone 22/08/2019minha estante
Pois é, Di. Amei demais.


Everton Vidal 30/07/2021minha estante
Que legal!


Vitória Marcone 30/07/2021minha estante
Éverton, eu amo demais esse livro.




Anaju 02/08/2021

Passe reto
Olha, se tu quer ler Clarice não começa por esse. Na verdade, ignora esse, não lê nunca.
A Joana é doida, tipo real, a gente não entende nada da cabeça dela e só tem isso em 90% do livro. O Otávio é um homem o que já explica esse ser um belo de um bosta.
No fim tu vai se perguntar o que foi que aconteceu e não vai ter resposta.
Robs - @biblioteca.paralela 16/08/2021minha estante
Qual livro dela recomenda para iniciar?


Anaju 16/08/2021minha estante
Eu não li muito, mas gostei de "A hora da estrela", é meio estranho do jeito Clarice de ser estranho, mas a história tem sentido. E claro, a escrita é sensacional


Robs - @biblioteca.paralela 18/08/2021minha estante
Vou tentar ler esse, nunca li nada dela e estou perdida de por onde começar. Obrigada!!!


Bia 23/08/2021minha estante
EIIIIIIIIIIIIIIIIII


Anaju 23/08/2021minha estante
Você sabe que foi péssimo!




Alê | @alexandrejjr 18/11/2020

Clarice, poético mistério

O estranhamento é algo que consome os leitores de Clarice Lispector. Entendê-la não é uma opção simples e viável, mas possível. Ainda bem. É essa abertura escassa, essa falta de preenchimento sentido durante a leitura que faz dela uma escritora única.

Clarice sabe como ninguém fazer do cotidiano algo extraordinário. A capacidade dela em conduzir o leitor é magistral. É fácil se perder entre o “eu” e o “nós” da narrativa. A história de Joana, por exemplo, é sobre uma mulher com muitas camadas, de uma indefinida liberdade e que não entende como os rótulos mundanos funcionam. Uma personagem especial, complexa, como a boa literatura demanda.

A essência da mulher em Clarice é uma espécie de desnudamento de si mesma. É muito interessante pensar que a Joana dos anos 1940 encontre ecos na mulher contemporânea. A nossa personagem principal mostra a presença de uma força incontrolável das mulheres, uma força exclusiva do feminino que os homens não entendem, que eu não entendo, e isso é fascinante. Ao mesmo tempo que trata o feminino com tanta propriedade, Clarice, ao seu modo, quer mostrar as profundezas do humano e para isso busca entender como o interior interfere em nosso exterior, exigindo também, portanto, uma participação ativa dos leitores.

“Perto do coração selvagem” é uma estreia incomparável para quem pretende algum dia escrever. É como se o desejo de se expressar ganhasse materialidade, algo realmente impressionante para um primeiro livro e também para uma primeira leitura. Gostei particularmente dos capítulos “A pequena família” e “Lídia”, onde muita coisa acontece no meio das palavras com uma intensidade que não estou acostumado. Com certeza é uma autora que deve ser lida e, mesmo que seja hermética em determinados pontos de seu texto, Clarice será sempre um poético mistério para nós, leitores.
Maria 19/11/2020minha estante
Clarice é pureza,realismo e sinceridade! ?


Alê | @alexandrejjr 19/11/2020minha estante
Ela é isso e muito mais, Maria Eduarda, muito mais! ?


Fabricy 11/10/2021minha estante
Adorei sua resenha! Estou lendo e você conseguiu transmitir os sentimentos do leitor com a genialidade dela! Parabéns!


Alê | @alexandrejjr 11/10/2021minha estante
Obrigado por ter lido meu singelo texto, Fabricy! Fico muitíssimo feliz que tu tenhas te identificado de alguma maneira.


Fabricy 11/10/2021minha estante
????




