Juliana.Giacobelli 17/04/2012Um livro sobre o poder das históriasResenha originalmente postada em http://julianagiacobelli.com
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"Os senhores das fadas são imortais; aqueles que tem canções, baladas e histórias escritas sobre eles nunca morrem. Crença, idolatria, imaginação; nascemos dos sonhos e medos dos mortais, e se somos lembrados, mesmo que seja bem pouco, existimos para sempre."
Meghan Chase sabe que há alguma coisa errada com seu mundo desde que seu pai desapareceu sem deixar rastros, dez anos atrás. Essa desconfiança só se intensifica quando seu meio-irmão de quatro anos, Ethan, parece repentinamente… diferente. Violento, respondão, nada parecido com a personalidade doce do menino, ele parece até mesmo ameaçador.
E é quando Meghan descobre que, na realidade, aquele não é Ethan. É um Changeling, um encantado vindo do mundo das fadas que foi colocado em seu lugar… Mas então, onde está seu irmão?
Com a ajuda de seu amigo de infância Robbie – que na verdade é Puck, aquele de Sonhos de Uma Noite de Verão – Meghan decide ir até o Nevernever, lar dos encantados, para resgatá-lo das garras de quem quer que o esteja mantendo em cativeiro. Lá, ela descobre profundos segredos sobre sua vida, sobre os governantes das cortes de Verão e Inverno, e conhece um jovem Príncipe, frio como o gelo, marcado por dores do passado. É claro, também faz um punhado de inimigos, prontos para matá-la sem o menor remorso.
A questão é, será que Meghan conseguirá salvar Ethan de seu raptor? Será que ela abrirá mão de sua própria liberdade e aceitará sua verdadeira natureza para levá-lo de volta? Será que conseguirá derreter o coração de gelo de Ash, o príncipe de Inverno? E, principalmente, será que conseguirá salvar Nevernever da descrença humana?
O Rei do Ferro foi uma belíssima surpresa. Comecei a ler sem nenhuma expectativa, só porque estava no clima de literatura fantástica e ele me olhava da minha estante. E, adivinhem? Me apaixonei pelo livro.
Se tivesse que compará-lo com outros livros que já li, diria que é uma mistura bem feita de Percy Jackson e Filha da Tempestade. O tema, fadas, e o modo como é abordado – além de algumas características da trama – lembram bastante a série Dark Swan da Richelle Mead. Já os personagens em si e a dinâmica dos capítulos – ágeis e engraçados – me fizeram lembrar de Percy Jackson. Se você gosta dessas séries, é um prato cheio.
A narração é feita em primeira pessoa, pela Meghan, e é muito simples e rápida. Mesmo com capítulos relativamente longos, as páginas voam, justamente por causa dessa dinâmica. Outra coisa que ajuda o livro a passar rápido, é que sempre tem algo acontecendo: Sempre há um encantado a ser enfrentado, um lugar de que eles precisam escapar, algo que eles precisam encontrar: Exatamente como em Percy Jackson. É um ritmo alucinante, que não para até a última página.
O livro tem bastantes referências a Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare, mas, se assim como eu, você também não leu, nãos e preocupe: É possível se situar facilmente na trama, e não é preciso conhecer os personagens previamente para entendê-los.
Aliás, os personagens… Julie Kagawa acertou em cheio em cada um deles. Meghan é outra garota durona, sem frescura, que tem medo, mas que vai atrás de seu irmão, custe o que custar. Ela me agradou muito e acho que nem cheguei a ameaçá-la de morte durante a leitura.
Puck é incrível. Ele é o personagem mais engraçado e sarcástico – mas sem ser arrogante – e acho que é meu preferido. Ele sempre consegue sorrir para tudo e, mesmo quando briga com Ash, nos faz dar boas risadas.
Ash… O que falar do Ash? Ele é um daqueles personagens frios e misteriosos, mas que você sabe que, no fundo, é apenas sofrido. Eu adoro personagens assim, então ele ma ganhou desde o início, porque tem uma história e um motivo para ser como é. A relação dele com a Meghan também é muito bonita, sem ser forçada em nenhum momento.
Aliás, esse é um ponto que eu gostei muito: Nada de amores instantâneos, e nada de triângulos amorosos – pelo menos por enquanto. O foco da história é nitidamente outro, e o romance é apenas parte do que acontece e, apesar disso, é muito gostoso de ler. É exatamente o tipo de trama que eu gosto, então vomitei arco-íris o tempo todo durante a leitura.
Uma das coisas que eu mais gostei foi a construção de Nevernever e a relação que ela tem com o nosso mundo: Nevernever é o resultado das nossas crenças e fantasias. Enquanto os humanos continuarem escrevendo e falando sobre fadas e todos esses seres mágicos, ela existe. Agora, que a ciência e a tecnologia querem provar a existência de tudo, Nevernever começa a ser destruída. A desaparecer. E é justamente contra esse monstro que Meghan, Puck e Ash precisam lutar. Para uma fã incondicional de literatura fantástica – que quase vive mais lá do que aqui – foi a sacada mais genial do mundo. Se eu pudesse, entraria lá e ajudaria os três também.
Mais uma vez, me deparei com um livro que nos mostra a importância das histórias e da imaginação humana. Porque Nevernever existe: Está em nossas prateleiras, entre páginas empoeiradas de livros de fantasia e filmes de ficção. Está em nossa imaginação e na capacidade que temos de acreditar naquilo que não precisa de explicação. Assim como Nevernever, o que sobraria de nós se tudo precisasse ser explicado e provado? Acho que não muito, não é?
Como Nevernever, nós também precisamos de imaginação e fantasia para sobreviver.