Charles Lindberg 11/03/2021
A melhor fantasia urbana que já li
Com um estilo muito simples e direto, a narrativa te agarra pelo pescoço e não solta mais.
O autor escancara suas claras influências em sutis referências e homenagens, mas que nunca distraem de seu papel principal de contador de histórias.
E esta é uma ótima história. Acompanhando os pensamentos caóticos de Harry Dresden, um mago/detetive particular, que casualmente trabalha como consultor para a polícia de Chicago, somos jogados num mundo paralelo ao nosso, onde magia e seres mágicos são tão reais quanto a Relatividade Especial de Einstein.
Não é um cenário original de forma alguma, todos já o imaginamos ou vimos em algum lugar parecido. A questão aqui é a execução.
O primeiro volume da ainda prolífica série The Dresden Files já é um livro muito maduro, que sabe jogar com as cartas que tem, e manter oculto o suficiente para permanecer consistente. Ele não chega descrevendo raios de poder ou escudos arcanos, nada que você veria numa mesa regular de D&D; ao contrário, trata-se de um suspense policial com raízes muito humanas.
Apenas quando nossos personagens são suficientemente desenvolvidos e críveis, e as mecânicas do sistema mágico parcialmente reveladas, as pequenas proezas do herói parecem tão naturais quanto dirigir um carro. Assim, de forma progressiva, até quando ele conjura um literal Escudo Arcano, nada parece espalhafatoso ou fora de lugar.
Da construção de mundo gradual às dinâmicas interpessoais verossímeis, Storm Front entrega excelência em tudo a que se propõe — inclusive como romance de mistério, com um senso de roteiro tão orgânico que simplesmente não poderia ser outra coisa.
Viver na cabeça do protagonista-narrador é um show aparte: Harry Dresden é um típico estereótipo de herói estoico, macho e cavalheiresco ("oldschool", como ele gosta de se descrever); exceto que, como acompanhamos seus pensamentos 100% do tempo, sabemos desde o princípio que ele é, na verdade, só mais um cara comum, que acontece de ser mago em vez de padeiro ou ginasta. A "pose" de Clint Eastwood é só isso: uma pose.
Com o boom de literatura fantástica no início dos anos 10 (por causa de Game Of Thrones), com várias editoras se atropelando pra trazer para o Brasil títulos de mais de 30 anos que já tinham rodado o mundo inteiro, e só aqui ninguém tinha ouvido falar — incluindo as próprias Crônicas de Gelo e Fogo, que começou publicação em 1996 —, eu NÃO COMPREENDO COMO ou POR QUE, EM QUE CIRCUNSTÂNCIA esta série não foi trazida pra cá ainda.
Talvez quando fizerem uma (nova) série de TV, quem sabe.
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