Luciana 02/11/2020

Não é o meu tipo de leitura
Obviamente eu sabia onde estava entrando quando comecei a ler Clarice Lispector. Mas me propus um desafio, sair da minha zona de conforto literária. E cheguei a conclusão de que realmente essa leitura introspectiva, intimista, filosófica, não é pra mim! Não sou uma pessoa que tenha questões filosóficas complexas, a vida é como ela é e simples assim. Claro que temos de pensar na época na qual o livro foi escrito, quando as mulheres eram ainda mais oprimidas e deveriam aceitar o papel de boa esposa e mãe. De lá pra cá, ainda temos muito pelo o que lutar, mas tivemos avanços e já não precisamos ser apenas esposas e mães.
Assim, apesar de não ter me identificado com o estilo de escrita e não ter entendido a maioria das reflexões, surpreendentemente, gostei do final.
Jorge 04/11/2020minha estante
Que sincerona, haha.


Jorge 04/11/2020minha estante
Eu gosto da personalidade da escritora, tenho curiosidade para conhecer a literatura que ela produziu, mas sinto receio por todas as razões listadas na sua resenha. Mas vou encarar o desafio um dia. Vou sim.


Luciana 04/11/2020minha estante
Oi, Jorge. Ah, resenha é pra falar, né? Mas tenta ler sim. Quem sabe você se identifica. Comigo não casou. Pelo menos tirei a dúvida.


Marcela 29/11/2020minha estante
Olá Luciana!
Gostei muito da suas impressões da leitura...
Estou tentando... No começo ainda!
Abraço


Luciana 29/11/2020minha estante
Oi, Marcela. Tente sim, vale a pena. Talvez você compreenda mais a complexidade da autora. Abraços




Ana Sá 18/07/2022

A Clarice me bagunça toda!
Em 'Perto do Coração Selvagem' temos a história de Joana, uma mulher de classe média que vive uma infância e um casamento com certas atribulações. Eu não quero detalhar o enredo porque se trata de uma narrativa não linear, então faz parte do jogo ir encaixando os elementos da história aos poucos. Inaugurando aquilo que se tornaria a digital literária de Clarice, o livro ganha corpo com os monólogos interiores da protagonista, que nos conduzem a reflexões, a devaneios, e quem sabe a alucinações, envolvendo temas como amor, vida, morte, existência, infância, casamento. Contudo, diferentemente do que vemos (bem depois) em 'A Paixão Segundo G. H.', por exemplo, a viagem rumo a si de Joana é bastante marcada pelas pessoas que insistem em cruzar o seu caminho, o que nos leva a um transitar constante pelo interior, mas também pelo exterior da personagem. E aqui se tem uma performance do eu, da intimidade, que chegou a me deixar constrangida em alguns momentos, e não por moralismo, mas por culminar numa identificação incômoda. Joana expõe seus sentimentos de uma forma que poderia soar despropositada ou condenável se não fosse o fato de que também nós podemos chegar (ou chegamos) a isso quando deitamos a cabeça no travesseiro ou quando observamos a vida em silêncio. "Não se pode pensar impunemente", ela sabe, mas encara essa máxima sem medo e sem castigo. E eis que a leitora aqui se viu alternando a leitura do romance entre gritos de "Mas essa Joana é totalmente sem noção!" e sussurros de "No fundo, lá naquele lugar onde só chega a nossa própria voz, será que não somos todas um pouco selvagens, tal qual Joana?".

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto mas o que eu digo".

Nunca é demais lembrar que 'Perto do Coração Selvagem' é o livro de estreia de uma Clarice que à época estava na casa dos 20 e poucos anos (e não é fácil se acostumar com essa informação!). Ele foi lançado em 1943, mesmo ano em que Antonio Candido não hesitou em publicar o famoso ensaio "No raiar de Clarice Lispector", no qual afirmou que aquela escritora, que ele até então desconhecia, poderia vir a se tornar "um dos valores mais sólidos" e "originais" da literatura brasileira. Crítica especializada ou profecia?

Das escolhas feitos por Candido para descrever o romance, gosto particularmente desta passagem: "o seu ritmo é um ritmo da procura, de penetração que permite uma tensão psicológica poucas vezes alcançada em nossa literatura contemporânea".

'Ritmo da procura' e 'tensão psicológica'. Para mim, este é o nome e sobrenome da escrita de Clarice, não apenas neste, mas também em muitos dos romances que viriam depois. E, sim, trata-se de um estilo desafiante na mesma medida em que é encantador. Por isso, se eu pudesse dar um conselho a quem tem medo e vontade de desbravar a Clarice romancista, eu apenas diria: 'Só vai! Se joga daí que a personagem se joga de lá!'.
@voulerdenovo 18/07/2022minha estante
O meu favorito dela? ??


dani 18/07/2022minha estante
Que resenha deliciosa, Ana!
Não consegui aproveitar muito esse livro, infelizmente. Li tentando "entender" e não consegui me jogar na leitura.


Cleber 19/07/2022minha estante
Adorei a resenha ?


Ana Sá 20/07/2022minha estante
Obrigada, Cleber! ?

Alba, estou disposta a ler os romances dela que não li, pra ver se algum desbanca A Maçã no Escuro, meu favorito rs... Mas gostei muito deste tb!


Ana Sá 20/07/2022minha estante
Dani, às vezes não era o momento certo pra leitura... Comigo rola isso! Voltar um tempo depois e ter outra visão... Quem sabe vc volta pra Joana!! rs




Flavia_Lo 27/02/2024

Como pode, tantas palavras confusas fazerem tanto sentido?
Esse é o primeiro lançamento da Clarice e ela já chegou metendo os dois pés na porta.

Os livros dessa diva não são para todas as pessoas ou pra quem está na ressaca literária, os fluxos de pensamento da personagem vão e vem, no meio dos acontecimentos, por isso a história pode ficar um pouco confusa aos olhos pouco acostumados.

Além disso, ela conta do passado e do presente sem sinalizar, então se você estiver desatento vai acabar se confundindo.

Mas nessa história completamente fascinante, nós acompanhamos a vida da Joana, que é uma mulher de classe média, com um casamento estável e um passado repleto de abandono.

Mesmo tendo essa vida muito almejada, ela não é feliz e a partir do momento em que ela percebe isso, ela resolve buscar a felicidade em algum lugar, para que assim ela se sinta realmente realizada.

Enfim, ainda prefiro "Água Viva", mas fiquei completamente fissurada enquanto observada e acompanhava todo o passado da Joana, a forma com que ela lidava com situações traumatizantes e caóticas, como ela se moldou para se encaixar melhor.

Talvez a vida seja mesmo uma eterna busca por felicidade, por we sentir vivo.
Fabio 27/02/2024minha estante
Resenha impecável, Flavinha!?
Concordo contigo em todos os pontos!
E também prefiro "Água Viva"???
Parabéns minha querida!???


Flavia_Lo 27/02/2024minha estante
Obrigada Fa ??
Eu penso bem mais em "Água Viva", as vezes me deito pra dormir e penso: "Minha pequena cabeça tão limitada estala ao pensar em alguma coisa que não começa e não termina? porque assim é o eterno." ??
Clarice sempre aluga um triplex na minha mente KKKKKKKKKK


Fabio 27/02/2024minha estante
Kkkkk pegando licença na sua analogia, acho que ela aluga um bairro inteiro na minha, Flavinha kkkk


Flavia_Lo 27/02/2024minha estante
Os livros dela são super curtinhos, mas eu leio super devagar, fico saboreando cada palavra e pensando em tudo kkkkkkkk




Gabrielle 31/05/2023

Experiência de leitura introspectiva
No início foi difícil encarar um livro tão subjetivo, e introspectivo. Os pensamentos de Joana são os acontecimentos do livro e por isso a leitura não é tão fácil.
Mas depois de um tempo vem a adaptação e a experiência de leitura é espetacular.
Lendo este livro cheio de pensamentos absortos, percebi que há muito tempo eu parei de pensar profundamente. Meus pensamentos são menos profundos e são menos "meus". Não sei se a demanda da vida adulta fez isto, ou o acesso à tecnologia 24h por dia, ou os dois.
Essa experiência de leitura, que nos faz olhar pra dentro de nós enquanto lemos algo "fora de nós" é impagável!
almeidalewis 02/06/2023minha estante
Adorei ? sua resenha ???


Gabrielle 03/06/2023minha estante
Obrigada! ?


almeidalewis 03/06/2023minha estante
Adorei essa questão posta de pensar profundamente...??


Gabrielle 04/06/2023minha estante
Por isso a leitura é tão importante, se eu não tivesse lido este livro, talvez eu não perceberia isso.
Fiquei na dúvida se foi a vida adulta ou o smartphone que me fez "parar de pensar". Pra mim as duas coisas aconteceram ao mesmo tempo.




Marcinhow 05/04/2022

Víbora
Joana e seu desamor pela humanidade, seu asco por contato, sua sede por algo maior que a liberdade me conquistou novamente.
Clarice Lispector já começou com os dois pés na porta, e para mim, é sempre um prazer reler suas obras!
Francisco240 07/04/2022minha estante
Super recomendo a biografia dela escrita pelo Benjamin Moser


Marcinhow 08/04/2022minha estante
Está na minha lista, mas meu professor de literatura brasileira diz que a biografia escrita pela Nádia Battella Gotlib é bem mais cuidadosa...


Francisco240 08/04/2022minha estante
Bem, então talvez eu tente ler essa tal biografia, mas minha recomendação por hora é essa. E Moser tem uma escrita maravilhosamente cativante e lírica; e em alguns momentos me cativou como Agatha Christie e me deixou deslumbrado com o lirismo da prosa como Vladimir Nabukov.


Marcinhow 08/04/2022minha estante
Recomendação acatadissima! ?




Fernanda.Rettore 21/08/2023

Explorando o Íntimo e o Indomável
"Perto do Coração Selvagem" é o primeiro romance escrito por Clarice Lispector, publicado em 1943. A obra retrata a vida de Joana, desde sua infância até a idade adulta, e explora os sentimentos e as experiências de uma mulher em busca do autoconhecimento.

A história é narrada de forma não linear, alternando entre o presente e flashbacks de memórias de infância de Joana. A protagonista é uma mulher introspectiva, que enfrenta conflitos internos e luta para compreender suas emoções e desejos.

Através da narrativa intensa e psicológica, Lispector explora as camadas complexas da mente de Joana e suas interações com o mundo exterior. A personagem enfrenta uma série de eventos marcantes, como a morte da mãe, o casamento problemático e a busca incessante por um sentido para sua existência.

"Perto do Coração Selvagem", é uma obra poética, que ao abordar temas como a solidão, a estranheza, o amor e a liberdade, explora as fronteiras entre a razão, a emoção e a loucura. E, inevitavelmente, nos faz refletir sobre a complexidade do nosso próprio "coração selvagem" e a questionar nossas relações com o mundo e com nós mesmos.
AndrAa58 21/08/2023minha estante
Adorei sua resenha. Agora vou ter que ler ?


Fernanda.Rettore 22/08/2023minha estante
Obrigada, Andrea! Eu amo esse livro esquisito, intenso e surpreendente. Quase não dá pra acreditar que foi o primeiro de Clarice ??


Marcilio Duarte 25/08/2023minha estante
Se lermos a biografia escrita pelo Benjamin Moser, entendemos que muitas peças da vida de Clarice se encaixam e que o livro é autobiográfico. Na feira que estou organizando, vamos ter a Teresa Montero, biografa mais recente dela




hugaoo 16/08/2010

Registro de Impressões
Romance psicológico não-cronológico. A leitura pode ficar realmente densa em algumas partes e o leitor precisa estar preparado para momentos de até não-entendimento. Acho que, em relação a isso, talvez tenha sido este o motivo de Clarice já ter sido chamada de hermética por alguns. Embora sua poesia em prosa não seja hermética, de fato. Já ouvi dizer que ler Clarice é permitir deixar submergir e afogar-se em pensamentos alheios que te desnudam e descortinam um mundo de emoções cotidianas (nem sempre agradáveis). É flagrar-se nu em plena avenida pavimentada com a poeira do egocentrismo humano e banhada um por sol de individualismo sufocante.

Impressões pessoais:

Clarice não convence quando diz de Joana uma cruel. Na verdade, é como se ela quisesse proteger Joana usando as impressões errôneas que ela passa aos outros. Como numa espécie de justificação da personalidade excêntrica de sua personagem que pode ser confudida com crueldade, com vileza. Ainda quando criança, Joana é chamada de víbora pela tia por ter roubado um livro e não mostrar nenhum arrependimento. À maneira que Joana discursa, pode-se até visualizar características psicopáticas (completa ausência de culpa) na menina.
Joana tem um pouco de Ângela Pralini e Loreley, mas, possivelmente, nada de Macabéa. Encontra-se a fêmea à espera do homem como no aprendizado de Loreley. E até mesmo o mar é mencionado como sendo de profundo conhecimento de Joana, assim como sabemos que a origem de Lore é marítima, sereia que é.

Frases inesquecíveis:

"Joana procurou analisá-los, sentindo que assim os destruiria". Acho que foi nessa frase em que Joana virou, de longe, minha anti-heroína esférica favorita! Quem é Macabéa depois de Joana, quem?

"- Conheço-a, sei quanto é firme sua maldade." - Lídia sobre Joana em encontro decisivo.

"Às vezes, no entanto, talvez pela qualidade do que dizia, nenhuma ponte se criava entre eles e, pelo contrário, nascia um intervalo". Sobre as formas de se comunicar de Joana com Otávio. Perspectiva interessante e que me identifiquei completamente. Joana fala sinceramente sobre como é interessante conversar e "deixar um passarinho subitamente voar", apesar de não achar Otávio "estimulante".

"Sempre arranjava um jeito de se colocar no papel principal exatamente quando os acontecimentos iluminavam uma ou outra figura". Joana egocêntrica? Até aqui ainda não tinha visto nada.

"A certeza de que dou para o mal, pensava Joana. (...) Não era no mal apenas que alguém podia respirar sem medo, aceitando o ar e os pulmões? Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal." Fiquei quase atordoado com essa confissão de Joana, mas logo mais, ela:

"(...) a bondade me dá ânsias de vomitar".
Yuri 06/12/2013minha estante
Parabéns pela resenha, acho que você definiu com palavras certeiras o que é afinal Clarice, uma escritora de alma super-sensível, capaz de mergulhar na obscuridade da alma e lê-la por completa, um texto denso sim, porque denso é a alma humana, complexa ao cúmulo, indecifrável!


ItaloRangel 17/12/2013minha estante
Belíssima resenha cara! Como eu respondi a uma pessoa um pouco abaixo, achei Joana com a postura filosófica muito parecida com a de Brás Cubas! Eles tinham vários pensamentos semelhantes sobre a insignificância do ser humano e divagavam pra caramba!


Débora 13/11/2014minha estante
"Quem é Macabéa depois de Joana, quem?" (2)




Aécio de Paula 12/02/2020

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
Esse primeiro romance da Clarice, publicado em 1943. É intenso, bastante subjetivo, instigante, sem surpresa para quem curte a autora. Tive que ficar relendo vários parágrafos para entender as entrelinhas. Além da metáfora, símile, a escritora abusa da figura de linguagem chamada sinestesia, uma mistura de sentidos humanos, do tipo, “um silêncio amargo invadiu a sala”. Esse monte de conotações literárias me cansaram um pouco! Não foi uma leitura fácil de assimilar e no meu entender a personagem, com tantos problemas psicológicos, deveria se internar e tomar rivotril a vida toda! Não sei quando vou ler o próximo dela.
Daniel 12/02/2020minha estante
Puxa! Pretendo começar Clarice por este, mas já não sei se é uma boa ideia rs.


Ygor Gouvêa 12/02/2020minha estante
Adorei esse e toda sua linguagem. Me fez sentir todas as suas relação com as coisas, seu estranhamento e maravilhamento, suas sensações. A leitura é cansativa sim, mas muito rica, o que pra mim enriqueceu muito o livro, dado todas as suas camadas e sensorialidade.


Ygor Gouvêa 12/02/2020minha estante
Definitivamente n é livro pra uma leitura passiva, dada a toda sua simbologia. Pra mim foi bem recompensador, tanto q entrou nos meus favoritos.




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